O primeiro semestre de 2019 está recheado de filmes cult (alguns que saíram no ano passado no mercado internacional), alguns mais engraçados e outros mais tristes.
Porém com aquela marca do filme profundo e com pegada lenta a ponto de ser chamado de chato pela massa, dessa vez temos aqui um filme argentino o qual explora a beleza feminina em um aspecto bem explícito o qual não esconde com truques de iluminação, posicionamento de câmera ou qualquer coisa referente a técnicas de gravação, o sexo, As Filhas do Fogo gera um debate um tanto complexo na sociedade, se pode ser chamado de obra de arte, ou de filme pornô.
Não é o que parece
Antes de mais nada, um adendo importante, o que será falado aqui é de um filme que está em cartaz, então não levem para lados políticos ou cristãos, pois a ideia desse filme é ser um cult da forma mais pura possível, e não um pornô leve (soft porn).
Duas mulheres viajam pelo interior, conhecendo outras mulheres as quais se envolvem sexualmente com elas, porém em nenhum momento isso se torna o objetivo, elas simplesmente viajam por pura insatisfação à vida monótona do dia a dia, ao decorrer do filme, mulheres variadas personalidades, etnias e sexualidade são envolvidas nessa viagem de conhecer novas pessoas e se entrelaçar em corpos para se tornar mais íntimas, além de explorar o corpo feminino, as mesmas usam sua união para defender aquelas que estão sendo submissas aos homens, mostrando que juntas conseguem vencer qualquer tipo de preconceito ou machismo existente no filme, e poderia dizer que a trama caminha para uma conclusão satisfatória, só que esse é a surpresa desse filme, ele não têm roteiro¹.
Se tiver um, ele se omite na fotografia artística que é mostrar o corpo feminino de forma explícita, com transa lésbica, masturbação feminina e narrações poetizadas, peito, bunda e vagina à mostra sem truque nenhum, mostrando a quebra de tabu a qual a mulher precisa esconder suas partes por ser vergonha ou um escândalo à sociedade, em As Filhas do Fogo, elas são livres para serem quem elas quiserem, se libertarem das amarras do patriarcado e explorar até o limite, simbolizado pelo orgasmo.

Exageros
A nudez feminina é tão presente em tela que acaba tomando todo o filme, nada a ver com prazer carnal por mulheres nuas transando, mas porque passa do ponto de manifesto da arte para interpretação e se torna algo tão esfregado na sua cara que se torna um exagero.
Colocando esse filme em debate, por mais cult que seja As Filhas do Fogo, esse filme é direcionado a um público alvo específico, cinéfilas lésbicas feministas, mesmo assim, não seria uma unanimidade dentro desse nicho, de exageros e falta de roteiro, faz esse filme uma verdadeira bagunça em questões de desenvolvimento, mas consegue se manter pela própria fotografia e a mensagem absorvida pelo que está sendo assistido.
Ainda sim, esse filme está em cartaz e provavelmente sairá com um número minúsculo de pessoas terem assistido, passará alguns meses, talvez um ano, e páginas referente ao LGBTQ+ e feminismo talvez exaltarão esse filme como a obra de arte que ela é, mas que para uma grande parcela do público será absorvida de forma superficial, um pornô lésbico leve.
Público Alvo
O pôster desse filme já consegue atrair o público alvo perfeitamente, uma ostra aberta, algo bem comum que é comparado a uma vagina, pode parecer pejorativo, mas isso já caiu por terra a um tempo.
As Filhas do Fogo é uma obra de arte fantástica e trabalha sua mente para algo mais detalhado visualmente do que manter uma linha de roteiro comum, todos os elementos estão presentes para serem apreciados e interpretados do que a mulher se esconde por causa do machismo, mais um filme que deve ser levado com uma mensagem forte pelo feminismo e pelo movimento LGBTQ+, porém também será levado aos supérfluos que irão assistir para fins carnais e prazeres banais.
¹ Nota do Editor: A questão é de que ele se trata de um Road Movie e não conta com um plot central evidente, sendo regido por uma sequência de situações durante sua “viagem”. Recomendamos também um anime que também traz este gênero, Rolling Girls.