Existe uma verdade no cinema que todo cinéfilo ama e os outros não tão fanáticos odeiam: a temporada de Oscar entrega obras primas de chorar rios de lágrimas e aplaudir por horas.
Passa-se os anos, e toda vez um filme indicado aos grandes prêmios de Hollywood satisfaz de forma tão emocionante e inesquecível que faz você dá valor a cada filme que entra na lista de indicados, e o vencedor do Globo de Ouro, Green Book – O Guia é mais uma das provas concretas desse argumento, seja superficial ou profundo, o filme conquista a todos os corações.
Inspirado em uma história real
Inspirado em uma história real, o filme conta a história de uma amizade de um italiano do bairro do Brooklyn e um negro da grande elite, por ser um italiano da “gema”, o personagem de Viggo Mortensen é racista, grosso e malandro, enquanto o de Mahershala Ali é aristocrata, nobre e um excelente pianista.
O filme retratado em épocas racistas, se apoia em um tipo de humor que te diverte aos risos e conscientiza, um branco sendo motorista particular de um negro em décadas antigas é algo que chocaria o mundo, porém um pequeno detalhe do filme deve ser levado em consideração, o negro que normalmente é retratado como o pobre, é o rico da vez, e ele não é só julgado pelos brancos, mas até pelos negros de classe baixa, visto como se fosse uma ofensa para as pessoas de sua cor.
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No filme eles o vêem como o negro que quer ser branco, quando na verdade ele é um negro criado em berço de ouro, algo visto de forma equivocada para aquela época, já o italiano é malandro de velha data, envolvido com a família, sempre ao estilo mão leve e sem escrúpulos para acertar as contas na porrada.
Mesmo sendo classe baixa, as portas sempre estão abertas a ele, claramente por ser branco, mesmo assim, é o porradeiro que se faz de mafioso, o estilo garanhão italiano que intimida pela sua cara feia, jeito de falar e atitude estourada, a amizade dos dois constroem um aprendizado a todos que assistem e até para os próprios personagens, o italiano aprende o quão babaca ele estava sendo por ser racista, e o pianista aprende o quanto sua atitude de elite e ego inflado afastava as pessoas dele, o tornando um rico sozinho no mundo.
Brancos e negros, pobres e ricos, aristocratas e malandros, pode brincar com o que você quiser, a diferença sempre será atrativa para você, seja do amor uma simples amizade, o desconhecido é no que atiça a curiosidade, e as personalidade desse filme é a prova viva.
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Personalidades
A diferença de personalidade é a principal base do filme, porém não é a engrenagem que faz a trama andar. O humor na dosagem certa amarra a história para te deixar preso em um maravilhoso filme, não escrachado a ponto de ser pastelão, não leve a ponto de ser uma sátira; situações em cena, diálogos pensados e costumes de cada um é o que te diverte em Green Book, consegue equilibrar com as situações incômodas de racismo e preconceito, como um ponto que deve ser a maior mensagem do filme.
O fato do pianista ser a celebridade que deveria ser exaltada e respeitada, é tratada como mais um negro qualquer que não merece a devida atenção, a não ser quando está tocando, mesmo assim ele se impõe de forma egocêntrica, porém o italiano mostra que as coisas são diferentes, e isso mostra a redenção pelo seu racismo apresentado no início da filme, por uma única cena de quase dez segundos.
Já tem de uns tempos para cá que Hollywood tem conversado com o público sobre questões racistas impostas no dia a dia, mas uma coisa é trazer filmes mais fortes como foi Mudbound: Lágrimas Sobre O Mississipi, história essa que foi baseada em uma história real, acontece que Green Book- O Guia também é, e trabalha com o humor, mais fácil de digerir, e bem mais tranquilo em passar a mensagem, é muito bom que nenhum dos dois tipos de filme extraiam juntos nos cinemas, pois um deles será sempre esquecido, quando os dois precisam ser assistidos, seja o estilo dedo na ferida, ou comédia para toda a família.
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Lição de Vida
Traz uma lição de vida, diverte sem ser escrachado e mal começou o ano e esse filme já deu um Globo de Ouro para Mahershala Ali, como dito, a temporada de premiações não é a mais esperada pela massa, mas é a mais aclamada, e recompensa o público com grandes filmes que provam a genialidade dos estúdios, mostram que pode ser criativo com padrões já conhecidos, mesmo usados para alguns artifícios de roteiro, Green Book acerta em todos os pontos sem erros e pode ser chamado de um dos melhores filmes de 2019, mesmo ainda estando no início do ano.