De forma similar o que ocorreu em 2019, o Iron Maiden faz a dobradinha Rock In Rio e São Paulo mais uma vez, onde se apresentaram no dia 2 e 4 de setembro, respectivamente. Estivemos no Morumbi para cobrir a turnê do último álbum da lendária banda de heavy metal, “Senjutsu“, lançado em 2021, e você confere tudo o que rolou agora!

Avatar como banda de abertura

Este foi meu terceiro show do Donzela de Ferro, sendo a Somewhere Back In Time no (ainda) Palestra Itália em 2008 e depois no Rock In Rio em 2013. O primeiro dos citados aí, teve a presença de Lauren Harris, filha do baixista (Steve Harris) e bem, não foi tão agraciada pelo público – a real é que em respeito, ouvimos e assistimos sem muito alarde.

Desta vez, tive a grata surpresa de ver os meninos suecos pela do Avatar, pela primeira vez no país. Esta, uma banda que acompanhei mais em minha fase “gotemburgo”, junto a Dark Tranquility, In Flames, entre outras, traz atualmente junto ao som extremo, um flerte com o nu metal e industrial, munidos de muito groove. Não digo que foi um “acerto” da produção, mas gosto quando saem da caixinha e vão além de bandas do Power Metal ou Melódico da vida.

Promovendo o trabalho mais recente, “Hunter Gatherer”, o Avatar é uma banda extremamente competente no que se diz respeito a coreografia; ninguém pode negar a sincronia dos cabelos esvoaçantes, bem estilo seus conterrâneos de nação do Amon Amarth, não é mesmo? Abrindo shows da banda inglesa em Curitiba e Ribeirão Preto, o grupo já estava muito bem acostumado com o público brasileiro e até os senti, principalmente o vocalista Johannes Eckerström, à vontade.

Iron Maiden São Paulo
Foto: @sucodm / @brunobellan

Avatar: proposta e técnica

A apresentação, que durou cerca de 40 minutos começando próximo das 19h daquela noite fria e “garoada”, trouxe momentos de altos e baixos, mas deixando um gostinho bom nas pessoas que nunca ouviram falar da banda. De fato, os meninos começaram a esquentar a noite e prepararam o terreno para o que viria depois, mas duas coisas me incomodaram.

A primeira é de que não ligaram o telão. Se para quem está na Pista Premium é difícil visualizar alguma coisa, imagina para quem ficou na arquibancada ou no outro extremo da Pista? Já o segundo fator que me incomodou, foi a questão do som. Não se ouvia bem a voz do vocalista e de um modo geral, a banda estava com som bem baixo. Acredito que, de novo, para o público mais afastado, além do problema de “som embolado”, a falta de clareza imperou.

Agora, a performance da banda foi impecável. Como já dito, sua sincronia com grooves e riffs pesados, aliado a batida firme e mecânica do baterista, tivemos uma base perfeita para o vocalista brilhar com sua versatilidade: como característica do “metal mais moderno”, o entrelaçamento do clean, gutural e sussurros na melodia dão a dinâmica na execução do Avatar.

Se conseguiram formar um público por aqui? Bem, como há uma gama de idade bem elástica em shows do Maiden, acredito que o mais jovem e que goste de sons próximos de um Marilyn Mason, metalcore e o próprio Death Melódico, deva ter colocado de curioso uma música em sua playlist. Ponto alto? “Colossus”!

Iron Maiden São Paulo
Foto: @sucodm / @brunobellan

Tríade Senjutsu

“Doctor Doctor” PLEASE – começa o show! HAHA. A icônica abertura do Iron Maiden, da banda clássica UFO, sinalizou que tudo estava pronto para a banda entrar um pouco depois das 20h. Sem alterações no setlist, o sexteto inglês começou com a tríade inicial do último álbum, com “Senjutsu”, “Stratego” e “The Writing on the Wall”.

Alguns podem achar este início de show um pouco morno, o que de fato é, e não pela música empolgar ou não, mas por seu estilo de andamento. A primeira, a faixa título “Senjutsu”, temos um Nicko McBrain incorporando uma rítmica que remete ao taikô (tambores japoneses) e permanece assim por toda a canção em seus mais de 8 minutos de extensão.

Na sequência, com “Stratego” e a banda um pouco mais aquecida, temos o padrão galopante de Steve Harris no baixo e algumas notas que dependem mais da tessitura vocal de Bruce Dickinson. É nessa hora que o espírito samurai já tomou conta do estádio e todos estão conectados com o Iron Maiden.

Por fim e com uma bela execução iniciada com Adrian Smith no violão, temos a lynyrdiana “The Writing on the Wall”, que sem sombra de dúvidas, deve ficar nos repertórios da banda. Incrível como essa música fica ainda melhor ao vivo! Espero que outras do álbum “Senjutsu” entrem em apresentações futuras, sendo minhas favoritas “Days of the Future Past” e “Hell On Earth”. Aguardemos. 

Iron Maiden São Paulo
Foto: @sucodm / @brunobellan

Tirando da Gaveta

Após o clima nipônico, temos o primeiro intervalo e que antecede o bloco que considero “Lado B das Antigas”. Assim como pendura por todo o espetáculo, mudanças de figurino, cenários, efeitos pirotécnicos e luzes se torna mais evidente a partir de agora. Em uma vibe de igrejas e vitrais, temos a semibalada “Revelations”, pegando de surpresa e levando o frio embora – se alguém ainda estava.

Bruce também agradece a presença dos fãs e enaltece este laço com a banda, chamando-nos de “irmãos”, dando inicio a “Blood Brothers”, agora um clássico do álbum “Brave New World” e a primeira que temos realmente um coro geral do estádio. Destaco por aqui, assim como na seguinte, o trabalho de Janick Gers, talvez o momento em que mais brilhe durante todo o show. Em especificamente esta, uma música construída para três guitarras, é notável ver o trabalho de harmonia e como elas funcionam bem juntas ao vivo.

