Muitas vezes juntar inúmeros conceitos pré-estabelecidos por outros jogos e que os tornaram únicos pode acabar gerando um game totalmente genérico, sem identidade que não apresenta nenhuma diferenciação do que já vimos por ai….Mas esse não é o caso aqui.

Lançado no dia 26 de abril pela Raw Fury com desenvolvimento da Bytten Studio, Cassette Beasts é um RPG de turnos focado na captura de criaturas ao melhor estilo Pokémon, mas que consegue trazer características próprias e ser único no que se propõe.

Começando do começo

Cassette Beasts se inicia nos dando a opção de escolher nosso nome e personalizar a aparência do nosso personagem, para que logo em seguida sejamos transportados do nosso mundo para uma ilha que posteriormente vamos descobrir ser chamada de Nova Murta, habitada por estranhas criaturas chamadas basicamente de monstros.

Sem saber como ou por quê fomos parar lá, estamos completamente perdidos até encontrarmos uma outra humana: Kayleigh, que será a nossa primeira companheira no jogo e será a responsável por nos apresentar o mundo do jogo e também nos dar nosso primeiro toca fitas, que vai ser gatilho para capturarmos e nos transformarmos nos monstros. A partir daí, a trama se desenrola conosco tentando voltar para nosso mundo, enquanto ajudamos os habitantes de Nova Murta a viverem suas vidas na ilha.

A trama de Cassette Beasts parece bem básica e, na verdade realmente é, porém a forma com a qual ela se desenrola é o que faz desse jogo algo formidável. Pouco a pouco vamos conhecendo mais do mundo, de seu funcionamento e vamos descobrindo que inúmeros humanos de eras e outras realidades diferentes da nossa foram parar ali, com alguns deles sendo recrutáveis para nossa party. No meio disso, descobrimos ainda que foi criado um grupo chamado de Vigilantes, que são responsáveis por trazer ordem e segurança a Nova Murta, sendo eles que enfrentam os Corretores e sua seita, que são pessoas que estão tentando comprar e vender terrenos em Nova Murta para os novos viajantes que são transportados para lá.

Tudo isso, enquanto temos ainda de ter cuidado com os Arcanjos, que são monstros absurdamente poderosos e que podem ser a chave para que nosso viajante finalmente volte a sua terra natal de uma vez por todas.

Definitivamente não é Pokémon

Você percebeu que já num breve resumo da história é possível notar semelhanças com Pokémon e seus mestres de ginásio, a Equipe Rocket e por aí vai, mas Cassette Beasts definitivamente não é Pokémon. É claro, que ele o referencia em vários pontos e dificilmente seria diferente, mas o que o torna um jogo tão bom é a mescla de vários outros elementos.

Se temos o esquema de vigilantes, captura de monstros e tudo mais como elementos de trazidos de Pokémon, temos muitos outros que tornam o jogo excelente. A gameplay é básica e bem intuitiva e não demora até ser dominada. Temos um mundo aberto para explorar, no qual vemos constantemente os monstros caminhado por ele e ao tocarmos, entramos automaticamente em combate contra eles (então nada de encontros aleatórios aqui). Ao fazer isso, usamos nosso toca fitas que foi dado lá no começo do jogo por Kayleigh para que possamos nos transformar nas criaturas.

E aqui já começam as diferenciações, pois além do nosso viajante estar em combate, temos ainda um outro membro formando uma dupla conosco (que podem ser escolhidos pelo jogador conforme a história avança) que também se transforma num monstro para nos auxiliar em combate. Então, além de batalhas 1×1 teremos a maior parte dos combates com nosso dupla contra 1, 2, 3 ou até mais monstros por vez.

Imagem Divulgação

O combate é feito em turnos onde a ordem de ação é definida pela velocidade do monstro em questão, com o mais rápido tomando tal ação primeiro. Podemos além de escolher um movimento do nosso monstro, que podem envolver ataques direto corpo a corpo ou a distância, buffs e debuffs ou ataques elementais, podemos escolher utilizar algum item da nossa mochila, fugir do combate (que possui taxas de porcentagem de dar certo ou não) ou ainda gravar um monstro. Ao escolhermos essa opção, escolhemos um tipo de fita que podem ou não possuir características que facilitam a captura e aí escaneamos o monstro em questão.

