Dentre tantas fantasias e tantos heróis moldados pelos padrões deste gênero, O Nome do Vento, livro escrito por Patrick Rothfuss em 2007, lançado no Brasil em 2009 pela Arqueiro, chegou para quebrar os paradigmas da jornada do herói. Como o próprio autor declarou, o livro mostra “o outro lado da moeda” das fantásticas histórias dos heróis, mostrando a verdade que originou as lendas.

Um Homem de Muitos Nomes

Na primeira página do livro você já pode se arrepiar com a forma que Rothfuss descreve não apenas um, mas três silêncios distintos, dando uma boa prova da sua escrita descritiva única e envolvente. A história começa com Kote, o simplório dono da hospedaria Marco do Percurso, numa pequena cidadezinha. Kote é um homem simpático mas recluso, estando sempre imerso nos afazeres da hospedaria, assim como seu ajudante Bast, que ao contrário dele, possui personalidade expansiva e descontraída.

No entanto, um homem conhecido como o Cronista chega na Marco do Percurso alegando estar em busca da verdadeira história de Kvothe, famoso Arcanista conhecido por ter assassinado o Rei. Aí então descobrimos que Kote não é apenas um hospedeiro medíocre, mas sim o notório mago, esmerado ladrão, amante viril, herói salvador, músico magistral e assassino infame, Kvothe.

E é aí que a história de verdade começa. Kvothe decide contar toda sua vida para o Cronista em três dias, incluindo não apenas suas glórias, mas todos os seus podres e erros, mostrando como grande parte de seus feitos incríveis e famosos por todo Quatro Cantos, são na verdade distorções e exageros da verdade. Muitas delas inventadas pelo próprio Kvothe.

Começando a contar sua vida, Kvothe revela que na sua juventude fazia parte de uma trupe chamada Edena Ruh, formada pelos artistas mais talentosos existentes, mas também os mais marginalizados, por serem nômades. Após um ataque à sua trupe, Kvothe se vê sozinho no mundo, tendo que enfrentar longos anos na rua até conseguir entrar para a Universidade e aprender sobre magia. Estando na Universidade, a motivação que o levou até lá vai crescendo ainda mais: encontrar o grupo que assassinou sua família e se vingar.

Uma Leitura Mágica e Realista 

A magia do universo de Rothfuss é completamente ligada a ciência, a alquimia, química e a física, tendo cada detalhe tão bem explicado que não sobra espaço para desacreditar do que estamos lendo. Este é um ponto muito positivo do Nome do Vento, pois o autor teve o cuidado de criar um mundo lógico, palpável, onde você pode se questionar sobre as mais diversas coisas e encontrar uma resposta concreta, não apenas “porque é assim” e pronto.

Além disso, Kvothe é um dos personagens mais humanos que eu já tive o prazer de encontrar em um livro. Ele está longe de ser perfeito, é cheio de falhas, orgulhoso, um tanto arrogante e mentiroso, mas isso o protege, o move, além de possuir excepcional inteligência, gentileza, coragem e, como não poderia deixar de citar é claro, talento com música.

Com isso preciso citar outra característica marcante e preciosa do livro de Rothfuss: a música. Kvothe ama e respira música, toca alaúde como ninguém, depende disso para viver, e quando toca se entrega totalmente. E graças à brilhante escrita do autor, nós conseguimos viver e sentir isso. A forma que Rothfuss descreve a música não se compara com nenhum outro livro. Não apenas as letras das canções, mas suas melodias, notas, ritmos, sentimentos, tudo é descrito de uma forma tão pura e encantadora que é possível mergulhar na cena como se estivéssemos vivendo ela.

Ressalto a música por ser um grande feito (qualquer um que já tentou descrever uma melodia sabe como é difícil), mas a descrição não se limita somente a ela. Os sentimentos, as paisagens, sensações, tudo é descrito de uma forma tão original que poderia se comparar ao próprio Tolkien. Não é à toa que O Nome do Vento foi exaltado até mesmo por grandes autores como George Martin e Orson Scott Card, que o comparou com Harry Potter, porém mais maduro e sombrio.

Mesmo que o seu tamanho (656 páginas) possa assustar, O Nome do Vento é um livro que vale a pena ser lido, principalmente se você gosta de magia, aventura, romance e mistérios.

O Nome do Vento Capa
Imagem Divulgação: Arqueiro

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REVIEW
O Nome do Vento
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Jaqueline
Um pouco avoada, a doida das teorias da conspiração e leitora compulsiva do Nome do Vento. Adoro escrever sobre aleatoriedades, observar a natureza e ser engraçadinha em momentos impróprios, afinal esse é meu jeito ninja de ser.
o-nome-do-vento-reviewNinguém sabe ao certo quem é o herói ou o vilão desse fascinante universo criado por Patrick Rothfuss. Na realidade, essas duas figuras se concentram em Kote, um homem enigmático que se esconde sob a identidade de proprietário da hospedaria Marco do Percurso.Da infância numa trupe de artistas itinerantes, passando pelos anos vividos numa cidade hostil e pelo esforço para ingressar na escola de magia, O nome do vento acompanha a trajetória de Kote e as duas forças que movem sua vida: o desejo de aprender o mistério por trás da arte de nomear as coisas e a necessidade de reunir informações sobre o Chandriano – os lendários demônios que assassinaram sua família no passado.Quando esses seres do mal reaparecem na cidade, um cronista suspeita de que o misterioso Kote seja o personagem principal de diversas histórias que rondam a região e decide aproximar-se dele para descobrir a verdade.Pouco a pouco, a história de Kote vai sendo revelada, assim como sua multifacetada personalidade – notório mago, esmerado ladrão, amante viril, herói salvador, músico magistral, assassino infame.Nessa provocante narrativa, o leitor é transportado para um mundo fantástico, repleto de mitos e seres fabulosos, heróis e vilões, ladrões e trovadores, amor e ódio, paixão e vingança.Mais do que a trama bem construída e os personagens cativantes, o que torna O nome do vento uma obra tão especial – que levou Patrick Rothfuss ao topo da lista de mais vendidos do The New York Times – é sua capacidade de encantar leitores de todas as idades.