Filmes que narram muita história através do silêncio, como O Pequeno Corpo, são especiais. O longa-metragem de Laura Samani serve como uma proteção do bombardeio sonoro que o cinema hollywoodiano joga à nós e vale a contemplação.
O Pequeno Corpo se vai
A sequência inicial acompanha Agata (Celeste Cescutti) em uma das principais experiências da vida: o nascimento de um filho. Entretanto, infelizmente, complicações interrompem o sublime e a natimorte ocorre.
Conforme as crenças religiosas do assentamento, a criança não pode ser batizada e ficará no limbo. Esse acontecimentos servem como vigas de suporte para a história e a protagonista parte em busca de um santuário que dizem reviver bebês, movida pela fé.
A viagem de Agata
Agata parte em busca desse local que, conforme o site Aleteia mostra, existe. No filme, diferente da realidade, a mãe é quem parte para lá com uma caixa nas costas — um comprometimento estoico perante as dificuldades.
No entanto, poucas jornadas são bem-sucedidas sem um aliado. Em O Pequeno Corpo, esse papel é de Lince (Ondina Quadri) que promete levar Agata até o local.
As personagens, atadas pelo destino, demoram a se respeitar e se ajudar durante o trajeto. Samani toma o tempo necessário para que essa construção seja natural e, no momento certo, chegue ao ápice.
Não se pode dizer que essa “road trip” emocional é algo novo, mas tampouco se pode dizer que é mal feito.
O som do silêncio
Em muitos momentos, o silêncio fala mais alto em O Pequeno Corpo. Não é um filme tão silencioso quanto o interessante Ninguém Vai te Salvar, existem muito mais diálogos, mas a falta de falas e sons de ambiente baixos são essenciais para a narrativa.
É quase como um mergulho dentro de si mesma feita pela protagonista. E cada silêncio é sentido como uma sutura sendo feito sem anestesia. É o luto, a dor necessária e a necessidade de um encerramento.
Além disso, e talvez tão importante quanto, evidencia o silêncio que era exigido das mulheres na época.
O desfecho de O Pequeno Corpo
CUIDADO!! SPOILERS!!
E falando em mergulho, O Pequeno Corpo termina com um. Ou quase. O filme tem um final agridoce onde Agata quase desiste da jornada, depositando a caixa onde está o bebê em um rio.
Mas nem sempre é tão simples superar as dores e ela pula atrás da caixa, em um lago gelado pela neve que toma conta do local. Essa ação cobra a sua vida, mas Lince, movida pela força de Agata, encerra a viagem da mãe e mata a curiosidade levantada no início do filme: o bebê realmente vai ser revivido? Sim, e o batismo acontece.
Veredicto
Não é a toa que O Pequeno Corpo foi ovacionado em Cannes. Afinal, o filme é uma viagem sentimental que apresenta a maternidade, o luto e a religião de forma singela — um diamante cinematográfico que vale a pena ser assistido.