Chegamos ao fim da jornada que começou em 2021, com três episódios que encerram cada ciclo com maestria. O Ato 3 de Arcane finalizou essa série com tudo que a representa: ação, emoção, perdas e muitas reflexões.
Incrivelmente sensível e cheio de reviravoltas, o final fechou os nós que ainda estavam abertos e criou outros, para as novas histórias que estão por vir.
AVISO!! ESTE TEXTO CONTÉM UM CAMINHÃO DE SPOILERS!!
Em outra realidade…
Se o Ato 2 nos deu um vislumbre do que poderia ter sido sem essa sucessão de tragédias, agora vimos tudo com riqueza de detalhes.
O primeiro episódio do Ato 3 se ocupou de mostrar o que aconteceu com Ekko, Heimerdinger e Jayce enquanto eles estavam sumidos. Enquanto Jayce foi para o futuro, encontrando a cidade completamente destruída, os outros dois foram para uma dimensão em que essa tecnologia sequer foi inventada.
Juntos
Sejamos sinceros, até pode ter sido fanservice, mas nós amamos. Tivemos um pequeno arco dedicado à relação entre Powder e Ekko, esclarecendo algumas discussões que rolavam no fandom.
Nesta outra realidade, Ekko é um professor respeitado no lado alto e no lado baixo, encontrando a cidade em paz e harmonia. Aqui, velhos amigos (e antigos inimigos) ainda estão vivos e a Subferia é tudo o que eles sempre sonharam que poderia se tornar.
Porém, o ponto central é a pessoa que Powder poderia ser. Uma garota feliz, extremamente inteligente (como já sabemos que ela é), completamente dedicada aos amigos e a Ekko, seu namorado nesta realidade.
Novamente, Arcane mostra como cada uma dessas pessoas é apenas fruto do meio onde viveu e das experiências que passaram. Por mais que Powder também tenha sofrido uma perda irreparável aqui, ela ainda tinha uma rede de apoio com sua família e seus amigos. Ou seja, ela não se tornou Jinx porque era naturalmente instável e “malvada”, mas sim pelo trauma de todos os acontecimentos da temporada 1.
Nesse contexto, Ekko consegue organizar seus sentimentos em relação a ela, amenizando a raiva e rancor que nutria. Ele se vê apaixonado por ela de novo, assim como era na sua realidade, mas sem sufocar os sentimentos diante da Jinx.
Inclusive, essa relação foi decisiva no desfecho da história. Graças à ajuda da Powder, Ekko, abdicando de tudo que sempre sonhou, conseguiu retornar. Afinal, “às vezes, para dar um passo à frente é preciso deixar algo para trás.”
Quando ele volta e encontra Jinx, ela já não está mais com as longas tranças — um visual mais parecido com o que ele conheceu. Então, compreendendo os seus sentimentos por ela e sabendo que dentro de Jinx ainda existe Powder, essa garota disposta a ajudar os outros, Ekko salva mais do que apenas uma vida.
Destruição
Primeiro, estou me redimindo por falar que o ato de heroísmo do Jayce foi estúpido. Doeu? Com certeza, mas pelo menos agora fez sentido.
Enquanto Heimerdinger e Ekko vivem o melhor que a vida poderia dar, Jayce encontrou apenas destruição. Piltover em um cenário pós-apocalíptico causado pela evolução do Hextec, coberta em cinzas e morte.
Porém, por mais sofrido que tenha sido para ele, Jayce estava predestinado a chegar nesse lugar. Precisava não apenas sentir na pele as consequências da sua criação e da sua ambição por evolução, como também compreender a origem de toda sua história.
Assim, reencontrando aquela figura que o salvou quando ainda era um menino, ele entende que o seu caminho sempre esteve ligado ao do Viktor. Entre todas as coisas que poderiam ter acontecido, apenas Jayce seria capaz de tirar seu parceiro da busca cega pela perfeição.
O objetivo de Viktor sempre foi melhorar a qualidade de vida das pessoas, principalmente da Subferia, queria livrar o mundo do sofrimento desnecessário. Porém, mergulhado nessa trajetória, Viktor não percebeu que estava manipulando as pessoas que queria salvar ao mesmo tempo que perdia sua humanidade.
Assim, o fim que eles tiveram juntos foi poético e inevitável. Eles começaram isso juntos e só poderiam encerrar da mesma forma. Porém, mesmo impedindo o futuro horrível que ambos presenciaram, não conseguiram apagar as marcas das suas ações. Isso fica claro quando, mesmo depois de tudo ter acabado, ainda há vestígios das runas selvagens em toda Piltover.
