Um dos gêneros mais famosos dos mangás, o isekai é uma fonte inesgotável de inspiração para os autores. Sendo considerado um dos precursores desse gênero, Mushoku Tensei: Uma Segunda Chance desenvolve uma história de aventura, juntando a experiência de entrar num mundo novo à comum vontade de escapar da realidade.

Inicialmente lançado como web novel em 2012 pelo autor Rifujin na Magonote, a obra ganhou sua versão impressa em janeiro de 2014 pela Media Factory. Então, em maio do mesmo ano a Editora Kadokawa passou a serializar a adaptação para mangá e apenas em 2021 ganhou um anime, exibido pela Funimation.

No Brasil, os mangás estão sendo comercializados pela Editora Panini e nós do Suco decidimos dar uma olhada e trazer as nossas primeiras impressões pra você. Então se acomode e vamos dar o Primeiro Gole no mangá de Mushoku Tensei.

Um Mundo de Espadas e Magia

Primeiramente somos apresentados ao protagonista, um popularmente conhecido como “nem-nem” (nem trabalha, nem estuda). Com seus 34 anos, ele não sai da frente do computador, nem mesmo para o funeral de seus pais. Indignados com a situação, seus irmãos decidem fazer um ultimato e o expulsam de casa. Então, enquanto vagava desolado pela rua, o homem acaba sendo atropelado por um caminhão e morre.

No entanto, ao invés de “morrer de verdade”, ele acorda num mundo fantástico, no corpo de um garotinho chamado Rudy. A mulher que agora é sua mãe consegue usar magias de cura, e o homem que agora é seu pai é um espadachim. Desta forma, à medida que Rudy cresce, ainda ciente da sua vida passada e com as memórias intactas, ele aprende magia e desenvolve habilidades com a espada.

Além disso, neste novo mundo sua principal motivação é ser, em alguns aspectos, diferente do que foi na sua outra vida. Portanto, agora chamado de Rudy, o protagonista luta contra sua preguiça e desinteresse pelas coisas e busca se dedicar ao máximo às suas atividades. Ainda, usando a bagagem intelectual por ter vivido 34 anos em sua outra vida, agora como uma criança de 3 anos é considerado um prodígio e um gênio.

Certo, uma vez apresentado o contexto de Mushoku Tensei: Uma Segunda Chance, vamos às nossas impressões.

mushoku tensei
Capa Divulgação / Panini

Poderia dar certo…

Em primeiro lugar, vejamos o enredo. A proposta da história não é a mais inovadora, mesmo que tenha sido um dos primeiros mangás a trazer o gênero isekai, mas é interessante. Um homem que renasce e tem a oportunidade de mudar, de abandonar seus vícios e falhas de seu passado. Juntamente com isso, Mushoku Tensei tem uma forte abordagem anti-bullying, mostrando a crueldade dos atos e como as pessoas em volta devem ajudar o oprimido e repreender o opressor. Bonito, né? Bom, na teoria sim.

De qualquer forma, gostaria de adicionar um ponto positivo para Shirotaka, designer de personagens do mangá, e Yuka Fujikawa, responsável pela arte. Os traços do mangá são encantadores e a composição dos personagens é, até certo ponto, incrível. As personalidades são bem representadas no estilo de cada um, foi algo que me agradou.

Inclusive, foi uma das poucas coisas que fizeram isso.

…mas não deu.

Então, se a obra possui tais pontos positivos e até certo ponto é bem popular, por que ela não deu certo?

Bom, indo direto ao ponto, pois nenhuma obra que mostre uma criança de 7 anos nua e sexualizada deveria dar certo. Porque, independentemente da beleza da arte e da qualidade do design de personagens, colocar pessoas em situações abusivas não deveria ser considerado comédia. Também porque de nada adianta um protagonista querer mudar seus defeitos se a obra não mostra aos leitores que violar a dignidade de alguém também é um defeito.

Foi desconfortável ler este volume inteiro, pois quando menos esperava havia alguma cena de uma mulher sendo desrespeitada, ou de uma criança numa situação sexualmente sugestiva. Além disso, mais para frente na história eles são ainda mais explícitos e abordam abusos e estupros de uma forma que jamais poderia ser normalizada.

Ou seja, tudo bem você deixar de ser um preguiçoso mas continuar reduzindo qualquer mulher às suas partes íntimas? Tudo bem superar seus medos mas ter a consciência de um homem de 34 anos e ainda assim ver crianças de forma sexual? Não, não tá tudo bem.

Enfim, havia vários elementos que poderiam ter feito desta uma obra incrível, inspiradora e gostosa de ler. Infelizmente não foi assim, tornando-se algo desconfortável e simplesmente errado. Por fim, o Primeiro Gole de Mushoku Tensei: Uma Segunda Chance foi como uma golada desavisada num copo de leite envelhecido.

mushoku tensei
Capa Divulgação / Panini

COMPRE AGORA NA AMAZON