Colocar uma grande produção nas mãos de um apaixonado cego, faz com que a mesma tome um rumo desastroso, mas e se estiver na mão de alguém que não só ama, mas sabe o que está fazendo? É claro que estou falando da tão questionada Warner e seus filmes da DC Comics, mas para bom fã da cultura pop, já tem se mostrado a algum tempo que a Warner está mostrando serviço, e após a epopeia de Coringa, Patty Jenkins prova de seu talento e orquestra uma obra maravilhosa que não só supera o primeiro filme de Mulher Maravilha, mas engrandece ainda mais a personagem em heroísmo, poder e principalmente em representatividade.

Já explodiu nas redes sociais o velho argumento cansado que “finalmente a DC fez um filme bom”, se você ainda diz isso, ou você não assistiu os outros filmes da DC ou é só ódio gratuito, a verdade é que desde Aquaman a Warner têm provado que sabe o que fazer com a DC nos cinemas, um passado ruim não a condena para sempre, desde que saiba consertar as burradas. Com Shazam sendo um filme leve e Coringa sendo uma obra prima, futuros títulos da DC têm sido esperados por muitos fãs e enterrado a sete palmos o passado tenebroso que um dia foi o DCU nos cinemas, Mulher Maravilha 1984 não é só mais uma como a grande prova que nós podemos acreditar na Warner para futuros filmes da DC Comics.

Sem medo de entregar mais uma história antiga da princesa Diana, Mulher Maravilha 1984 trabalha o drama da solidão de Diana, o peso de nossas escolhas e suas consequências, tanto que o filme não se prende tanto na protagonista, Gal Gadot já provou ser uma excelente Mulher Maravilha, mas nós já conhecemos sua origem, aqui Patty Jenkins se viu livre para explorar algo novo, ou nem tanto. Uma trama bem clichê de quadrinhos, aquele tipo de história que mostra superação, luta épica, revelação de novos poderes, o super-herói se provando mais humano e o heroísmo tão esperado que empolga todo bom fã do gênero, parece simples, mas aqui a carga dramática é aumentada não só para Diana como também para o maior vilão do filme.

Maxwell Lord (Pedro Pascal), explora o típico vilão que a própria DC Comics gosta de explorar, um ser humano que cobiça riquezas e fama, famosa escola Lex Luthor de vilania, entretanto quando é bem trabalhado, se tem um ótimo vilão, e Maxwell têm tanto tempo de tela quando a própria amazona, inclusive se Pascal um dia foi uma promessa, hoje ele é uma certeza de ator, e têm tudo para ser um dos maiores nomes de Hollywood da atualidade. Ainda dentro da vilania, Cheetah (Kristen Wiig) foi até que boa, mas senti falta de algo mais bem trabalhado por trás do drama da personagem, não só foi algo muito superficial e mal feito como o motivo pelo qual ela se tornou Cheetah é de uma preguiça criativa estampada em forma de diálogo, isso é muito deprimente porque a personagem atuada pela Wiig têm seu carisma e salvou boa parte da personagem, que teve um fim bem melancólico dentro do roteiro, o que parecia ser algo grandioso; Cheetah não passou de uma fagulha na trama.

Porém o nome do filme é Mulher Maravilha, e mesmo perdendo alguns momentos de tela, prova-se em roteiro o porque é a maior heroína dos quadrinhos, das animações e também dos filmes, a Mulher Maravilha foi apresentada como um ser divino, no primeiro filme a rainha Hipólita destaca isso, não só antes como nessa sequência Diana prova sua grandiosidade, primeiro em poder, o modo como se usa o laço da verdade tanto para laçar quanto para chicotear, em alguns momentos como escudo, o laço da verdade se mostrou muito mais versátil e conseguiu superar até os braceletes, segundo em simbolismo, logicamente como representatividade feminina e também como a heroína que ela têm que ser, viver correndo de um ponto para outro salvando a humanidade de todo perigo possível, e por último a personalidade, uma heroína com poderes divinos não faz dela perfeita e isenta de falhas, a tentação e o desejo também transformam nossos heróis, e isso é simbolizado pelo Steve Trevor (Chris Pine) na trama, algo que eu critiquei a presença dele no anúncio e dentro da trama me fez engolir as palavras e pedir desculpas, a lição de moral não foi só para nós meros mortais, nesse filme nossa querida Diana também aprendeu uma lição, a qual engrandeceu ainda mais a Mulher Maravilha.

Queria eu só rasgar elogios para o filme, mas a Warner prova que nem tudo ela acerta, não só em Mulher Maravilha, como em Aquaman e Shazam as lutas finais não são só horríveis como manjadas, pensa que a DC têm sido cada vez mais colorida em fotografia, toda luta final acontece em lugar escuro, seja a noite ou tempo nublado, e sempre nesse momento acontece aquele CGI feito nas coxas que já nos é conhecido. Dessa vez não foi tão ruim quanto o Lobo das Estepes ou aquele Darkseid do trailer de Snydercut, mas a fama da DC a precede e com certeza nesse momento da luta final, algum frame da cena deve ter escancarado o quão boneco do PS2 a Cheetah deve estar, admito que nesse filme não me mostrou uma má renderização, mas continua sendo as mesmas lutas fracas de final de filme que já se conhece, por isso existe o julgamento. Por ironia o único que soube fazer uma boa luta final foi Zack Snyder em Homem de Aço e até em Batman vs Superman.

“Finalmente a DC fez um filme bom”, diria os amargos, eu já agradeço a Warner ao entregar mais um grande filme da DC, no padrão filme de herói que engrandece já uma gigante heroína, empolga em grandes momentos em que Diana cai para a briga e emociona nos momentos de escolhas e fragilidade de qualquer um dos personagens, mostrando que nada supera a verdade que guardamos dentro de nossos corações e não precisamos estar amarrados no laço da verdade para dizer isso, basta fazer o que Diana se mostrou em Mulher Maravilha 1984, mesmo em momentos difíceis, certas escolhas precisarão ser feitas para dar o próximo passo, essa escolha pode doer, mas te tornará uma pessoa melhor, assim como a DC têm se mostrado melhor a cada filme.