Já aqui entra uma mecânica bem diferente, pois enquanto escaneado o monstro não é derrotado, mesmo que você zere o HP dele, o que acaba tornando até mais fácil a captura, pois você pode basicamente encher o monstro de buffs negativos e quando perceber que irá derrotá-lo, com um dos membros da party iniciar a gravação e com o outro realizar um ataque para zerar a vida do monstro, facilitando ainda mais a captura (ainda que isso não represente 100% de êxito).

Após gravarmos o monstro, ele é colocado na nossa equipe ou em nosso estoque de fitas que podem ser definidos e detalhados nos acampamentos, que é outra mecânica bem interessante do jogo, pois espalhados por Nova Murta temos vários pontos com fogueiras apagadas, onde podemos montar nosso acampamento e basicamente recuperar o HP de nossos monstros e party como um todo, definir equipe, evoluir nossos monstros, organizá-la e etc, além de ser o local que estreitamos laços com nossos companheiros, pois vez ou outra nos é dado opções de diálogos que aumentam o relacionamento do nosso personagem com os demais que podem acabar gerando até mesmo relacionamentos amorosos para o personagem.

Por fim, existem ainda outros elementos de gameplay que apesar de básicos é possível sentir falta em alguns jogos do gênero, como a capacidade de correr e pular a qualquer momento. Além disso, conforme a história avança vamos ganhando ainda outras habilidades mais específicas.

Tudo é maravilhoso em Cassette Beasts

Você deve estar vendo pelas imagens de divulgação que o jogo possuí um visual bem clássico, utilizando de sprites e tudo mais, porém, tudo é muito bem feito. Cada sprite é maravilhoso, especialmente o dos monstros. O cenário é bem diversificado e a ilha é bem variada, onde temos planícies, florestas, campos, praias, rios, cachoeiras, pântanos, áreas com neve, montanhas e inúmeras cavernas e outros ambientes, cada um com um visual bem único e maravilhoso.

Além disso ainda em vários momentos do jogo temos ilustrações que são simplesmente maravilhosas, com cores vibrantes, um traço muito estilizado que deixa o dá ao jogo um estilo totalmente único.

E num jogo com toca fitas, é óbvio que a trilha sonora seria um ponto importante e olha, QUE trilha sonora fenomenal! Há tempos eu não jogava algo que me dava vontade constante de fazer certas ações somente para desencadear uma música específica do jogo. A trilha sonora original do jogo é completamente fascinante e eu já me peguei em inúmeros momentos cantarolando ela baixinho quando não estava jogando e vale muito a pena ser escutada separadamente.

Ó o bicho vindo…

Vale aqui antes do veredito, um espaço para falar unicamente das criaturas que tornam o jogo tão interessante. Os monstros possuem muito mais uma pegada de Digimon, do que de Pokémon. Eles mesclam coisas do nosso mundo com animais reais, o que acabam gerando criaturas que são fusões entre um caranguejo é um cone ou um semáforo, um gato com televisores e por ai vai.

Com pouco mais de 100 monstros, cada um deles são mega interessantes e não existe um monstro melhor ou pior de fato, uma vez que todos eles são muito similares em seus atributos (com algumas especificidades entre si) e os poderes deles são definidos por adesivos, o que permite que o golpe de uma criatura seja transferido para outra e por ai vai, o que torna a forma de jogar muito customizável pelo jogador.

Imagem Divulgação

Cada criatura por sua vez é de um tipo, que pode ser desde um elemento básico como terra, fogo, água ou ar, até elementos chamados de “impuros” no jogo, como plástico, metal ou vidro, além de termos outros tipos como monstros do tipo fera ou purpurina por exemplo e, o mais legal disso tudo, é como cada tipo reage um com o outro. É de se imaginar que um monstro do tipo fogo tenha desvantagem contra um tipo água certo? E de fato isso acontece, mas por exemplo, caso você ataque um monstro de fogo com uma ataque de água além do dano ser multiplicado, a criatura de fogo terá sua defesa e ataque reduzidos.

