O Grito de 2020 ainda não supera o de 2004, não surpreende no gênero, contudo alcança o medo e pavor que te prende na cadeira e desvia o olhar, com alguns pontos previsíveis e até um certo exagero gore.
O novo O Grito é um excelente filme para se assistir naquela última sessão do cinema. Você vai desconfiar de toda sombra estranha no caminho, quando voltar para casa.
O público desenvolveu um preconceito por reboots, roteiros ruins, mudança drásticas do original e outros argumentos que tudo que agregar as palavras “reboot” ou “remake” já bate o desprezo, junta com a crise criativa que o terror vive na década, a qual tende a piorar e com isso se têm um dos filmes mais torce-nariz do gênero, pois a carga emocional do filme O Grito lançado em 2004 é pesada e acaba tomando a frente quando se anuncia um reboot.
Pois bem, ele chegou e o medo já tinha começado ao entrar na sessão, e por mais que existia o pessimismo, se torce para ser bom, ser assustador e dar certo, dito e feito, esse novo O Grito não supera o filme de 2004, trás o padrão estados unidenses do gênero terror que se mostra saturado a um bom tempo, porém numa qualidade acima da média, isso têm um nome e chama-se Nicolas Pesce.
O terror vive uma crise sem fim – mas isso é chover no molhado. Há muito tempo não se entrega algo satisfatório do gênero, e o marketing desse filme é preso cem por cento na carga emocional da franquia japonesa, isso é perigosíssimo, é apostar sem ver as cartas que têm na mão.
Entretanto, existe a possibilidade de dar certo, e mesmo com o padrão do gênero saturado, ele entrega uma desconstrução da história que sequencia o filme de 2004, conta várias histórias paralelas e acontecimentos sombrios que amarram todo o mistério da maldição, e o que chama a atenção são os ambientes que se constrói o momento de susto.
Esteticamente, um filme de terror coloca trilhas sonoras, escurece a fotografia e desbota as cores para o momento do susto. Isso foge em alguns pontos nesse filme, não necessariamente terá uma construção da cena que precede o susto e o mesmo vai acontecer, o susto pode vir do nada, até de forma sutil, apenas o aparecimento da assombração ou ela andando em desfoque na cena já causa aquele arrepio e agonia.
De grandes cenas a pequenos detalhes, constrói-se todo o medo e pavor que envolve o longa, tão bem orquestrado que consegue bater o frio na espinha; até as cenas previsíveis conseguem assustar e isso prova que essa árvore ainda dá frutos. Só o roteiro que a fórmula estagnou e dificilmente sairá disso.
A linha temporal é confusa, chega um momento que fica tão perdido que acaba sendo ignorado, mas é ofuscado pelos tons macabros e agoniantes do terror, até as cenas gore começarem a passar dos limites, aquele cenário do corpos carcomidos por vermes, dedos decepados e tudo mais é realmente forte de se ver, mas se acostuma quando visto demais.
Com isso perde os tons de medo e se torna bobo, isso se deteriora até a última cena onde se acontece o final feliz, porém já foi dito, o diretor foi brilhante, e mesmo no fim, ele entrega um dos melhores finais da década em filmes de terror, doa a quem doer, pode dizer que é clichê, mas o modo como foi feito o final foi algo tão impactante que você fica na cadeira ainda matutando o acontecimento.
O remake de O Grito não supera o de 2004, e nem precisa, para os que criticam de ser igual a muitos outros filmes de terror, ou você vai de mente aberta, ou de mais nada você vai gostar, e esse filme é a prova que a mesma fórmula pode ser bem trabalhada e remakes e reboots podem funcionar.
O cenário macabro é o que te conquista e apenas agradecimentos a Nicolas Pesce que alimentou as esperanças dos fãs de terror, provando que ainda é possível entregar a mesma coisa e conseguir assustar com novas adaptações de filmes que um dia já assustaram uma geração.