Depois do mestre do horror, a Pipoca & Nanquim trouxe para nós uma história do deus do mangá. Consagrado com essa alcunha, Osamu Tezuka escreveu Vampiros, um mangá de peso e foco deste review.
Osamu Tezuka
Primeiro de tudo, antes de falarmos da obra em si, acho importante dar uma breve introdução de quem é Osamu Tezuka.
Ele nasceu em 1928, em uma cidade de Osaka e se formou no curso técnico de Medicina. No entanto, com a influência da família, Tezuka já se mostrava apaixonado por histórias e quadrinhos.
Foi em 1946 que ele publicou sua primeira obra, O Diário de Ma-chan, que foi apenas o começo de uma carreira inigualável. Afinal, você deve conhecer o famoso Astro Boy, o icônico A Princesa e o Cavaleiro, ou até mesmo Dororo.
Inclusive, sabia que foi Tezuka que criou Kimba, o Leão Branco, história que, supostamente, serviu como inspiração para a Disney fazer O Rei Leão? Porém, esse discussão ainda dá o que falar até hoje, então não vamos nos aprofundar.
De qualquer forma, pela sua influência no mundo dos mangás, tanto nacional quando internacionalmente, assim como dos animes que o autor produziu com seu estúdio, Mushi Production, Tezuka foi nomeado Embaixador dos Mangás pelo governo japonês e ganhou o nome de Deus dos Mangás.
Polêmicas nas obras
No entanto, como nem tudo são flores, a forma com que Tezuka representava algumas pessoas em seus mangás é alvo de polêmica atualmente.
Afinal, o mangaká desenhava pessoas negras e do sudeste asiático, por exemplo, de forma bem caricata, podendo ser vista até mesmo como ofensiva. De acordo com a nota no mangá de Vampiros, Tezuka era conhecido por ter traços mais exagerados — como o seu próprio nariz excessivamente grande. Portanto, seria apenas mais uma característica do desenho dele e não uma forma de preconceito.
Mesmo sendo problemático, concordo que não seria adequado mudar o traço do autor, pois é um patrimônio cultural do Japão. De qualquer forma, não podemos ser inocentes e pensar que é “só um estilo de desenho”, justamente em algumas minorias.
Cabe a nós ler com olhar crítico e compreender que não importa se é um mestre ou um deus, preconceito e discrirminação não podem passar batidos e precisam ser discutidos e combatidos.
Vampiros
Dito isso, vamos ao que interessa.
No universo desse mangá, existem humanos que podem se transformar em feras com determinados estímulos. Por exemplo, uma mulher cheira cebola e se transforma em lobo, outro se transforma em tigre quando coçam o umbigo dele, outro lambe carvão e vira gorila, e por aí vai… Esses humanos são chamados de vampiros — eu levei um booom tempo até entender que vampiros se transformaram em qualquer animal e não são vampiros tipo o Drácula ou Edward Cullen (perdão pela piada).
Então, quando uma aldeia apenas com vampiros decide ir para a cidade, Toppei, um garoto jovem, vai atrás de ninguém mais ninguém menos que… Osamu Tezuka. Sim gente, o mangaká é um dos personagens dessa história e ele é hilário!
Resumindo, depois de mostrar a Tezuka que é um vampiro e se transformar em lobo, Toppei começa a trabalhar no Mushi Productions — estúdio do autor.
No entanto, por um infortúnio do destino, o vilão da história, um garoto chamado Rock, vê que Tezuka e Toppei participaram da morte de um estudioso. Querendo tirar vantagem da situação, Rock se aproveita de Toppei e pede que ele, na forma de lobo, sequestre uma garota, além de cometer outros crimes.
Assim, numa escalada de absurdos e megalomania, Rock transforma a vida de Toppei e Tezuka num inferno, controlando os vampiros do Japão e se esquivando da polícia.
Mesmo sendo ameaçado, deixado pra trás, chantageado e atirado de penhascos, Tezuka não mede esforços para parar Rock e libertar Toppei e os vampiros dessa situação.
Um cartoon clássico
Tenho tantas coisas pra falar sobre essa obra que eu nem sei por onde começar. Assim, começo pelo ponto que eu acredito ser mais marcante, o traço cartunesco de Tezuka.
Lendo o mangá eu senti como se estivesse assistindo um cartoon dos anos 80/90. Aquela coisa exagerada e absurda, por exemplo as brigas que são um amontoado de fumaça e braços e pernas aleatórios, ou uma mulher corre e acaba batendo no poste, que fica moldado com a silhueta dela. Acredito que essa seja uma das características mais evidentes e gostosas de Vampiros.
Afinal, mesmo que a história traga sequestro, assassinatos, investigações policiais e suspense, esse toque de cartoon deixa a história cômica, leve de acompanhar. Achei bem nostálgico.
Quebra da quarta parede
Só pra contextualizar, a quarta parede seria a “parede” que separa os personagens e a história do leitor, como se a história acontecesse dentro de um “aquário” e nós olhássemos pra dentro sem os personagens saberem que estão sendo observados.
Então, a quebra da quarta parede é quando os personagens falam diretamente com o leitor, algo que acontece direto em Vampiros.
É muito divertido, pois eles sabem que são personagens e sabem que são desenhados pelo Tezuka. Assim, volte e meia tem uma pequena quebrinha no fluxo da história, pois algum personagem conversa com a gente.
Eu adoro esse recurso e acho que Tezuka soube usá-lo bem. Além disso, o próprio fato do mangaká ser um personagem da sua história é genial e cômico.
Enredo de roer as unhas
Sinceramente, quase morri do coração lendo o mangá. É tão angustiante ver o Rock enrolando a polícia, os pais da garota que sequestrou, ele se aproveitando dos vampiros e sempre conseguindo um jeito de sair impune.
Falo tranquilamente que ele é um dos piores vilões que eu já vi numa história. É inteligente, ardiloso, manipulador, bom com disfarces, egoísta e egocêntrico e não tem uma gotinha sequer de empatia naquele corpo.
O final que ele teve foi pouco, me deixou inclusive revoltada, pois não senti que a justiça foi feita.
Conclusão
Pra não me estender muito, digo que a história de Vampiros é muito bem elaborada. É uma tensão divertida do começo ao fim que nos faz rir e se revirar na cadeira pensando o que vai vir agora e como vão parar o Rock. Além disso, o estilo cartunesco balanceia bem o enredo mais pesado.
Tem a questão problemática que falamos no início, mas a Pipoca & Nanquim se posicionou bem, então não vou me estender muito.
Sobre a publicação, é linda! As cores fortes da capa, o verniz localizado e o próprio tamanho dela — 594 páginas — impressionam.
Enfim, digo que é uma obra pra todas as idades e, como várias publicações da editora, é uma ótima ideia de presente pra alguém e pra você mesmo. Afinal, quem não quer uma senhora obra do Deus dos Mangás na estante, não é mesmo? Então, descubra a sua transformação e vamos entrar nessa jornada de Vampiros!