Obras que destacam divisões sociais, oprimidos e opressores em tela e todo conceito que envolve ricos e pobres tendem a trabalhar nosso raciocínio quanto a realidade apresentada de um país subdesenvolvido, no caso de O Tigre Branco destaca a conturbada Índia e sua corrupção que rege ambas as classes sociais, como te colocar em posição do que é uma realidade polarizada de escolhas erradas para o sucesso próprio e um modo “fácil e rápido” de se ganhar dinheiro, tudo isso em um gênero bem famoso e aclamado pelo público.

O filme não têm medo de brincar com o estereótipo indiano, a ideia é realmente esfregar na nossa cara a realidade de uma nação colapsada que se acostumou a viver do seu jeito, independente da opinião de quem assiste o filme, a obra te faz pensar e não concordar com ela, não há polêmicas ou opiniões divididas, a mensagem é clara em um roteiro trabalhado em clichês do gênero máfia, tudo é mais fácil se escolher o lado “certo”, dependendo do ponto vista.

Houve uma era de filmes que romantizaram o que era ser um bandido homicida, uma nação cresceu com filmes de Máfia e os defende firmemente (eu inclusive), poucas obras como a série Os Sopranos conseguiu desconstruir o glamour da máfia, quando saímos desse meio e vamos para qualquer outro mundo que não trabalha esse gênero, mas os clichês do mesmo, a maioria prefere criticar de ser uma péssima mensagem, O Tigre Branco atinge essa perfeição por esse tipo de conflito, porque não é possível que se assista essa obra e não absorva a mensagem, a não ser que você só goste filmes açucarados e felizes com mensagens positivas, daí não tem jeito, você vai chorar sangue com O Tigre Branco.

Sempre destacando a relação profissional entre patrão e empregado, a história sempre vai destacar o caminho do sucesso para ambas as classes, um rico tentando ficar mais rico com métodos legais e ilegais, o pobre em busca de seu lugar ao sol, o seu sucesso pessoal para que possa um dia dizer “eu consegui”, mesmo que ele tenha que pisar em outros pobres e ignorar sua família, o importante é a si próprio, não existe lado bom, existe o próprio lado e nada mais, isso é a Índia não só na ficção como na vida real.

Nós estamos acostumados a ficar do lado dos mais pobres porque quem realmente já passou por essa situação de pobreza, ou no mínimo entende isso, tende a se importar com quem realmente precisa, o rico está de bucho cheio em sua varanda gourmet então ele que permaneça por lá, o pobre cada vez mais fica mais pobre e vai perdendo uma coisa por dia, seja algum ingrediente que ficou mais caro, seja a segurança pela polícia militar, seja a esperança de dias melhores, isso no Brasil, agora na Índia, rotulada de o país mais democrático do mundo, consegue ficar muito mais abaixo do que nós aqui no ocidente e cair para o lado errado da moeda para conseguir sucesso na vida, e como muitos conseguem, se torna o lado “certo”, na verdade não é só lá que acontece isso, não é Brasil?

Diálogos metafóricos estão muito bem colocados para explicar algumas situações, mas chega um momento que fica muito explicativo, e esse tipo de artifício é usado no final e fica muito mastigado, a ponto de parecer que quis explicar o filme todo, e perde a carga emocional da cena que visualmente estava transmitindo outra mensagem, se perdeu um pouco durante o filme por causa da narração em off, comentando e explicando situações que nós conseguimos enxergar em tela, e não era nada absurdo de difícil porque, como dito antes, um roteiro clichê fez desse filme algo bem fácil de entendimento, então só se trabalha as camadas, não era necessário explicação e isso incomoda bastante, perde um pouco da experiência, mas não condena a obra em si.

O Tigre Branco conseguiu apenas uma indicação ao Oscar 2021, a categoria de Melhor Roteiro Adaptado está bem equilibrada, e essa obra pode vir forte, mas concorrendo com The Father e Nomadland, é capaz de não conseguir uma estatueta, mas o mundo nos guarda surpresas, nunca se sabe o que pode acontecer, mas a certeza é que independente de poucas indicações. O Tigre Branco é uma crítica social a uma nação abandonada por seu governo e te esfrega na cara sobre o se pensar sobre essa sociedade, e não procurar lado bom ou ruim em um drama social, filme que deveria estar sendo aclamado, mas parece subestimado.