Cara Hunter é uma escritora de Oxford, formada em Inglês e apaixonada por leitura e escrita desde que se conhece por gente. Apesar de já ter escrito outros gêneros, ela parece ter se encontrado nos romances de suspense policial. Aqui no Brasil, a autora é publicada pela Editora Trama, e possui três títulos disponíveis em português.

Queridinho entre os amantes de uma boa história para dar um frio na barriga “Onde está Daisy Mason?” é o primeiro título da série protagonizada pelo detetive Adam Fawley, e pode ser considerado o de maior sucesso escrito pela autora (até agora!).

Se você adora uma boa reviravolta e tem um apetite especial pelos livros de suspense, confira mais sobre Cara Hunter no Suco Entrevista de hoje. Vamos lá?

Perguntas por Melissa Buzzatto e Ive Pitanga.


Entrevista com Cara Hunter

Sempre surge a curiosidade em saber como a história surge na cabeça de um autor, que história nem sempre vem pronta e que ela vai se desenhando aos poucos. Qual foi o start para Close to Home? Para quais outros caminhos você pensou em levar a história?

A ideia para “Close to Home” me ocorreu com o plot twist. Como você saberá se já o leu (não se preocupe, sem spoilers!), o plot twist é o grande elemento deste livro – tudo conduz a isso. Então, tendo tido isso como ideia inicial, eu tive que criar uma história, uma família e uma comunidade na qual esse ponto de virada fosse um choque enorme para o leitor, mas também fizesse sentido para eles depois de terem pensado sobre isso por um momento. Você sempre precisa “manter a fé” com o seu leitor – eles querem ter um ponto de virada que seja uma surpresa, mas não querem sentir que foram enganados. Em outras palavras, ele (o plost twist) precisa estar “à vista de todos” – um assassinato não pode ser obra de um novo personagem que o leitor nunca ouviu falar, ou ser feito por um fantasma, ou algo assim. Tem que ser algo que o leitor poderia concebivelmente ter descoberto por si mesmo. Isso é realmente importante em um livro como este. Quanto a outros caminhos para esta história, a resposta é não. Depois de escrever a história “de trás para frente”, começando pelo final, ela não se desviou depois disso.

Como você desenvolve seus personagens, tanto os protagonistas quanto os antagonistas? Eles são baseados em pessoas reais ou são REALMENTE e completamente fictícios? 

Eu acredito que todos os personagens têm alguns componentes da vida real – nenhum dos meus personagens é baseado 100% em pessoas reais, mas a maioria possui algumas características que eu vi ou experimentei em outras pessoas. Isso é verdade até mesmo para os personagens menos simpáticos, como Sharon, a mãe de Daisy. Quanto a Adam Fawley, há uma certa quantidade de mim nele – talvez porque eu escreva em primeira pessoa, então ele me parece mais próximo. Parte de sua história pessoal é a mesma que a minha (mas não tudo – por exemplo, eu não sou adotada), e eu acredito que tenhamos o mesmo senso de humor!

É um fato que, de uma forma ou de outra, sempre tem muito de nós no que escrevemos e, como autora, você sempre deixa sua marca pela maneira como escreve. O que, no livro, você diria que alguém que te conhece profundamente leria e reconheceria você ali? E o que você mesma acha que é muito você?

Como acabei de mencionar, eu acredito que meus amigos reconheceriam, por exemplo, o senso de humor de Adam em mim. Também há algumas referências à literatura inglesa na série, que meus amigos saberiam que vêm do meu próprio background como uma pessoa formada em Inglês. Outra coisa que meus amigos frequentemente reconhecem são seus próprios nomes! Eu tenho tantos personagens secundários em meus livros que sempre preciso de muitos nomes, então regularmente uso os nomes dos meus amigos. Às vezes, esses nomes são um pequeno gracejo entre nós (como quando fiz um dos meus amigos ser um “Appropriate Adult”). Também dou pequenos “alô’s” ao meu marido, que é fã do Chelsea FC e também insiste – como Adam – em sempre ser o responsável por empilhar a lava-louças! Isso inicialmente era uma piada privada entre nós, mas depois que apareceu em um livro, recebi dezenas de mensagens de mulheres dizendo que seus maridos são exatamente iguais!

Agora vai uma pergunta de cunho mais pessoal: em que momento você percebeu, na sua vida, que as suas histórias poderiam ser além de escritas, publicadas?

Eu já havia publicado romances anteriormente, sob um nome diferente, mas aqueles eram romances históricos, um gênero muito diferente. Na verdade, pensei que não escreveria novamente quando terminei essa série histórica, então a ideia para “Close to Home” me pegou de surpresa. Naquele momento, eu não sabia se alguém gostaria de publicá-lo, mas quando mostrei algumas seções iniciais para minha agente, ela adorou absolutamente a ideia, e uma vez que o primeiro rascunho foi concluído, muitas editoras de Londres ficaram interessadas – a ponto de ocorrer um leilão! Para um escritor, isso é um sonho se tornando realidade.

Close to Home é um sucesso incontestável. Como foi perceber as proporções tomadas pela sua criação?

