Tensei Shitara Ken Deshita foi meu primeiro contato com uma obra do subgênero tensei que aborda o princípio do pluriprotagonista, citado pelo professor Robert McKee em STORY (substância, estrutura, estilo e os princípios da escrita de roteiro).

Sobre isso – especificamente – o Robert McKee fala:

Para que dois ou mais personagens formem um pluriprotagonista, duas condições dever ser respeitadas: primeiro, todos os indivíduos do grupo dividem o mesmo desejo. Segundo, na batalha para alcançar esse desejo, eles devem sofrer e beneficiar-se mutuamente. Se um alcança o sucesso, todos se beneficiam. Se um sofre um revés, todos sofrem. Em um pluriprotagonista, motivação, ação e consequência são de todos

Será que a gatinha Fran e o Mestre em Tensei Shitara Ken Deshita fazem esse princípio funcionar?

Reencarnado na forma de uma espada em um mundo desconhecido, o Mestre – nome dado pela Fran mais tarde – a princípio age como um narrador autodiegético, ou seja, conta a própria história. É interessante notar que enquanto ele segue narrando, se fortalecendo, fazendo descobertas sobre esse mundo, do outro lado da moeda, a pequena Fran passa por maus bocados como escrava.

Entre essas trocas de cenas o desejo da Fran por poder vem à tona e cria a primeira condição do princípio: todos os indivíduos do grupo dividem o mesmo desejo.

E é aí que as rodas do princípio do pluriprotagonista começam a se mover.

O momento que leva até o clímax e o desfecho – o encontro entre ambos – concretizam a última parte do princípio: “… na batalha para alcançar esse desejo, eles devem sofrer e beneficiar-se mutuamente. Se um alcança o sucesso, todos se beneficiam. Se um sofre um revés, todos sofrem. Em um pluriprotagonista, motivação, ação e consequência são de todos.”

Após essa breve análise surge outra pergunta: vale a pena dedicar quase 24 minutos do meu tempo para assistir o primeiro episódio? Eu vou responder essa de uma maneira diferente.

Vamos supor que na vida somos a pequena Fran; cansados, mas mantendo as esperanças e se perguntando se nossos sonhos um dia vão se realizar. O Mestre aqui pode representar nossos amigos, familiares e até mesmo o meio para se chegar até esses sonhos.

Complemento com uma das frases que eu mais gosto do professor Robert McKee sobre a ligação público e protagonista:

Quando nos identificamos com um protagonista e seus desejos na vida, estamos de fato torcendo por nossos próprios desejos na vida. Através da empatia, a ligação vicária entre nós mesmos e um ser humano ficcional, testamos e estendemos nossa humanidade.

Em resumo, vale a pena assistir Tensei Shitara Ken Deshita.

Texto por Vinícius