Ao som da trilha sonora, esta disponível no Spotify, inicio esta REVIEW. Destaco e já aviso que este artigo será com SPOILERS e caso queira uma opinião geral sobre a versão PC de God of War, indico o Primeiro Gole. Há também um REVIEW de 2018, da versão para PlayStation 4, esta não feita por mim. Caso continue a leitura, fique por sua conta e risco!
Assim como disse em outras oportunidades, nunca fui um fã assíduo da franquia da Santa Monica Studios, até mesmo porquê nunca joguei seus jogos. Esta é minha primeira vez; meu primeiro contato com Kratos e toda sua mitologia. E incrível não? Bem no momento em que sua jornada está em terras nórdicas…
Um Homem Simples
Apesar de não ter tocado nos jogos anteriores, tenho ciência – um pouco dela – de como a história de God of War se desenrolou. Sobrepujando os poderes dos deuses gregos, Kratos teve seu momento de glória… e de perdas. Muito sangue foi tirado e esguichado em suas mãos.
Com todo esse peso em sua alma divina, ele busca sair de suas terras e ir para um lugar bem distante, nos confins do mundo. É aí que ele vai parar nas terras escandinavas e se fixa como um homem simples, comum e corrente. E olha só: ele se relaciona com uma mulher e tem um filho, este é Atreus.
No início do jogo, seu passado fica obscuro, até mesmo nesta nova vida viking que anda levando. Não temos muita informação de sua mulher – que adoece e morre. É já de cara que temos a missão, junto a seu filho, de jogar as cinzas no montanha mais alta de Midgard.
O Luto de Pai e Filho
A relação entre os dois não é das melhores. Me remete muito entre Joel e Elle, de The Last of Us, ou mesmo Wolverine e X-23, em Logan. Ambos estão vivendo o Luto; um de sua esposa e o outro, de sua mãe.
É notável que Kratos não levava jeito paras ser o “paizão do ano”. Criado em Ferro e Fogo, seus sentimentos esvaíram em meio às cinzas da guerra. Mas é interessante como isso vai evoluindo durante o jogo e como dentro deste “homão ríspido”, há generosidade. Destaco a direção e roteiro neste aspecto, que junto a cinematografia, os diálogos não resvalam no overreacting meloso hollywoodiano.
Além de cada um lidar com a perda, as complicações se potencializam nos combates. Depois de passar por treinos de caçar e atirar, percebemos que há algo de especial em Atreus. Um garoto esperto, determinado e que não teme nem os mais perversos monstrengos do game. É nítido que assim como o “garoto”, Kratos absorve muito aprendizado com sua cria, o que dá uma profundidade interessantíssima na relação entre pai e filho, fugindo dos clichês tão bem conhecidos.
Midgard e Além
Não há civis ou civilizações. Apesar disso, o mundo é rico e há uma boa quantidade de personagens secundários. Alguns, gostei mais; outros, deploráveis, mas condizentes com toda a trama. Destaco aqui a harmonia – ou desarmonia – dos irmãos ferreiros Brok e Sindri, trazendo um humor ácido para o equilíbrio do mundo um tanto quanto decaído.
Decaído? Sim! Parece que neste momento em que estamos vivendo esta aventura com Kratos, Midgard e os outros Reinos outrora eram resplandecentes e cheios de aventura. Por sinal, o conteúdo de lore é muito vasto, e adorei como retrataram os deuses nórdicos, em especial o passado de Týr e seu envolvimento com os Gigantes para propagar a paz.
Este equilíbrio entre o tratamento do passado e presente de Kratos em paralelo com a história de outros personagens é o que me deu a gana de jogar horas e horas ininterruptas: sempre havia algo interessante para acontecer; e sempre queria avançar mais!
Também fugindo dos clichês, não temos – ainda, pode ser que venha nos próximos jogos – uma história focada nos deuses de primeiro escalão. Nada de Thor ou Odin, ou pelo menos, não como a cultura pop gosta de tratá-los. Há muito da mitologia “contada” e subaproveitada pelos estúdios de cinema e jogos, e foi o que engrandeceu todo o cenário, servindo de pila fundamental para o próximo jogo, God of War: Ragnarok.
Fotogafia e Tratamento do Mundo
Cory Barlog. Eis aí um grande nome da indústria e não é por menos, o cara sabe fazer uma história épica. A câmera sobre os ombros, com o Kratos um pouquinho de lado, nos dá a impressão de estarmos atrás dele com uma câmera também sobre os ombros, e gravando seus movimentos.
A cinematografia presente no jogo é evidenciar nós como telespectadores. Estamos vendo uma história sendo contada. Não senti imersão como em outros jogos, e sim, algo mais passivo e sendo trabalhado na frente de meus olhos. É difícil explicar, mas dessa forma, temos a nitidez tridimensional do nosso campo óptico, o que ajuda na experiência em batalha, cutscenes e diálogos. É claro que como não há interrupções entre transições de mapas ou acontecimentos, isso é potencializado.
Junto a esta contação de história temos a belíssima trilha sonora de Bear McCreary, que não foca apenas na “ação” ou em algo próximo do “power metal sinfônico”. Temos muita melancolia, tensão e até momentos de terror, quando urge criaturas colossais em meio ao graves da Tuba; é de arrepiar!