Eu realmente não tinha ideia de que “Close to Home” seria tão bem-sucedido – isso me deixou sem palavras! Eu me sinto muito sortudo, e grande parte disso também se deve ao trabalho árduo dos meus brilhantes editores em todo o mundo.

Sempre adoro ver os diferentes designs de capas dos livros em diferentes países. as brasileiras são as minhas favoritas especiais, com suas cores e energia tão brilhantes.

Onde Esta Daisy Mason review
Divulgação: Editora TRAMA

Se você pudesse escolher algum de seus livros que ainda não possuem tradução para o português para ser publicado pela editora Trama aqui em nosso país, qual seria?

O novo livro, “Murder in the Family’. Eu acho que você já esperava que eu dissesse isso (!), mas é o meu livro mais ambicioso até agora, e confesso que realmente o adoro. Ele utiliza o formato de mídia mista que os leitores me dizem que adoram nos livros da série Fawley e o leva a um nível totalmente novo. Este livro consiste inteiramente de documentos – é estruturado como o roteiro de um programa de televisão de crimes reais, mas também inclui mapas, e-mails, árvores genealógicas, plantas baixas e até currículos dos especialistas que participam do programa – com fotos! Estou emocionada em dizer que o livro está sendo incrivelmente bem recebido pelos leitores – um vídeo sobre ele que foi postado no TikTok teve mais de 4 milhões de visualizações!

Você já leu algum livro brasileiro de suspense? Por exemplo, existe um MUITO famoso chamado Bom dia, Verônica, que foi adaptado para uma série da Netflix.

Eu não li, mas pesquisei sobre isso e definitivamente vou assistir na Netflix!

Quais leituras/autores mais te inspiraram? Como pessoa e autora.

Como pessoa, acredito que “O Senhor dos Anéis”, pois li quando era criança e fui profundamente influenciada por ele. Isso me ajudou a moldar meus valores (respeito pelo mundo natural, o poder da amizade) e tem “crescido comigo” desde então. Também fez com que eu me apaixonasse pela linguagem e apreciasse o que pode ser feito com palavras. Como escritora de romances policiais, aprendi muito com Agatha Christie e com os romances policiais escritos por Joan Smith, Ruth Rendell e Minette Walters. Os escritores aos quais sempre recorro agora incluem Shari Lapena, Nicci French e Ian Rankin.

Você tem alguma técnica específica para criar suspense e tensão em seus livros?

Não exatamente uma técnica específica, mas eu passo muito tempo desenvolvendo “cliffhangers” (momentos de suspense ou tensão). Ritmo e cadência são realmente importantes para mim – eu quero que o leitor tenha a mesma experiência que teria ao assistir aos melhores programas de TV de crime. É por isso que eu não tenho capítulos, apenas muitas seções curtas que alternam entre diferentes pontos de vista. Estou sempre procurando maneiras de fazer o leitor pensar “só mais uma seção” – meu feedback favorito é quando alguém me diz que ficou acordado até as 3 da manhã porque simplesmente não conseguia parar!

Você poderia descrever o seu processo de pesquisa ao escrever um suspense? Você realiza uma pesquisa extensa para garantir a precisão dos detalhes? Pois é muito bem feito!

Ah, obrigada! Isso significa muito para mim, porque faço uma quantidade enorme de pesquisa – é realmente importante para mim que os livros sejam precisos e pareçam autênticos. Tenho um Inspetor de Polícia que me ajuda com os procedimentos policiais, e um CSI da vida real que é absolutamente brilhante em todos os aspectos da ciência forense (e às vezes realmente assustador!). Ele desenhou a cena do crime para “In the Dark”. Também converso com médicos, agentes penitenciários, psicólogos forenses e outros especialistas quando há uma necessidade específica. Por exemplo, para “No Way Out”, passei uma manhã na estação de bombeiros em Oxford, conversando com bombeiros sobre como eles abordariam um incêndio suspeito, como o que abre o romance. Eles me mostraram o tipo de relatório da cena do incêndio que preparariam após um incidente assim, e o relatório que aparece no livro é uma versão resumida do que seria feito na vida real.

Por fim, nossa última e mais curiosa pergunta. Vamos lá? A sua história é cheia de plot twists, como todo bom livro policial, e você tinha uma história fechada e sem pontas soltas ao culpar a mãe de Daisy, Sharon. Por que escolher romper o círculo da história e puxar mais uma ponta? Não que eu goste de ler a morte de uma criança, mas foram desenhados o cenário e a justificativa perfeita para os acontecimentos. Culpar Sharon, depois de toda a história dela e a da personalidade, toda essa disfuncionalidade da família… Então, por quê?

Porque foi aí que a história começou! E, vamos encarar, é uma reviravolta realmente boa… ?


E ai, Trama? A Cara Hunter já deixou claro que quer continuar publicando no Brasil com vocês, hem? O Suco de Mangá está ansioso para ver os novos trabalhos da autora por aqui, e agradece pela oportunidade de entrevistar alguém tão apaixonada e dedicada por aquilo que faz!

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