Desenvolvido pelo estúdio brasileiro Mantra, em parceria com a Sinergia Games e distribuído pela Graffiti Games, Elderand é um RPG de ação 2D. Ele chegou dia 16 de fevereiro para PC, Nintendo Switch, Playstation 5 e Xbox Series S|X.

Combinando mecânicas já estabelecidas de jogos como Castlevania e Metroid, com toques de Dark Souls, tudo num contexto Lovecraftiano, Elderand não se diferencia pela originalidade, mas se destaca pela qualidade de cada elemento que foi empregado no jogo.

Um estranho sem nome

O jogo começa com a possibilidade de personalizar o nosso protagonista (ainda que tenham modelos pré-definidos e pouco variados). Ele é um mercenário sem nome que chega de barco a uma ilha desconhecida e assolada por algum mal até então desconhecido. Lembrando bastante de como funcionam os jogos da franquia Souls e da From Software como um todo, aqui a história não se apresenta de forma direta e clara. Ao contrário, se revela por meio de poucos diálogos, textos de itens e algumas passagens bem específicas enfrentando alguns inimigos. Além disso, chegando em determinadas áreas temos muito mais um contexto geral do que está acontecendo do que de fato informações claras.

Isso não é de forma alguma um ponto fraco no jogo. Afinal, essa forma de contar uma história acaba casando perfeitamente com seu gênero e com a clara intenção que o jogo tem de fazer você explorar uma terra desconhecida. No entanto, o que fica bem nítido além das influências da saga Souls por aqui é também a influência do universo de Lovecraft.

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Os próprios cenários te trazem essa sensação, abusando de ambientes góticos e obscuros. Junto de inimigos que parecem ter saltado das páginas de algum conto do escritor, sendo bem originais apesar da clara referência. Eles também têm um design bem interessante e que por si só servem para contar a história que estamos vivendo com nosso mercenário.

O ponto alto

O gênero Metroidvania por si só é bem característico e ao longo dos anos vem cada vez mais sendo explorado e gerando excelentes jogos. É só vermos games como Dead Cells, Hollow Knight, Ori e muitos outros, que se tornaram clássicos atuais e usufruem da melhor forma possível o que esse tipo de level design têm a oferecer.

Então, com Elderand não é diferente. A Mantra e a Sinergia Games souberam explorar todo o potencial que o jogo possui como um metroidvania, criando cenários que funcionam muito bem com o backtracking. Com isso, deixaram bem claro para o jogador que há mais coisas para explorar naquele local e até mesmo qual mecânica é necessária para isso.

Mas é claro, pelo descrição anteriormente é de se imaginar que a história de Elderand não seja seu ponto forte. Ao contrário, isso fica a cargo de sua gameplay, mecânicas e como o jogo funciona de uma forma geral. E aqui sim é o ponto que deve ser mencionado e o responsável por colocá-lo no alto da prateleira dos melhores jogos nacionais.

Já definimos Elderand como um metroidvania, que eu diria que é muito mais uma mecânica de level design do que de fato um gênero pré-estabelecido. No entanto, ele também pode (e deve) ser definido como já mencionado, como um jogo de RPG de ação.

Afinal, o jogo permite que você escolha o tipo de arma que vai utilizar, armaduras e ainda te deixa livre para escolher como melhor usar os pontos de atributos para montar como achar melhor sua build. Porém, não vá esperando nada ultra refinado como nos RPG’s mais clássicos, podendo escolher cada detalhe da composição das habilidades do seu personagem. Até porque muitas delas são adquiridas como forma de dar continuidade ao gameplay e não opcionais para melhor se adequar a forma de jogar.

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Habilidades

E por falar em habilidades, eu diria que essa é uma das melhores coisas que esse jogo traz. Não de fato as habilidades em si, pois elas num geral são genéricas e já presentes em outros jogos. É a forma como elas são introduzidas ao longo do jogo.

Hoje dia é comum vermos jogos que possuem mil recursos para seu personagem. Em contrapartida, muitos dele acabam fazendo o jogador se perder com tantas opções bruscamente inseridas. Em Elderand, você aprende uma nova habilidade e tem tempo para se acostumar e se adequar a ela e como usufrui-la da melhor forma possível para seu jeito de jogar.

Tudo isso junto de uma gameplay básica, mas bem viciante faz com que no final do jogo você já tenha elaborado sua própria forma de jogar. Seja usando movimentos mais rápidos, esquivas e contra-ataques, ou indo com pura força bruta. Ambos os casos funcionam para derrotar seus inimigos desde que você os domine.

Com isso, pode-se dar a entender que eles são implacáveis como num Soulslike, o que não é bem verdade. Ainda que eles não sejam exatamente difíceis, também não são fáceis e oferecem um bom desafio para quem joga. Inclusive, até mesmo alguns inimigos comuns podem te deixar com uma baixa quantidade de vida e fazer você temer pelo Boss daquela área. Nada que uma das fogueiras que servem de checkpoint no jogo não possa ajudar.

Por fim, ainda falando dos inimigos, vale um parágrafo aqui para citar especificamente os chefões do jogo. Eles são incríveis e bem criativos e casam muito bem com toda a atmosfera que o jogo tenta criar. Além disso, eles servem como amarras da história e para deixar bem claro que você está no caminho certo no final das contas.

De novo essa música?

Se o jogo traz um visual até bem original, utilizando uma pixel art mais atual e estilizada, com ótimos jogos de luz e sombra, o mesmo não pode se dizer da trilha sonora e dos efeitos sonoros como um todo. As músicas do jogo não são ruins, de forma alguma. No entanto, elas acabam ficando enjoativas e se parecem muito umas com as outras no final das contas. Assim, depois de algum bom tempo jogando acaba ficando até um pouco irritante de ouvir.

O mesmo vale para os efeitos sonoros que parecem escolhidos de alguma biblioteca de sons sem muita assertividade. Afinal, eles causam aquela clássica sensação de “já ouvi isso”. Desde o barulho de pancada ou corte nos inimigos, os próprios barulhos emitidos pelas criaturas que enfrentamos e coisas do tipo parecem não ter a mesma atenção que os demais pontos do jogo tiveram. Não que isso estrague a experiência, de forma alguma. Porém, é algo que mesmo o menos chato dos jogadores acabará percebendo com o tempo de gameplay.

Considerações Finais

Elderand não traz inovações ou elementos únicos que o tornam um jogo fascinante e uma obra-prima de jogar. Mesmo assim, isso não significa que ele seja um jogo mediano ou até mesmo um bom jogo. Ele é mais do que isso. Elderand abusa do básico e pega elementos já consolidados e os dá toda a atenção merecida, refinando esses pontos e o tornando um ótimo jogo, ainda que não traga inovações.

Sabe aquele arroz com feijão, que é básico, sem invenções e nada rebuscado como um prato de um chefe internacional, mas que é um ótimo feijão com arroz e não precisa ser nada além disso? Isso é Elderand. Ele é magnífico no que se propõe a fazer e é um dos melhores jogos nacionais que tive o prazer de jogar. Mais do que isso, é um dos melhores metroidvanias que já pude experimentar (tenha em mente que isso está sendo escrito por alguém que tem esse subgênero como um dos preferidos). Com toda certeza deveria receber mais atenção pelo que conseguiu fazer.