Desenvolvimento
Há muitos anos eu não tinha essa vontade de jogar “horas e horas” como aconteceu com God of War. Pois bem, foi em apenas dois dias; 12 horas num domingo e 8 horas na segunda, para então “fechar” a história principal do game. Tudo flui muito bem no jogo e a alternância entre batalhas e cenas dramáticas, dá um respiro em querer continuar e não se tornar um hack n slash cansativo.
Falando em dramaticidade, destaco a dublagem brasileira, em especial com Ricardo Juarez como a voz poderosa de Kratos, Felipe Volpato como Atreus e Beatriz Villa como a Freya, com atuações notáveis e que dão um brilho a mais nas cutscenes mantendo o foco do jogador.
Pois bem, tendo todo esse pano de fundo quanto a sua questão narrativa, direção e roteiro, como é o andamento do jogo? Acho que é aqui, acredito eu, que ele se destaca dos demais anteriores, fugindo do hack n’ slash padrão, repetitivo e cheio de quick time events; deu certo? Com certeza, por sinal, um ícone neste aspecto. Mas este aqui, e pelo jeito, também o próximo, é um novo respiro na franquia.
Passando pelo drama do Luto, da relação Pai e Filho, e do embate de egos divinos e mitológicos, a história transborda em uma campanha onde o protagonista e todos os seus personagens em volta progridem. Ressalto três pontos cruciais, ou clímax nesta jornada:
- O ponto de virada de Baldur, onde descobrimos seu “ponto fraco” e sua relação problemática frente a sua mãe. Não considero dos combates mais interessantes do jogo – o do Dragão no cume da montanha, é o ponto alto – mas o quanto Freya está dividida em suas ações mesmo sendo uma deusa.
- A conclusão da trajetória de Tyr e seu “mapa” cheio de puzzles é um dos destaques intelectuais do jogo. Vale lembrar que é de extrema importância angariar pontos de memória e leitura de runas para uma melhor compreensão de sua “lenda”.
- Junto a narrativa externa e uma de background, temos também a resolução da trama pessoal Kratos x Atreus. E não é que o garoto é Loki? Filho de um deus (Kratos) e da giganta sua mãe, o que dá a entender que seu papel daqui em diante se tornará ímpar. Será que Atreus/Loki terá sua própria série de jogos?
Combo, Controle e Combate
Já dito acima, os elementos de Ação desenfreada dos jogos antigos se transformaram em três frentes de gameplay, com exploração, combate e puzzles, algo próximo do que a gente vê na nova trilogia Tomb Raider, por exemplo. Ouso dizer que com adição da câmera livre e elementos de RPG, mesmo que sutis, trazem um pouco da vibe soulslike, mas claro, com menos requinte na forma de combar e mais destaque no visual.
A mecânica do machado, o Leviatã, é uma das coisas mais divertidas do jogo. Mesmo se, não pegássemos de volta as Lâminas do Caos mais pra frente, um jogo apenas esmurrando e dando machadada nos “bichos”, já seria de ótimo tamanho. Além de golpes com R1 e R2, também podemos lançá-lo – ele retorna como um Mjölnir – e utilizar de técnicas para melhorar nossos combos e destravar regiões através de puzzles.
Atreus é o nosso botão X, e é incrível a versatilidade que criaram para este único botão, já que além de lançar flechas, o garoto, através do desbloqueio de habilidades, também luta, imobiliza e até invoca alguns seres para nos auxiliar contra os inimigos. Aqui vi uma boa forma de utilizar dois personagens sem fazer a “troca”, propriamente dita, pois de fato, o protagonismo ainda é do Kratos.
Ainda com relação ao combate, este se mantém violento com golpes especiais em cutscenes e um Fúria Espartana avassalador, onde podemos ativar ao coletar fragmentos que inimigos – ou cenários – propiciam para o enchimento da barra de energia. Dica: as batalhas são diversas e muitas vezes não é só “socar a porrada”, pois algumas exigem estratégias mais robustas, e no endgame, contra as valquírias, sua paciência e habilidade serão postos a prova.
E depois do fim?
Com aproximadamente 20 horas, fechei a história principal de God of War. Pouca coisa? Que nada! Deixei muitos mapas para trás e localidades com puzzles que não resolvi, para dar ênfase e não perder foco na história. Além disso, o game ganha muito conteúdo após seu fechamento, com acesso a Reinos, novas missões, recursos e uma espécie de “raids” contra as valquírias.
A quantidade de colecionáveis, para quem curte essa vibe “raideriana”, é um prato cheio, pois, junto aos gráficos e paisagens maravilhosas, recompensam em coleta de mais recursos para seu Equipamento. Que tal deixar todas suas habilidades no Nível 5? Aposto que você terminará o jogo, e suas Lâminas do Caos não estarão nem no 4, não é mesmo? Pelo menos, é o que aconteceu comigo…
God of War merece o destaque que teve outrora, também com essa espécie de “reboot” em 2018, e agora com este ótimo port para PC, com otimizações de performance e novos filtros para abrilhantar ainda mais sua jogatina. Kratos ainda vive, bom, até o Ragnarok…