Rodrigo Folter
    Rodrigo Folter
    Jornalista gamer ou gamer jornalista, as duas características costumam se entrelaçar. Nasci em São Paulo e morei alguns anos no litoral antes de voltar à capital e me formar em Comunicação Social pela FIAM-FAAM. Crio conteúdo sobre games, cinema e tecnologia desde 2017 e fui co-autor do livro "Cinema Virado ao Avesso: Erotismo, Poesia e Devaneios", além de palestrar em algumas universidades de vez em quando. Nas horas vagas estou jogando viajando, jogando Overwatch, LoL ou brincando com meu gato.

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    Dacre Stoker | Suco Entrevista

    Dacre Stoker, um dos descendentes do lendário escritor Bram Stoker, concedeu uma entrevista ao Suco de Mangá. Legado, vida pessoal e trabalho são alguns dos temas que você acompanha agora.

    Existe uma lenda brasileira dedicada a vampiros que você conhece?

    Sabe, a minha pesquisa não me trouxe aqui ainda, esta é a minha primeira vez no país. Eu estive em contato com algumas pessoas, como Andreas, que faz todos os tipos de eventos de vampiros, então eu acredito que há uma procura, mas eu não sei de nenhum folcore real, ainda.

    Porém, isso significa apenas que eu ainda não tive a chance de explorar, mas muitas culturas têm mito e superstição de seres que saem do túmulo e tiram a vida a vida dos vivos de uma forma ou de outra — Bram Stoker encontrou 12 durante a sua pesquisa. Mas ainda não sei sobre o Brasil.

    Gostaríamos de saber mais sobre a sua relação com a literatura. Você é de uma família de um grande escritor, então, provavelmente, teve muito incentivo para ler e escrever, certo?

    Nem um pouco. (risos)

    É engraçado. Quando você olha para pessoas que vêm de famílias famosas. Atores, atletas… a maioria deles nem sempre segue os passos. Você se inspira um pouco, como eu me inspirava, para tentar entender melhor Bram Stoker.

    Mas eu era professor de educação física e ciências, fui treinador nos Jogos Olímpicos pelo Canadá e competi em torneios. Escrever era a coisa mais distante que passava pela minha mente.

    Isso mudou há cerca de quinze anos quando pensei que alguém da família realmente precisa entender nosso parente para que nós, a família, podermos  promover seu legado ao invés de ser outras pessoas, que nem sempre têm o melhor interesse em mente.

    Eles são mais sobre capitalizar mentiras e mitos, então eu decidi fazer algo sobre isso e é o que estou fazendo agora. Doze anos de pesquisa, cinco romances, dois best sellers internacionais com bons co-autores e eu realmente sinto que eu tenho uma grande compreensão de quem era Bram e isso me fez começar a fez começar a escrever.

    Meu filho tem um PhD em literatura inglesa, ele é o escritor da família. Minha filha é uma artista também, muito parecida com o avô, então, às vezes, pula uma geração, mas estou fazendo o que posso para ajudar a promover seu legado.

    Você se descreve como um detetive forense de literatura (DFL), um termo que você cunhou, como foi esse momento?

    Bem, foi mais difícil do que eu esperava. Para descobrir a verdade sobre Bram Stoker, eu tive que ir para a Inglaterra, Irlanda, Romênia, Escócia… eu me sentia um Indiana Jones, buscando em museus, bibliotecas, universidades, conversando com pessoas e encontrando coleções particulares que têm cartas que nunca foram publicadas para que eu pudesse entender melhor que tipo de pessoa Bram era.

    Sim, todos podemos ler os seus livros, eles são de domínio público, mas se você quiser entender uma pessoa, você precisa fazer isso. Eu encontrei um diário de quando ele era jovem que me ajuda a entendê-lo.

    Eu olhei para áreas em sua vida que teve impacto nele. O teatro e outras outras coisas artísticas que ele fez. Opiniões de outras pessoas sobre ele me ajude a ter uma boa ideia de quem era meu parente famoso.

    Isso me ajuda quando escrevo sobre ele e uso de seus pensamentos no meu livro.

    Além de ser um DFL, você é um best-seller, expandindo a magnum opus de seu tio-avô. Conte-nos sobre esse aspecto da sua vida: como é lidar com a pressão de escrever e expandir este universo?

    Essa é uma ótima pergunta porque vem com muita pressão. Ter o sobrenome Stoker gera expectativas. De mim mesmo, bem altas, mas também de editores e agentes. O seu nome vai abrir portas, mas você tem que ser bom. Eles sabem que o público vai buscar você então você tem que tomar cuidado para trazer assuntos, fatos e boas histórias.

    Por isso, quando escolho os meus co-autores para trabalhar, que são melhores autores do que eu, para pegar todas as minhas informações, eu preciso encontrar pessoas que realmente possam contar uma boa história. Sei que seremos julgados fortemente, e fomos, mas é justo.

    Eu não quero ser alguém que apenas se aproveita do nome. Eu quero produzir coisas boas sobre Bram, continuar o seu legado. E também começar o meu, contando boas histórias que as pessoas vão gostar de ler.

    Falando um pouco sobre o romance. Você pode nos explicar a importância da capa amarela do Drácula?

