terça-feira, junho 17, 2025
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Chi no Wadachi | Review

Chi no Wadachi review
Imagem Divulgação

Seis anos depois de sua estreia em fevereiro de 2017, Chi no Wadachi chegou à sua conclusão, a história das trilhas de sangue percorridas por Seiichi Osabe. Contrário às expectativas durante a reta final do mangá, o célebre autor de Aku no Hana e Happiness conseguiu mais uma vez entregar um final esplêndido e neste Review eu gostaria de esboçar com vocês algumas razões de Chi no Wadachi ser provavelmente a obra-prima de Shuuzou Oshimi.

Uma semi biografia

Já tivemos um Primeiro Gole lá atrás em 2018, escrito pela Fabi, que dá uma sinopse geral de Chi no Wadachi. O mangá é um thriller psicológico que conta a relação repleta de tensão entre Seiko e seu filho, Seiichi.

Assim, os primeiros capítulos mostram uma relação mãe e filho marcada pelo afeto descomunal e pela superproteção. Inclusive, superproteção esta que culmina num evento fatídico que torna os dois cúmplices dde uma mentira.

Então, por manter esta mentira de pé pelo bem estar de sua mãe, vemos como Seiichi sofre uma série de manipulações e chantagens emocionais. Isso o priva de sua própria individualidade e semeia nele uma série de traumas.

É da natureza de um Review que se comente sua história à fundo.

Então HAVERÃO SPOILERS

Mesno assim, a intenção desse texto é mais tópica do que cronológica.

A tentativa de homicídio contra Shigeru e o suspense gerado enquanto Seiichi tenta acobertar o crime da mãe foi apenas o jeito, muito bem bolado diga-se de passagem, que Oshimi conseguiu para contar uma história em certa medida pessoal, uma história de alguém que não pôde nascer num lar saudável e ter uma relação saudável com sua mãe.

Portanto, Chi no Wadachi carrega elementos autobiográficos em sua narrativa, o que ajuda a entender certos paineis e páginas confusas e incompreensíveis a princípio. A confusão é atenuada quando enxergamos o mangá de Shuuzou Oshimi como uma exposição experimental dos seus sentimentos e tentamos ler o mangá menos com suas palavras e mais com suas imagens.

Esse ponto é de extrema importância e vou frisá-lo mais uma vez: Chi no Wadachi não é um mangá de diálogos.

Por outro lado, sua riqueza iconográfica é inigualável e todos que pausarem para observar a arte do mangá e as expressões ali contidas vão se deparar com ouro. Não que não tenha diálogos marcantes no momento devido; eles só não são o foco do estilo do autor, assumidamente ruim com as palavras.

Além disso, no posfácio de Okaeri Alice, outro mangá recentemente concluído, vemos um Shuuzou angustiado e derrotado frente à sua incapacidade de transmitir exatamente os seus sentimentos, contentando-se com suas tentativas desconexas.

Voltando ao caráter autobiográfico de seus mangás, Shuuzou menciona nesse mesmo posfácio uma gagueira que ele desenvolveu quando criança. Inclusive, gagueira essa que aparece momentaneamente em Chi no Wadachi, nascida do estresse submetido ao pequeno Seiichi graças à atitude controladora de sua mãe.

Fukishi e a tentativa de independência

A história de Chi no Wadachi é centrada em poucos personagens; temos Seiichi, seus pais e uma menina, o primeiro amor de Seiichi: Fukishi.

Ela é aquele encontro fatídico que acontece pelo menos uma vez na vida de todos nós, de onde começos a nos individualizar como pessoas. O primeiro palpitar de coração, a primeira falha respiratória, os primeiros sentimentos incapazes de surgir por meio de nossos pais (e que quase sempre o vivenciamos alheios a eles), o vislumbre da saída do ninho.

Dela não sabemos muita coisa, salvo de que ela tem problemas com o pai violento. Por qualquer razão que seja, Fukishi toma interesse em Seiichi, rejeitando investidas de outros garotos para poder passar um tempo com o menino pouco notável. Seus porquês ficam à imaginação de quem lê.

Relação sincera

Interessa ao mangá mostrar a relação dos dois como um tentativa mútua de independência de seus lares. É com a Fukishi que temos, depois de apenas trinta capítulos, um momento de leveza no mangá, sem aquele ar sinistro envolto pela vigilância tenebrosa de Seiko.

Também, é no quarto da Fukishi onde Seiichi pode saber pela primeira vez na vida o calor de um afeto genuíno. Nesse mesmo lugar é onde ele pode se explodir de prazer pela primeira vez e desligar a imagem de sua mãe da mente (os dois não chegam a transar, calma, é algo mais puro e fisiológico que isso).

Assim, há um desenvolvimento bacana em jogo e que te faz torcer pelo melhor na vida dos dois.

Porém, nada nas obras de Shuuzou Oshimi é tão simples assim e a tentativa fica apenas nisso. Ela é frustrada pelo controle maciço de Seiko na vida de seu filho. 

