Lords of Chaos é o mais novo filme de Jonas Akerlund, conhecido por trabalhos como “Spun – Sem Limites” e já consagrado como premiado diretor de videoclipes.

Lançado em fevereiro de 2019 no território americano, o longa já angaria diversas críticas da cena do Heavy Metal mundial, em específico, do Black Metal norueguês, gênero este que o longa aborda; uma por conter diversas licenças poéticas (ou “mentiras”) e outra pelo diretor não ter feito um trabalho de pesquisa mais minucioso e nem ter contatado os músicos que são retratados no drama.

True Norwegian Black Metal

Antes de prosseguir para o filme em si, vamos entender o que foi este “Verdadeiro Black Metal Norueguês”. Inspirados por bandas de metal como o Venom – ou até mesmo o Thrash Metal oitentista – a juventude norueguesa da segunda metade dos anos 80 vivenciou a ascensão de um dos gêneros que mais exportou a música norueguesa para o resto do mundo: o Black Metal.

Diferente de outros gêneros como Death Metal e Thrash, o posicionamento do Black Metal seria mais ideológico, estilo de vida e calcado em abordagens a cerca da “Maldade Humana”, do íntimo do Ser. Diferente do que muitas pessoas pensam, não necessariamente o Black Metal deva ser anti-cristão, apesar de ser um dos pilares do gênero (vide bandas de outros países que não possuem o Cristianismo como religião dominante), e a ideia dentro deste aspecto é o do “Resgate das Origens” – o que na Norueguesa seria o Paganismo.

Com tudo isso em mente, surge a mente ideológica personificada do que seria este True Norwegian Black Metal, Øystein Aarseth, ou Euronymous, guitarrista do Mayhem e principal vetor desta nova abordagem musical norueguesa.

Como a ideia do Review é não conter spoilers – e mesmo estes remeterem a história real – o que posso adiantar é de que: se você atrai o mal, o mal terás. Não foi diferente com Euronymous.

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Lords of Chaos (Imagem Divulgação)

Time de novos atores

O longa conta com três personagens centrais desta história – apesar d’eu considerar que seriam quatro, com a personagem de Sky Ferreira. O primeiro deles, o protagonista Euronymous, interpretado de forma carismática por Rory Culkin (irmão mais novo de Macaulay Culkin).

Também temos o lendário vocalista do Mayhem, Dead, obcecado por suicídio e principal forma motriz do gore no filme, interpretado por Jack Kilmer (filho de Val Kilmer); Varg Vikernes, idealizador do Burzum e personagem central na intriga de egos da trama, interpretado por Emory Cohen; e a fotógrafa Ann-Marit, personagem de Sky Ferreira, atriz e cantora luso-brasileira.

Basicamente este é o time de atores que compõem de forma coesa todo o roteiro adaptado de Dennis Magnusson e Akerlund, ora ou outra caricato, mas totalmente críveis. De certa forma, o movimento é tratado como caricato dentro do Heavy Metal.

Licença Poética

Parecido com o que tivemos em Bohemian Rhapsody, as mudanças históricas e adições de fanservice são explícitos por aqui. Até mesmo o diretor diz já logo no início de Lords of Chaos: “Based on truth and lies”.

Isso dá margem para uma melhor “romanceada” do que tivemos realmente – além de que isto não é um documentário – e obviamente deve ferir o ego dos músicos vivos, principalmente de Varg Vikernes, que não deve ter ficado nada feliz com seu lado “bobão nerd filho da vovó” no filme. Caso seja fã do estilo, a dica é assistir de cabeça aberta e como forma de entretenimento – e só.

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Lords of Chaos (Imagem Divulgação)

As Camadas de Euronymous

Algo que eu gostaria de comentar e que ficou claro em minha visão, é do confronto interno de Euronymous. Começando com seus anseios em se tornar famoso: estava claro que ele “pagava” de malzão para ser um rockstar – apesar de quase sempre não admitir. Isto também foi o que gerou certo atrito com Varg, já que o último buscava popularizar a causa de forma anônima.

Não há indícios concretos sobre a homossexualidade (ou bissexualidade) de Euronymous, apesar de Varg afirmar de que ele era. No filme, dá a entender seu afeto por Dead e de que seu sentimento era além de um amigo.

Não menos importante, a figura mulher de Sky Ferreira. Pagando sempre de machão de fast-food, Euronymous não tinha aquele ombro amigo para se abrir, e chorar; ele tinha de ser o cara malvadão da loja de discos Helvet. Não querendo entrar em muitos spoilers, mas deixo o adendo de que a fotógrafa e namorada tem um papel importante no seu desenvolvimento e evolução de personagem.

Escapismo e Fantasia

No primeiro ato do filme é notável e interessante o escapismo daquela juventude. Um dos fatores para esta admiração é quanto ao nosso preconceito quanto a achar que os países nórdicos não “possuem” problemas – e de que os jovens buscam criar suas fantasias macabras como válvula de escape.

Lords of Chaos mostra bem este lado do “carnaval satânico” dos adolescentes da região – e da falta de noção que os mesmos possuem. Não há limites para seus feitos, visto que na visão deles entre quebrar o vidro de um carro na rua e atear fogo numa igreja centenária é algo de peso similar.

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Lords of Chaos (Imagem Divulgação)

Musicalidade Nórdica

Na questão técnica, podemos novamente centralizar na boa direção de Jonas Akerlund e no belo trabalho visual de Pär M. Ekberg, com tomadas artísticas inspiradoras e trazendo a belíssima fotografia norueguesa.

Akerlund, que já ganhou Grammy por “Ray of Light”, com Madonna, e dirigiu clipes extremamente polêmicos como “Pussy”, do Rammstein e “Whisky in the Jar”, do Metallica, provou seu talento para a cinematografia e deve despontar com mais bons filmes futuramente.

Eu, como fã do gênero e de toda sua macabra história, vê Lords of Chaos como um potencial vetor de desmistificação e de preconceitos que este tipo de cena musical é exemplificada na sociedade mainstream, além de contar com uma ótima trilha sonora cheia de clássicos. Colocaram até I.N.R.I. do Sarcófago! 

Controverso, considerado a “fanfic da cena norueguesa da época”, Lords of Chaos deve agradar aqueles que buscam uma boa experiência cinematográfica dramática e com muita licença poética, ou seja, não é um documentário. Por sinal, para quem busca mais informações sobre a cena, recomendo ESTE documentário e ESTE.