    Antigamente não tínhamos toda essa capacidade gráfica que temos hoje, mas as pessoas tinham uma grande compreensão do que as pessoas pensariam quando vissem a capa amarela. Na Inglaterra Vitoriana, essa cor representava a decomposição dos corpos e a degeneração, coisas que não eram vistas como pertencentes à alta sociedade, como crimes, roubo de túmulos e morte. Era uma cor associada a esses elementos.

    Hoje, ao olharmos para o amarelo e o vermelho, pensamos no McDonald’s, certo? Mas não era isso na Era Vitoriana. Naquela época, a cor estava relacionada a crimes e a coisas baixas. Então, eles não precisavam colocar imagens sofisticadas. As cores por si só evocavam sangue e decomposição, certo?

    Você mencionou que encontrou muitos trabalhos, diários e pedaços da história de Bram Stoker ao longo dos anos — uma verdadeira caça ao tesouro. Pode nos contar um pouco sobre isso?

    Sim, é como uma caça ao tesouro. Encontrar a localização desse castelo fictício exigiu um questionamento: “Ah, que castelo é esse?” Tive que buscar livros na biblioteca de Londres, encontrar o esboço que ele usou. “O que ele usou para o interior desse castelo?” Isso está na Escócia, porque menciona uma sala octogonal no capítulo 2. “Ah, tem uma sala octogonal aqui.” Dois pedaços.

    “Ah, mas agora encontrei o final real do romance, que mostra que o castelo está em um vulcão.” Isso está em Seattle, Washington. Você encontra essa peça, e então as coordenadas reais estão em Filadélfia, isso está nas anotações dele. Então, todas essas peças se juntam e formam a imagem completa.

    É a mesma coisa com a escolha de personagens como o Conde Drácula: Irving, Vlad, o Empalador… Tudo se conecta.

    Agora, você pode explicar como Drácula influenciou e mudou no cinema, na TV, nos vídeos games? São mais de 100 anos e ainda é relevante.

    Ah, sim, já se passaram 127 anos, e é importante saber que a imagem do Drácula no livro é muito diferente da que temos hoje. A razão disso é que o palco, o cinema e a proliferação na cultura popular necessitavam de uma mudança.

    O Drácula de Bram era um cara muito feio. Ele não era Christopher Lee, não era Bela Lugosi. Ele era um cara feio vindo do túmulo, que ficava jovem ao beber sangue. Mas quando foi para o palco, ele teve que ser um homem atraente, caso contrário, as pessoas em Londres Vitoriana teriam saído do teatro. Eles estavam acostumados com pessoas muito bonitas, que ressoava poder, como Bellagosi com seu terno de jantar e colarinho alto. Foi seguido por Christopher Lee.

    Depois, o personagem se tornou mais sexualizado, como Gary Oldman e Frank Langella. Então, o Drácula virou um cara sofisticado e elegante, depois foi para o Vila Sésamo, para as crianças, um personagem mais relaxado e gentil. E temos a Stephanie Meyer e os vampiros de Crepúsculo, jovens bonitos do ensino médio, com garotas e garotos bonitos. Eles se tornaram mais humanos.

    Anne Rice fez o mesmo com Entrevista com o Vampiro, trazendo uma qualidade mais humana. Stephen King também fez isso. Então, o Drácula de Bram começou como um revenã, um morto-vivo, mas o que vemos hoje, 127 anos depois, são características mais humanas do vampiro, para que não saibamos se ele é real ou não. Não podemos identificar a criatura feia como um monstro, o monstro está entre nós. Isso é até mais assustador, porque você não consegue identificá-lo.

    Daqui a 100 anos, provavelmente isso vai mudar para se ajustar ao tempo, quem sabe?

    Talvez. Talvez ele volte à versão original. Eu estou tentando, no meu trabalho, no *Stokerverse*, nos games, dramas em áudio e quadrinhos, trazer o Drácula de volta à versão feia e original de Bram Stoker.

    Agora, uma última pergunta para encerrar: existe algum novo trabalho sobre Drácula no qual você está trabalhando atualmente?

    Sim, estou muito feliz em dizer que acabei de terminar uma versão de *Drácula*, com todas as partes que foram retiradas, reunidas novamente. Chama-se Drácula: Annotated for the 125th Anniversary e está disponível na Amazon.

    Meu parceiro de escrita foi Robert Eighteen-Bisang, que é um estudioso. Encontramos todas as partes que haviam sido removidas e as colocamos de volta.

    Isso é bem interessante para quem quer ver os resultados do meu trabalho. Além disso, em ficção, tenho outras coisas em andamento, como algumas histórias curtas e quadrinhos, como Drácula Retorna com a Scratch Comics.

    Ótimo, ótimo. Agora, posso pedir duas coisas? Primeiro, uma mensagem para os nossos leitores e espectadores do Suco de Mangá?

    Então, minha mensagem para vocês, aqui no Brasil, é a seguinte: Como disse Bram Stoker, “Existem mistérios que os homens só podem adivinhar, os quais, só a idade, com o passar do tempo, pode resolver, mas apenas em parte”. Estou fazendo o meu melhor para resolver esses mistérios, e vocês também façam o mesmo no mundo de vocês. Aproveitem o sobrenatural, aproveitem o Drácula.

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