Enquanto escrevo isto, me dei conta de um dos porquês do enredo de Chi no Wadachi ter me cativado tanto. Não, não seria pela minha própria relação com a minha mãe, a quem muito amo.

Possível inspiração?

Antes disso, a estrutura narrativa de expor a vida de um homem que tem a sua vida, seu futuro e sua personalidade arruinado pela sua progenitora lembra demais a história do Dr. Octopus. Um clássico vilão do Homem Aranha, que apareceu no Brasil no Homem Aranha Anual número 6 e que por acaso tive a chance de ler quando criança. Ali fui marcado pela história do menino Octavius, retraído e vulnerável, sujeito às agressões verbais do pai e à superproteção materna.

Assim como Seiichi tem uma perspectiva de vida ao lado da Fukishi, Otto e Mary Alice vislumbram um futuro juntos. Porém, ambos os futuros são interditados pelo controle de duas mães que prendem sua prole.

É muito fácil inventar conexões pós-fato, mas é razoável supor que o teor da história de Chi no Wadachi tenha apelado a uma certa nostalgia de uma criança que foi bastante fã do Homem Aranha e que foi bem impactado pela história de um vilão desesperado pela busca da cura de uma doença que afligia seu antigo amor.

Preso pelo sangue

Chi no Wadachi (Imagem Divulgação)

De volta ao ninho que é vetada a saída, Seiko afunda suas garras na mente de Seiichi, cometendo uma série de chantagens emocionais e violências psicológicas, fazendo o garoto jurar lealdade até mesmo às suas mentiras. Ela vai ao extremo de tentar manipular as memórias da tentativa de homicídio de seu sobrinho.

Paradoxalmente, Seiko parece animada em ter suas mentiras expostas e ver tudo à sua volta desmoronar, como um jeito de… se libertar? Mas se libertar de que?

Não sabemos ainda os detalhes desse comportamente antes da Seiko convenientemente abandonar Seiichi à própria sorte, abandonando a ele, a seu marido e à sua própria maternidade.

No final da história de suspense iniciada com uma trilha em família que termina em sangue, Chi no Wadachi embarca num segundo momento. Desta vez, para virar uma história impactante sobre trauma e os jeitos de com ela lidar.

Trauma e Abandono

Enquanto lia Chi no Wadachi, tive o prazer de fazer essa leitura acompanhado de uma pessoa igualmente fissurada pelo impacto emocional que esse mangá é capaz de gerar.

Há em seu blog uma lista extensa de textos que versam sobre seus simbolismos, suas possíveis metáforas, perfis psicológicos dos personagens, muito mais desenvolvidos e aprofundados do que este texto se pretende ser. Especificamente no texto sobre Seiichi, é focada a questão do PTSD, ou Estresse Pós-Traumático.

Além disso, o canal do Livedoor News no YouTube tem até uma série interessantíssima de cinco capítulos com o psiquiatra Yasufumi Nakoshi analizando os três primeiros volumes de Chi no Wadachi de um ponto de vista clínico. No entanto, precisão de avaliações psicológicas à parte, é possível marcar o momento exato em que Seiichi é plenamente quebrado em pedaços, logo antes do primeiro timeskip.

Precisamos entender primeiro o que aconteceu.

Quem chegou até aqui e ainda assim continua lendo com certeza não vai se importar com os SPOILERS que já foram mais do que avisados a essa altura, então vamos lá.

Fratura

Seiichi caminha numa trilha com sua família e desvia dela com o seu primo pentelho, Shigeru, para um penhasco. Depois de uma brincadeira de extremo mal gosto e que pode matar alguém, Seiko, enfurecida à sua maneira, mostra por que é que não se deve brincar em um penhasco. Assim, joga seu sobrinho de lá, que acaba internado e sequelado.

Depois de muito tempo, o cerco se fecha e a polícia interroga mãe e filho. Nesse interrogatório, pela primeira vez na vida o Seiichi pode dizer o que vem à mente. É o trabalho de um detetive buscar a verdade e levá-la à justiça. Porém, não deixa de ser heróico de sua parte transformar um interrogatório num profundo momento de autodescobrimento para o garoto.

Como dito antes, Chi no Wadachi não é uma obra de diálogos. Antes, ela é iconográfica ao extremo. No entanto, se você precisa de um momento em letras para entender o que se passa com o garoto, e o interrogatório é essa cena que você procura.

Nas palavras do detetive, a invasão da Seiko na mente de seu filho fez com que ela passasse a ser tudo na vida do Seiichi. Ele já não tinha mais um Eu além daquele decidido por sua mãe, confundindo-os. Seiicho é Seiko e vice-versa, ao menos na mente do Seiichi.

Então, talvez tenha sido por isso que ele “terminou” o serviço da mãe e matou o Shigeru logo após ele ter recebido alta do hospital. Seja como for, e como dito pelo próprio detetive, “uma vez que você não tiver mais sua mãe, você não terá mais um Eu”.

