Luiza Vieira
    Luiza Vieira
    Escorpiana, uma mistura de naftalina, Jrock, Post Punk e anime velho.

    EXPERIMENTE TAMBÉM

    Oniisama E… | Vintage et Underrated

    Bem-vindos ao Vintage et Underrated, a coluna que une o antigo que não sai de moda e o underground que todo mundo adora, ou deveria. Final de fevereiro, final de sofrimento, mas não sem antes secar de chorar com um clássico de shoujo ai dos anos 70 que só falta torcer o leitor e fazer martini com as lágrimas. Último do especial Riyoko Ikeda de Carnaval com Oniisama E

    Sobre Oniisama E…

    Publicado em 1974 na nossa queridíssima revista Margareth e sendo lançada em anime em 1991 (em meio a muitas polêmicas), a obra é marcada por se tratar de temas bem pesados. Por exemplo, bullying, câncer, abuso de drogas e suicídio, tudo com uma roupagem colegial que, no começo, confundiria qualquer desavisado que pegasse o mangá e não tivesse muita noção do estilo sádico da autora.

    Os desenhos seguem a qualidade de Rosa de Versalhes, mas já migrando para o estilo de Orpheus no Mado. Ou seja, com as artes ricas, mas sem perder o padrão antigo. O abuso da linguagem visual para expressar os sentimentos de cada personagem é realmente muito bem aplicado.

    Assim, a narrativa usa de quebras e mergulhos em água imaginária e produz um efeito imersivo super efetivo. Incluisve, é possível dizer que esse esforço é o responsável por quase matar a gente de tanto chorar.

    Personagens

    Quanto a construção dos personagens, eu sou obrigada a concordar com a crítica de Lynzee Loveridge, da Anime News Network. Aqui, Lynzee descreve o mangá como “todo mundo está maluco e tem roupas lindas”. Basicamente não tem uma única menina nessa história que esteja bem das ideias ou que tenha atitudes minimamente saudáveis de um ponto de vista emocional ou psicológico.

    Primeiro, praticamente TODOS os personagens centrais (e até alguns secundários) tem problemas familiares dos mais variados tipos: pais com vida dupla, profissões não muito bem vistas, escândalos de separação e traição… E cada um desses problemas reflete como um tsunami na personalidade das meninas.

    Outro ponto interessante é a forma com que, por vezes, Ikeda retrada as meninas mais velhas. Afinal, quem não é uma verdadeira princesa, provavelmente é uma tomboy e pode ser facilmente confundida com um personagem masculino.

    No mangá, a voz de uma das protagonistas é descrita como “rouca” e faz com que muitas pessoas a confundam de fato com um homem. Um traço bem comum nas obras da deusa Ikeda.

    Quem é Shakespeare na fila do pão ao lado de Oniisama E?

    Piadas à parte, a história tem um tom dramático do começo ao fim. Logo de início vemos a protagonista que mal saiu do ensino fundamental cheia de sonhos e ainda muito meiga tendo que lidar com a insegurança e a falta de senso de pertencimento àquela nova realidade que se apresenta no colégio de elite.

    Pra melhorar, suas duas amigas mostram o contraste claro entre a sua vida comum e a vida na Irmandade que mais tarde à seleciona. Enquanto uma tem um jeito mais simples de lidar com as coisas, a segunda é mais extravagante, desconfiada e tem muito medo de rejeição.

    Além disso, há a relação com seu antigo tutor, ao qual ela mantém uma relação realmente de confidência. Ela manda cartas sem receber respostas, apesar de saber que o remetente as lê.

    A derrocada da personagem vem a partir do envolvimento com um problemático trio de estudantes mais velhas. A sádica presidente da irmandade, a amável capitã do time de basquete e uma misteriosa aluna viciada em remédios, que se torna o envolvimento romântico da protagonista.

    Quem acha que a Haruka de Sailor Moon é um super exemplar de pessoa andrógina sedutora, precisa mesmo conhecer Rei “Saint-Just” Asaka. Afinal, seu ar terrivelmente blasé a torna um dos personagens mais problemáticos e ao mesmo tempo mais sedutores da história. Você realmente se apega à triste história da moça e à sua cruel relação com a presidente da irmandade.

    Drama

    Como isso aqui é obra de dona Ikeda, não se pode tirar nem por um minuto da cabeça que vai ter tragédia. Isso se concretiza com duas mortes sentidas, porém não mostradas, e com a falta de um desfecho justo para alguns personagens que mereciam uma coça.

    O anime tem uma variação no final de uma das personagens e uma melhor explicação da relação de orgulho e amor doentio entre a malévola presidente da irmandade, Fukiko Miya e o “irmão” da protagonista.

    Além disso, mostra com mais detalhes a competição promovida pela própria irmandade entre as alunas selecionadas e rejeitadas.

    É difícil dizer qual das duas mídias demonstra melhor a crueldade do bullying. Às vezes algumas cenas cartunescas amenizam a situação, dando um alívio cômico (em português claro: o bagulho é tão pesado, que chega um momento na história que até esfaqueamento rola).

    Pontos positivos

    • Oniisama E é MUITO bem construído, é o tipo de roteiro que certeza que deixou as meninas doidas pro próximo lançamento na época;
    • As artes são impecáveis;
    • As protagonistas são TODAS extremamente abraçáveis.

    Pontos negativos

    • Não se apague a ninguém, 90% de chances de ter seu coração dilacerado;
    • Se você tem gatilho com suicídio, esse mangá não é pra você;
    • Tem um romance bem problemático no fim do mangá.
    Oniisama E
    Imagem Divulgação

    Sinopse: Misonoo Nanako é uma estudante ginasial que ingressa por acaso na Irmandade de Elite do colégio Seiran. A partir desse ingresso, ela passa a interagir com as três estudantes mais populares da escola e a conhecer mais de suas histórias e segredos, tudo isso descrito em cartas para seu irmão de consideração, que também possui seus próprios dramas.

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    Escorpiana, uma mistura de naftalina, Jrock, Post Punk e anime velho.

    EXPERIMENTE TAMBÉM!

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