Mas caso a criatura de fogo ataque a de água, ele dará inicio a uma “reação”, onde o fogo irá evaporar a água e isso dará bônus de cura para a criatura aquática. Enfim, é extremamente variada a quantidade de reações que são geradas e dominá-las é parte fundamental da estratégia de combate e da forma de se jogar.

É válido ainda mencionar que as criaturas vão ganhando estrelas, que representam seus níveis de evolução e, ao chegar a 5, quando você acampa é possível evoluí-la e muitas delas possuem variações que podem ser definidas pelo próprio jogador. Por exemplo, você pode definir uma evolução focada em força física ao invés de agilidade, ou o inverso. Ou então você pode preferir que seu monstro evolua para o tipo “Astral” e não para o tipo Fera e por ai vai. O tipo de ataque que seu monstro está equipado pode alterar sua evolução e até mesmo o período (dia ou noite) pode ter influência nisso.

Por fim, vale citar uma mecânica de combate absurdamente boa, que são as fusões. Como combatemos em dupla, caso tenhamos um laço de afinidade com o membro em questão, é possível usar uma fusão, onde os dois monstros são combinados para formar uma criatura totalmente nova e absurdamente poderosa. O mais legal disso é que simplesmente qualquer criatura é passível de fusão no jogo, o que acabou gerando mais de quatro mil criaturas únicas. Sim, você não leu errado. Existem mais de quatro mil possibilidades de fusão no jogo e o mais divertido é que não são apenas os protagonistas que a utilizam. Em muitos momentos você pode acabar se deparando com fusões inimigas ultra poderosas e assim ver ainda mais combinações de criaturas.

Imagem Divulgação
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Conclusão

Finalmente chegamos a um veredito. É possível notar pelo que foi falado até agora que Cassette Beasts possui muitas características próprias e conseguiu se tornar algo original, mesmo que a primeira vista pareça ser mais do mesmo. O jogo não é perfeito é claro, ele possui alguns defeitos, como por exemplo o fato de que no início a locomoção pela área do jogo é difícil por não termos as habilidades de personagem necessárias ainda e as vezes pode ser frustrante ter que dar uma volta absurda para algo que está literalmente um passo a nossa frente.

Ou ainda a trilha sonora, que apesar de simplesmente fabulosa não é tão extensa. Não temos tanta variedade de músicas assim no jogo, ainda que as que tenhamos sejam formidáveis, com o tempo pode acabar enjoando de alguma delas. A dificuldade também um fato a ser citado e tido como algo que precisaria ser melhorado, pois o jogo acaba sendo fácil demais as vezes, mesmo definindo níveis de dificuldade mais altos, acaba que em certos momentos não temos desafio no jogo.

Em todo caso, apesar desses detalhes Cassette Beasts é uma das melhores surpresas que tive recentemente no mundo dos games. Ainda que utilize de uma fórmula batida, ele é conseguiu seu ponto de originalidade para se tornar único. É um jogo que te dá cada vez mais vontade de jogar e fazer tudo que é possível nele. Eu terminei o jogo tendo feito tudo o que podia e me surpreendi que havia um excelente pós game que estende ainda mais a aventura e em nenhum momento senti que “Já estava bom”. Com quase 50 horas de jogo eu fiz o 100% e confesso que espero ansioso por DLC’s pois ainda ficou um gostinho de quero mais.

Os laços entre os personagens são formidáveis e você realmente passa a se importar com eles e com seus monstros, ainda que a história não seja tão complexa e bem desenvolvida. As batalhas são muito divertidas e as mecânicas do jogo num geral são ótimas e tudo isso somado ao fato de que você assim como seu viajante, vai descobrindo o mundo em que foi jogado torna o jogo uma ótima experiência.

Numa era onde muitos fãs estão saturados da fórmula de sempre de Pokémon, Cassette Beasts vêm como um sopro de novidade de algo que já vimos anteriormente e torço ferrenhamente para que esse tenha sido o nascimento de uma próspera e longeva franquia.

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