Panorama do Inferno, ou Jigokuhen, é um mangá de terror escrito pelo grande Hideshi Hino, uma das grandes referências de terror japonês.
O volume único foi publicado, originalmente, em 1984, pela editora Hobari Shobo. Saiu no Brasil pela Conrad em outubro de 2006, com miolo de papel offset e cerca de 200 páginas.
Era para ser a última obra do autor, que iria se aposentar após perceber que sua carreira estava em declínio. Mas não foi o caso e Hideshi continuou publicando histórias de terror após escrever Panorama.
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A visão do inferno
Panorama do Inferno nos apresenta um pintor sem identificação, insano, que faz suas artes com seu próprio sangue. Ele deseja pintar sua obra-prima, o Panorama do Inferno Apocalíptico, representando o fim do mundo. Mas é um trabalho para a vida toda, que precisará de muita dedicação e sangue.
Falando diretamente com o leitor, o Pintor-Sem-Nome então faz um tour por todos os seus Retratos do Inferno, como chama suas pinturas.
Enquanto nos mostra um por um dos 13 retratos infernais, Hideshi Hino vai mesclando o nonsense, o gore e o horror, para nos imergir em histórias perturbadoras e algumas bastante pesadas.
As pinturas misturam o passado do pintor, com sua mente sombria e perturbadora. Descobrimos como ele se tornou o louco que conhecemos no início, sua infância na guerra e sua família complicada e corrompida. Uma ótima sacada do autor, pois pode gerar certa identificação nesse caos que é o mangá, aproximando o leitor do personagem.
Seu avô da Yakuza, seu pai violento, sua mãe perturbada, sua esposa estranha e seus filhos cruéis. São personagens extremamente importantes, que protagonizam os melhores Retratos do Inferno… Quer dizer, piores.
E nem tudo é inventado. Hideshi traz muito de sua vida pessoal para o mangá, tornando ainda mais tenso, mesmo que as piores partes sejam apenas ficção.
Retratos do Inferno
Não há retratos leves, isto é certo. Podem haver cenas que irão deixar o leitor perturbado, incomodado ou até enojado. Há muita violência, morte, sangue, crueldade, então, já fica o aviso.
Dentre todas as histórias, as mais marcantes são: “O Sonho de um Bebê Louco”, focado nos filhos do pintor e suas crueldades; “Hospedaria do Inferno”, protagonizado por sua esposa, que administra um bar sombrio; as 3 partes da “Três Gerações de uma Tatuagem”, sobre o passado do pintor, de seu pai e avô; “Império das Ilusões”, que mostra como a II Guerra Mundial afetou essa família, principalmente a bomba de Hiroshima; e por fim, “Panorama do Inferno Apocalíptico”, finalizando a obra de forma épica.
Há muitos retratos mais curtos e menos impactantes, mas o conjunto conversa entre si, contando uma história não-linear sobre loucura e terror. Esses citados acima são mais longos e, por isso, são melhor trabalhados.
É interessante ver a loucura de cada um e como isso afeta suas vidas nada convencionais. Suas relações perturbadoras são tratadas como normais entre eles. E tudo começa de seu avô, passando de geração em geração, afetando todos ao redor. Isso é o mais interessante, pois é algo possível de relacionar com a vida real.
Talvez seja isso que torne a obra verdadeiramente pesada, saber que há coisas ali muito reais, vividas por diversas pessoas ao redor do mundo. Nós aguentamos a ficção, mas será que aguentamos a realidade?
E quem é Hideshi Hino?
O autor começou escrevendo histórias de comédia e ficção de época. Após ficar fascinado pelo livro “O Homem Ilustrado”, de Ray Bradbury, Hideshi fez sua transição para os quadrinhos de horror. Ficou conhecido como um dos grandes nomes do gênero no Japão, se tornando referência e inspiração para outros autores.
Em seu currículo, há mangás como “Zouroko no Kibyo” (A Estranha Doença de Zoroko), o primeiro do gênero de horror, “Akai Hebi” (A Serpente Vermelha) e “Jigoku Mushi wo Kuu! Oninbo” (Oninbo e os Vermes do Inferno).
Nasceu na China, mas sua família era imigrante japonesa. Por conta da guerra, tiveram que se refugiar no Japão, fugindo do desejo de vingança de alguns civis chineses pelos anos de dominação nipônica. Isso influenciou muito sua carreira e obras, como podemos ver em Panorama do Inferno.
Além de ser mangaká, também é cineasta, trabalhando com direção e roteiro de alguns filmes. Sua paixão é o cinema e isso o fez começar nos quadrinhos. Um de seus filmes, “Guinea Pig 2 – Flores de Sangue e Entranhas”, se envolveu em alguns rumores polêmicos. Há boatos que o ator Charlie Sheen acreditou ser um snuff movie (filmagem real de assassinatos e outros tipos de violência), mas a história nunca se confirmou.
Você pode ler sobre essa história e outras ao final do mangá. Há duas pequenas matérias sobre o autor que ajudam a entender um pouco sobre seu contexto e passado histórico, familiar e profissional. Recomendo a leitura.
Panorama do Inferno vale a pena?
Não indico esse mangá para quem não gosta ou não consegue ler/ver cenas fortes de tortura, violência, assassinato, entre outros. Porém, para quem curte gore mesclado ao nonsense, Panorama do Inferno é uma boa forma de conhecer o trabalho do autor, apesar de não ser sua obra-prima. Então coloque uma trilha sonora arrepiante e mergulhe no inferno sem fim de Hideshi Hino.