Dia 8 de março foi o Dia Internacional da Mulher, por mais que o dia da mulher seja todos os dias, a muito tempo que essa data virou motivo para fins comerciais, como a própria Capitã Marvel que teve sua estréia um dia antes da data por aqui.
Porém março tem sido o mês para filmes direcionados às mulheres, protagonistas fortes que impressionam por seus feitos e não por ser um rostinho bonito, mas saindo dos blockbusters repetitivos e cansativos, somos apresentados a um filme baseado em uma história real, sem delongas, Suprema conta a história da juíza Ruth Bader, um dos maiores símbolos feministas da atualidade.
Quem foi Ruth Bader?
Ruth Bader Ginsburg lutou pelos direitos iguais para homens e mulheres na sociedade na década de setenta, a mesma está na Suprema Corte dos Estados Unidos até hoje, trazendo pontos importantes a discutir, casos como a liberação do aborto foi trazida por ela em debate nos Estados Unidos, mas que não teve o final feliz que todos esperavam.
Mesmo assim a mesma continua na luta, porém foi responsável pela lei de discriminação de gênero, a qual gera reivindicação por tal ato, colocando como igual a forma de pagamento para qualquer funcionário, seja lá qual for o gênero em questão, está na cara que a juíza é um símbolo mais forte do que a Meryl Streep e a Mulher Maravilha juntas, a ponto de ter documentário, matérias em jornais e revistas, além da sua própria linha de bonecas, e agora no início de 2019, um filme contando sua história.
Felicity Jones é maravilhosa, talentosa e um nome forte de Hollywood, mas tudo isso já é sabido, vive a juventude de Ruth Bader rumo à conclusão acadêmica na década de sessenta, mostrando todos os problemas a qual passou para entrar na área de direito, fracassou e acabou se tornando professora, mas o tempo passa, e na década de setenta, tinha as manifestações feministas que fez Ruth Bader se mover e fazer algo a respeito, o filme, dentro de uma trama mais dramática e saindo um pouco da realidade, explora os feitos da ex professora que se tornou juíza da suprema corte, lutando com todos os argumentos possíveis para combater algo presente no dia a dia que se aparenta normal para muitos, mas que só as mulheres entendem de verdade a situação, o extremo patriarcado presente em profissões de alto escalão.
No filme, os juízes rotulam uma mulher importante para sociedade como responsável por cuidar da casa e trazer conforto ao seu marido e filhos, o famoso termo bela, recatada e do lar, todo esse discurso é destruído pelo de Ruth Bader, a qual mostra que o papel da mulher é além de ser uma doméstica, e mesmo se for, não pode ser impedida de trabalhar para ajudar na casa, do mesmo jeito que o marido pode ser um doméstico, demonstrado também no filme pelo seu marido, o qual passa por um câncer de testículo, na vida real, o mesmo já é falecido.
A Suprema Corte
Como o filme é sobre uma juíza da suprema corte, certos elementos não poderia faltar na trama, que é a presença de cenas em tribunais, discussão de legislação e até debate de ideologias, facilmente comparado com a série Law and Order.
Caso nunca tenha assistido ou nunca gostou do tema jurisdição em séries ou filmes, você terá um problema; achará um filme cheio de diálogo e pouca coisa se resolvendo, uma lentidão que faz com que o filme se prenda a um único momento, o tribunal da suprema corte em andamento, o que se mostra extremamente necessário, pois está construindo uma situação de conflito, não é algo generalizado como machismo contra feminismo, é um tópico apenas, Ruth Bader sabia da dificuldade de mudar a legislação e que sofreria com o preconceito de ser mulher, mas naquele muro gigante construído pelo patriarcado, ela viu um feixe de luz que poderia derrubar a velha legislação, no caso de Suprema, ela usou argumentos dentro do que estava presente no próprio patriarcado, e virou para o lado feminista, mostrando que enquanto algumas têm o direito da voz e devem gritar a mensagem do poder feminino, outras precisam agir em prol das feministas linhas de frente que postam textos e gritam em protestos, isso é o feminismo, cada uma lutando do jeito que for para combater o machismo.
A fotografia desse filme é algo de ser contemplado e aplaudido de pé, um filme de época jogado para o colorido harmonioso que estamos acostumados nos últimos anos, saindo do datado e eternizando essa obra como uma cinebiografia de nota máxima, mas nada é melhor ou mais chamativo do que a primeira cena do filme, um monte de homens engravatados que são diferente de rostos mas iguais em vestimenta e jeito de andar, do nada, explode na sua cara uma figura que te faz sorrir ao quebrar todo aquele preto e branco de homens calvos ou não, vestido azul marinho desbotado, com tornozelos a mostra e sapatos de salto da mesma cor, uma bolsa que difere das pastas normais de um executivo comum e um cabelo curto, mais precisamente antes de chegar nos ombros e brincos de pérolas, imagem a qual é usada no pôster do filme, coloca todos os homens virados para trás, enquanto Felicity Jones te olha, contrariando tudo o que a legislação da época colocava para as mulheres, praticamente um resumo do filme.
Representatividade
Esse filme estréia em março de 2019 no Brasil, mas que nos EUA foi lançado em 8 de novembro de 2018, afinal onde estava esse filme na lista de indicado das inúmeras premiações do cinema?
Do mesmo jeito que Aquaman e Pantera Negra possuem o mesmo nível de efeito visual artístico e mediano, Suprema possui o mesmo tipo de mensagem forte para a minoria e pode ser interpretado como um protesto feminista do mesmo jeito que Green Book: O Guia e Infiltrado na Klan funcionaram como protesto contra o racismo (cada um a seu jeito), ambos são reflexivos e divertem da mesma forma, pode colocar essa na conta da academia, Suprema não ter sido indicado a nada é um erro grotesco e amador da vergonha que se tornou a academia em épocas de premiações.