Os filmes espanhóis de terror chegaram com tudo esse ano. Depois de 13 Exorcismos, lançado em fevereiro de 2023, hoje, 30 de março será lançado oficialmente nos cinemas brasileiros A Primeira Comunhão (La Niña de La Comunión, no original), dirigido por Víctor Garcia.

A trama acompanha a jovem Sara, que acaba de se mudar para o interior com seus pais e irmã mais nova. Um dia, ao voltar de uma balada de carona, ela acaba vendo uma estranha garota de vestido branco cruzar a estrada. Determinada a achar a menina, ela sai do veículo e busca nas redondezas pela criança – porém – a única coisa que encontra é uma boneca antiga, típica de crianças que fazem a primeira comunhão. Após encontrar o objeto misterioso, estranhas manchas acabam surgindo no seu corpo e no das outras pessoas que estavam no mesmo carro, seguido por aparições de um cadáver vestido de branco que a atormenta todos os dias.

Eu gosto bastante de assistir filmes de terror estrangeiros, e digo isso me referindo a filmes fora da esfera estadunidense. Eu acho que podemos aprender muito, e nos surpreender positivamente, com esses longas justamente por eles tratarem de realidades diferente das quais estamos acostumados, e nos apresentar cenários mais interessantes do que os filmes norte-americanos que a muito se tornaram sempre iguais (não a toa, meu filme favorito de terror é o francês Martyrs). Dito isso, eu sinto ainda que há muitas produções que pecam justamente por não quererem ousar, e tentam se alinhar a esses moldes mais conhecidos, talvez numa esperança de ser mais bem recebidos pelo público em geral.

A primeira comunhão é um filme que tem muitas qualidades, mas sofre justamente dessa necessidade de se adaptar a um padrão que não se vê realmente necessário. A premissa simples, porém diferente do que estamos acostumados, é fácil de ser comprada, e as atuações não são ruins, nos oferecendo personagens carismáticos e que podemos nos encontrar. Entretanto, conforme o filme se desenrola, tudo que era único nele acaba se degastando com uma série de clichés que acabam tornando o longa cansativo e previsível.

Eu não sou muito fã do CGI utilizado, porém, acredito que ele poderia ter sido facilmente ignorado se o roteiro tivesse sido mais corajoso, e apostado em um desenvolvimento diferente do que a trama tomou. A verdade é que eu me vi imaginando diferentes fins para o filme, e ele optou justamente pelo mais chato, previsível e bobinho. Enquanto havia uma série de oportunidades para o longa ter ido além da esfera comum, talvez o medo da rejeição pelo público internacional fez com que ele acabasse abraçando uma premissa simples e entediante.

Apesar disso tudo, o filme não é um desperdício total. Como eu disse anteriormente, as atuações pelos personagens principais (principalmente Rebeca e Sara) são boas, e a construção das personagens é cativante, não caindo em estereótipos hollywoodianos de adolescente pura x depravada, na verdade, elas são muito parecidas com o que todo adolescente é: preocupado com o futuro, desesperado por liberdade, arriscando na tomada de decisões erradas, em conflito com seus pais, e com medo de ser ignorado ou desacreditado.

Os sustos gerados são meio do que já vimos em todo e qualquer outro filme de terror, ainda assim, eles conseguem nos pegar aqui e ali. E apesar da história ser simples, ela nos mantém entretidos pela maior parte do longa, só decaindo no final com um desfecho decepcionante.

A Primeira Comunhão é um filme que poderia ter ousado mais e conseguido marcar a plateia, entretanto, ao optar pelo lugar comum, ele acaba desperdiçando as boas atuações e nos entregando um resultado morno e pouco memorável. Ainda assim, o longa tem suas qualidades e pode ser considerado uma experiência agradável, entregando um filme que não decepciona completamente, mas que será esquecido em breve.

REVIEW
A Primeira Comunhão
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Doka
Bibliotecária, especialista em conservação de histórias em quadrinhos, pesquisadora na área de educação, princesa da Disney e apaixonada por Sailor Moon a mais de 20 anos.
a-primeira-comunhao-reviewEspanha, final dos anos 1980. A recém-chegada Sara (Carla Campra) tenta se entrosar com os outros adolescentes de uma pequena cidade na província de Tarragona. Se ao menos ela fosse mais parecida com sua melhor amiga extrovertida, Rebe (Aina Quiñones), as coisas seriam mais fáceis. Uma noite, elas vão para uma casa noturna e, na volta, a caminho de casa, elas se deparam com uma menina segurando uma boneca, vestida para sua primeira comunhão. É aí que o pesadelo começa!