Vazia
Agora, vamos falar da conclusão de arco que mais me cortou o coração. Depois de todos os acontecimentos da temporada 1 e dos Atos anteriores, enfim Jinx ficou tão quebrada que não conseguiu mais juntar seus pedacinhos.
A espontaneidade, a alegria meio psicótica, cheia de energia e comentários sarcásticos, tudo isso não existe mais. Infelizmente, a perda de Isha foi a gota d’água para a força de Jinx.
Encontramos ela completamente apática, vazia, solitária e ainda delirante, mas com um tom muito mais mórbido e depressivo. A sua conversa interna com Silco deixa bem claro: ela não quer mais continuar esse ciclo de destruição própria e das pessoas à sua volta.
Em diversos momentos ela revela como sente culpa por todos os seus atos. Inclusive, mostra que sente remorso até mesmo de ter matado a mãe da Caitlyn. Deixa transparecer seu cuidado com Vi, se rendendo para não machucarem ela. O peso que carrega por saber que teve influência em cada uma daquelas mortes.
Então, ela deseja apagar tudo o que foi Jinx. Seu passado, sua casa, A Última Gota, suas tranças e ela mesma. Em seu olhar podemos ver o vazio e a profunda tristeza que ela está imersa.
É nesse cenário que ela reencontra Ekko, a única pessoa que conseguiu salvar sua vida e a convenceu a continuar lutando. Inclusive, isso provou que, mesmo nessa realidade, ainda existe um sentimento de afeto entre os dois. Essa é uma cena linda e terrivelmente triste, tanto em narrativa, animação e trilha sonora.
Sempre com você
Não vou escrever muito sobre a última cena dela, ou vou começar a chorar (literalmente). A Jinx encerra seu arco com uma enorme redenção. Assim, num paralelo com Isha, ela se sacrifica para salvar Vi e parte com tranquilidade no olhar.
Aqui, ela revela como sempre carregou a irmã consigo, como nunca perdeu o carinho que tinha por ela.
Porém, estão enganados se acham que ela partiu dessa pra melhor. Um risco rosa no meio da explosão indica algo correndo para os tubos de ventilação. Além disso, vemos Caitlyn analisando esse diagrama, sorrindo com um macaco em mãos.
E, se isso ainda não te convenceu, lembre do primeiro episódio da temporada 1. “Um dia, ainda vou voar em uma dessas coisas”. Nos despedimos de Arcane com a imagem de um dirigível se afastando da cidade. Pouco sugestivo, não?
Fechando ciclos
Como era de se esperar, o Ato 3 teve muita ação. A cena da batalha foi muito bem construída, com pequenas lutas acontecendo em diferentes lugares. Teve tiro, porradaria, magia, traição, reviravoltas, tudo o que o povo gosta.
Além disso, no Ato 3 como um todo, vemos o desenvolvimento da Mel como maga, a descoberta e controle dos seus poderes. Junto a isso, a Rosa Negra sendo mais explorada, assim como a relação entre Mel e Ambessa.
Enfim, após esse momento repleto de ação, temos desfecho de Piltover, que foi melhor do que eu esperava. Finalmente, o lado alto e lado baixo parecem cooperar, dando à Sevika um lugar que faz completo sentido e muito merecedor para a personagem. Ekko sofrendo pelo luto sozinho, sentado no mesmo lugar onde reencontrou o amor.
Claro, não posso deixar de comentar desse momento de glória para nós, mulheres LGBT. Depois de duas temporadas nos contentando com flertes e um beijinho, Caitlyn e Vi oficializaram a relação. Que felicidade. Principalmente porque não foi um fetiche, não foi pra satisfazer o público errado, foi uma cena real, sensual, cheia de carinho e desejo.
Inclusive, as duas juntas no encerramento foi um quentinho no coração, mas lembra que elas ainda carregam suas cicatrizes e suas batalhas.
Enfim, nos despedimos de Arcane com muita emoção, mas sabendo que assistimos o melhor que essa produção poderia nos dar. Excelência de enredo, animação, trilha sonora, personagens e adaptação. É de longe a melhor série que eu assisti em anos e será difícil chegar perto do que ela conseguiu conquistar.
Agora, aguardaremos mais quantos anos forem necessários para continuar explorando esse universo, com histórias tão marcantes quanto essa. Uma história sobre família, perdas, luta e resistência.