Quando se fala de filme europeu, o pensamento pejorativo de ser um cult chato já bate, tá na hora das pessoas terem uma cabeça mais aberta para filmes fora dos Estados Unidos, do mesmo jeito que o Brasil têm acertado, a Europa têm moldado a sua essência, mesmo ainda lembrando um cult.

Um Banho de Vida trás aquela reflexão para a vida diante o que fazem quando a depressão aparece após fracassos na vida, e ainda diverte no nível sessão da tarde extrapolado já visto em muitos filmes hollywoodianos, aliás, consegue melhor que muitos filmes estados unidenses.

Um Banho de Vida
Um Banho de Vida (Imagem Divulgação)

Mentalidade Frágil

Esse filme trás um ponto além da mentalidade fragilizada do ser humano, ele joga na profundeza do roteiro algo muito oculto que poucos conseguirão se tocar, e se acontecer esse plot em sua cabeça, irá gerar uma opinião baseada em sua ideologia de gênero, um estereótipo da masculinidade pouco explorada nos cinemas de todo mundo, o homem frágil.

A mulher sempre foi olhada como “o sexo frágil”, e os homens sempre colocam eles como o topo da força e do símbolo a ser seguido, esses rótulos ultrapassados nunca foram unanimidade para homem e mulher, a mãe solteira precisa de dois a três empregos para sustentar seus dois filhos, mostra que ela não é o “sexo frágil” que é rotulado, ao mesmo tempo que você vê homens que fracassaram como pai, como trabalhador e caem em uma crise existencial por causa desse peso de ser um “verdadeiro macho” tentando alcançar o pedestal do “homem de família” onde todos foram educados para ser isso, tornando-o assim um homem fragilizado, um derrotado da sociedade onde todos preferem chutar ou ignorar ao invés de dar a mão.

Isso é bastante mostrado no filme, e perceber isso só engrandece muito a trama que aparentava ser algo mais direcionado ao humor, claro que o fracasso pode acontecer com qualquer um, seja homem ou mulher, mas no filme, isso é explorado não só como base para o belo roteiro desse filme como mostra a realidade, as sequelas que o fracasso pode deixar no ser humano, e ao invés de usar mulheres, colocaram homens, que sempre são mostrados como símbolo de força de vontade e de ser “invencível”, só por ele ser homem.

Um Banho de Vida
Um Banho de Vida (Imagem Divulgação)

Alívio Cômico Escrachado

Alguns alívios cômicos escrachados colocam Um Banho de Vida no nível sessão da tarde que dificilmente é visto em filmes europeus, um grupo de homens fazendo parte de uma aula de nado sincronizado masculino, que para muitos que têm uma cabeça mais tradicional, chamaria isso de coisa de “mulherzinha” ou de “viadagem”, mas até aí a sociedade impõe que lugar de mulher é na cozinha, e a gastronomia é praticamente uma profissão dominada por homens.

Esse argumento casa perfeitamente com o filme, pois o protagonista Bertrand está com seus quarenta anos e não alcançou nada na vida, encontrou esse grupo de nado sincronizado masculino, que de sincronia não tem nada, e os envolvidos usam isso como válvula de escape da realidade, todos eles no vestiário, conversando sobre seus problemas, isso inclui a treinadora, que cabe bem nesse grupo de depressivos, têm uma história muito mais triste, envolvendo fracasso no nado sincronizado profissional e sentimentos ilusórios por alguém que não a quer mais, tornando-se uma obsessão, substituída por uma cadeirante, a qual têm uma personalidade extremamente forte a ponto de ser ignorante e raivosa todo tempo, fazendo eles passar por um treinamento intensivo para ganhar o mundial de nado sincronizado masculino, ela deve ter um passado triste também, mas não se sabe, pois ela é uma das engrenagem para esse filme fluir com tom leve e engraçado de blockbuster norte americano, isso te tira um pouco do ambiente cult de fotografia escura e desgastada com roteiro reflexivo e parado, aquilo que afasta as pessoas para filmes cult, acaba atraindo mais ainda, juntando com o poster colorido que não é de costumes europeus.

Um Banho de Vida
Um Banho de Vida (Imagem Divulgação)

Conjunto da Obra

Um Banho de Vida é aquele tipo de filme que será rotulado como mais um cult europeu chato, e pegará todo mundo de surpresa, mesmo com um final galhofa, mas até aí o nível de comédia é o escudo para esse tipo de final, se torna aceitável, pois o conjunto da obra é magnífico a ponto de emocionar, de rir e de se sentir bem quando um grupo de desajustados e quebrados emocionalmente consegue dar certo em alguma coisa na vida.

Momento que pode ser a fagulha para correr atrás de mais momentos assim, e melhorar a situação a que se encontra, além de uma lição de vida, um bom filme para dar umas risadas.

REVIEW
Um Banho de Vida
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Baraldi
Editor, escritor, gamer e cinéfilo, aquele que troca sombra e água fresca por Netflix e x-burger. De boísta total sobre filmes e quadrinhos, pois nerd que é nerd, não recusa filme ruim. Vida longa e próspera e que a força esteja com vocês.
um-banho-de-vida-reviewBertrand (Mathieu Amalric) está no “auge” dos seus quarenta anos e sofre de depressão. Depois de usar uma série de medicamentos que não surtiram nenhum efeito, ele começa a frequentar a piscina municipal do bairro em que vive. Lá ele conhece outros homens com histórias semelhantes a sua. O grupo se junta e forma uma equipe de nado sincronizado masculino, algo incomum dentro do esporte. Sob o comando de Delphine (Virginie Efira), uma ex-atleta vitoriosa, Bertrand e os novos companheiros decidem participar do Campeonato Mundial de Nado Sincronizado, encontrando, enfim, um novo propósito para sua vida.