Situado em uma China antiga e fictícia mas amarrado a convenções reais, como dinastias, consortes, eunucos, hierarquias e etiquetas, Raven of the Inner Palace era uma das obras que eu tive a oportunidade de ler, porém pela falta de tempo acabou sendo deixada na cabeceira.

Contudo, tive a feliz notícia de que a obra ganharia uma adaptação e não tardei para ir vê-la. Assim, o anime saiu, vi uma, duas, três vezes e fiquei pensando em como elaborar um texto “didático” sobre a obra.

Após o contato, cogitei em escrever sobre a narrativa ou o gênero, mas enquanto folheava um artigo acadêmico sobre a personagem e o espaço na ficção me deparei com um trecho que reflete a obra:

Pode ser um bosque incrustado nas tramas de um tapete velho, um vale de montanhas cinzentas, uma rua deserta onde repousa uma árvore solitária ou um cemitério abandonado, toda narrativa iniciada com uma descrição de espaços como esses se assemelha a um convite, a uma porta se abrindo para um mundo estranhamente hospitaleiro. A estratégia é tão eficaz que as reações são imediatas: a curiosidade, a hesitação e o medo garantem as impressões de que falava Edgar Allan Poe em suas conhecidas resenhas sobre os Twice told tales, de Nathaniel Hawthorne.

Okay, mas onde está a reflexão e semelhança disso com a animação?

Lá no inicio da animação, um narrador heterodiegético – não participa da história que está contando – diz:

Lá no fundo do Palácio Interno, vivia uma consorte conhecida como a Consorte Corvo. Ela tinha uma posição especial apesar do titulo de consorte. Afinal, não tinha deveres noturnos. Sua vida era luxuosa no Palácio Interno, mas não tinha contato com o Imperador. Diz-se que ela é capaz de usar técnicas misteriosas.

O que é a Consorte Corvo? Por que ela vivia no fundo do Palácio Interno? Por que não tinha contato com o Imperador? E que técnicas misteriosas seriam essas que ela é capaz de usar?

Liu Shouxue, a Consorte Corvo, aqui une-se ao espaço – o Palácio Interno – e produz no expectador/leitor o estranhamento, a curiosidade, a hesitação e o medo que o trecho do artigo expõe.

Enfim, Raven of the Inner Palace entrega o que promete em relação ao seu gênero – mistério. Além disso, conduz o expectador para uma China fictícia recheada de momentos de sutileza, tensão, suspense, terror, medo e todos os outros efeitos que o gênero explora.

Eu poderia ir mais além no texto, mas sinto que estragaria a experiência de vocês leitores e leitoras se eu apresentasse mais detalhes. Afinal, é um mistério e como todo e bom mistério, ele tem que ser desvendado por nós mesmos.

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