Na sequência, a pesada – em música e clima – e uma das minhas favoritas de toda a carreira da banda, “Sign of the Cross”, também exibe Gers em seu auge. Com um palco tomado pelo tom vermelho, a densidade e carga dramática dada por Dickinson na música originalmente gravada por Blaze Bayley é tocante e sinceramente, está funcionando cada vez melhor no atual momento de vida de Dickinson. Performance incrível e também com o destaque no andamento rítmico do baterista.

Ignorada por algumas turnês anteriores, “Flight of Icarus” dá mais uma vez a graça de sua presença e traz Bruce Dickinson com seu lança-chamas aka Rammstein. E não é que ele manejou super bem? O show traz agora uma dinâmica mais energética, continuando até o fim. A largada foi dada!

Iron Maiden São Paulo
Foto: @sucodm / @brunobellan

Desfile de Clássicos

A tão aguardada “Fear of the Dark”, talvez a música mais amada pelos fãs brasileiros, trouxe o impacto de se ver um show em estádio. Os celulares na mão e luzes apagadas, temos a companhia do escuro e do riff característico na guitarra, gerando um coro em uníssono regido pelo “maestro” Bruce Dickinson. Sem respirar, temos na sequência “Hallowed Be Thy Name”, o que dá uma dobradinha excepcional e que pra mim, o ponto alto da teatralidade e atuação do vocalista.

Em músicas mais antigas como estas duas citadas e “The Number of the Beast” que vem na sequência, podemos perceber a finesse de execução de Adrian Smith e seu timbre gordo e gostoso de ouvir; já na outra ponta, temos os dedos ágeis de Dave Murray, performando os mesmos solos há mais de 40 anos e colocando ainda assim, novidades em um arpejo ou escala. É recompensador ter uma banda com membros em seus mais de 60 ou 70 anos ainda criando e dando espaço para a surpresa.

Por fim, a icônica “Iron Maiden”, trazendo novamente um Nicko McBrain técnico e com “pézinho ligeiro”, que mesmo em uma música mais simples como essa, consegue dar um pouco mais de profundidade a versão que fora gravada originalmente por Paul Di’anno. E meu amigo, é aqui que aparece o “CAPETÃO” no palco, uma versão do Eddie toda formada no tinhoso e bem cabulosa. Adorei!

Iron Maiden São Paulo
Foto: @sucodm / @brunobellan

Bis do Bis

Até o presente momento, já estava achando a performance do show em São Paulo um tanto melhor que a do Rock in Rio que vi pela TV. Entretanto, as próximas músicas do BIS, em especial a última, tende a exigir um pouco mais do Bruce na questão de fôlego, e bem, parece que os mesmos problemas, mesmo que mínimos, se repetiram.

O BIS voltou com a primeira música do Iron Maiden que ouvi na vida: “The Trooper”. A nostalgia bateu forte e em meio aos gritos de guerra no campo de batalha, surge o Eddie britânico, duelando contra Dickinson de forma bem divertida – e bem humor britânico. Até então, o retorno pro BIS estava energético e com direito a bandeira do Brasil no palco.

Iron Maiden São Paulo
Foto: @sucodm / @brunobellan
Iron Maiden São Paulo
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As duas na sequência são músicas que Bruce não gravou. Primeiro, uma que não sou tão fã assim, que é “The Clansman”, original na voz de Bayley e que ganhou novos respiros no retorno de Bruce na “Brave New World Tour”. De fato, uma música emblemática, importante em épocas em que a democracia se encontra em crise e entoar o poderoso refrão é digno de muita emoção. A banda se enrolou em alguns trechos e até imagino a causa: por ser muito repetitiva é fácil se perder. Ora, Harris entrou atrasado, ora Gers e ora, na volta para a última parte da canção, Bruce antecipou um dos versos. Alguém ligou de fato? Não!

Na rápida que não está tão mais rápida assim agora, “Run to the Hills”, também teve seu momento de crise nos primeiros versos. Bruce entrou BEMMM atrasado e manteve nesta pegada até a marcação forte do Nicko para o refrão, onde enfim, sincronizou a melodia de voz com o instrumental. Aqui, o problema me pareceu com retorno e não fôlego.

Para fechar a noite com balas e fogos, Winston Churchill dá seu pronunciamento e a banda emenda “Aces High”. Mais uma vez, andamentos mais lentos e uma voz um pouco mais comprometida de Bruce Dickinson, mas convenhamos: quem é que canta essa música em toda sua plenitude e cravando notas de forma certeira? É fato que a empolgação e pulos do público sobressaem a estes pequenos enroscos, terminando o Legado da Besta de forma apoteótica no Morumbi.

Iron Maiden São Paulo
Foto: @sucodm / @brunobellan
Iron Maiden São Paulo
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Iron Maiden São Paulo
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Iron Maiden São Paulo
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Setlist Avatar em São Paulo

  1. Hail the Apocalypse
  2. Let It Burn
  3. Colossus
  4. Paint Me Red
  5. Bloody Angel
  6. The Eagle Has Landed
  7. Smells Like a Freakshow

Setlist Iron Maiden em São Paulo

  1. Senjutsu
  2. Stratego
  3. The Writing on the Wall
  4. Revelations
  5. Blood Brothers
  6. Sign of the Cross
  7. Flight of Icarus
  8. Fear of the Dark
  9. Hallowed Be Thy Name
  10. The Number of the Beast
  11. Iron Maiden

Bis:

  1. The Trooper
  2. The Clansman
  3. Run to the Hills

Bis 2:

  1. Aces High