Abandono

E é o que acontece quando Seiko anuncia no tribunal que ela não será mais mãe. Ou melhor, que ela nunca mais fingirá ser mãe, já que o Seiichi foi mais uma tentativa frustrada de se sentir completa. Uma vez que isso evidentemente falhou, ela abandona a farsa de seu casamento e a farsa de sua maternidade.

A devastação do acontecimento na mente de Seiichi é inigualável, coisa que só a arte perturbadora do Shuuzou é capaz de transmitir. Ele é levado ao reformatório, solto de lá ao completar 18 anos e então… a vida segue, vazia e apática. Com isso, Seiichi vai vivendo um dia de cada vez como uma casaca de si mesmo, sob os esforços de seu pai que faz de tudo para poder fazer qualquer coisa, naquilo que sua insistente impotência presente desde os primeiros capítulos lhe permite.

Então, vamos tirar um minuto para voltarmos a atenção aos pais do Seiichi, para entendermos algo crucial para o mangá.

Ichiro e Seiko

Seiichi passou boa parte da vida assombrado pelo fantasma de Shigeru. Junto a isso, o abandono da mãe no momento de maior necessidade, nos faz indagar como é que Seiichi continua vivo.

A partir disso saio em defesa de um personagem que sim, é falho, mas que no geral sinto-o bem injustiçado, que é o Ichiro, pai de Seiichi.

Poeta frustrado, Ichiro sempre demonstrou dificuldades em se aproximar de Seiko, apesar de casados, e do emocional de seu filho. Nesse sentido, ele não foi o melhor dos pais. Porém, uma coisa crucial ele soube fazer: assumir suas responsabilidades.

Afinal, quando Seiichi surta no tribunal e tudo vira um grande borrão à sua volta e Seiko o abandona publicamente, podemos ler vagamente Ichiro dizendo ao juiz que ele daria sua vida pelo filho e cuida dele o melhor que pode. Também, há o fato de que Ichiro arcou sozinho com as indenizações aos pais de Shigeru, seus próprios irmãos. Assim, endividandou-se aqui e ali para terminar de pagar os 80 milhões de ienes devidos, tudo para que seu filho não precisasse se preocupar com nada.

Amor paterno

Por quase vinte anos, o Ichiro é o único elo significante na vida do Seiichi, que vive uma vida completamente dissociada desde o tribunal. Parece insignificante, mas muitas vezes o melhor que podemos fazer na vida de alguém é simplesmente estar ali ao lado.

Apesar de esvaziado, Seiichi é capaz de reconhecer a validez da ação e agradece abertamente ao pai por “fingir que não fez o que fez por todos esses anos”. “O fato de você não ter me abandonado, a despeito do que eu sou, é mais que o suficiente”. Com essas palavras que vemos como um mínimo vindo de um pai pode significar muito para quem não tem mais nada.

Tanto é que, com a morte de Ichiro, Seiichi sente-se livre de suas obrigações neste mundo. Sem ter ninguém mais para olhar por ele, o homem de 36 anos pode finalmente abraçar a morte de braços abertos. Sem primeiro atender a um último pedido: repousar os ossos do pai no túmulo da família em sua cidade natal.

“Destino” não é uma palavra de significado forte nas obras de Oshimi. A vida nessa obra de ficção é retratada com o mesmo grau de banalidade que pode estar submetida à vida de qualquer um de nós, seres banais e sem nenhum final feliz ou épico predestinado.

Cemitério

Contudo, para evitar a monotonia e aliviar um pouco a morbidez de seu trabalho, Seiichi recebe dois impactos nesse momento. Na verdade, o primeiro impacto soa mais como uma facada. Ao chegar no cemitério, Seiichi é vislumbrado com a presença de Fukishi, agora casada e com duas filhas, uma delas de 14 anos e a exata mesma aparência de seu primeiro amor quando os dois se aproximaram pela primeira vez.

O fato dessa cena se passar num cemitério encaixa feito uma luva, porque ali é a morte e o enterro em definitivo de qualquer prospecto de final feliz. Ou seja, como alguém que não só recebe uma facada ao estomago como também tem sal grosso enfiado na ferida. 

Mas o destino tem ordens maiores para Seiichi. Ou melhor, Shuuzou Oshimi tem ordens maiores. O protagonista do mangá poderia ter simplesmente partido deste mundo a partir daí e quem poderia culpá-lo? De qualquer forma, não é essa a história que o mangaká quer contar.

Reencontro

Em sua reta final, Seiichi é posto frente à frente de volta com sua mãe, idosa, fragilizada e indigente. Posto frente à pressão das pessoas à sua volta em cuidar de sua mãe, Seiichi volta ao convívio com Seiko, mas com as posições invertidas. A velhice é uma regressão à infância, nós nascemos de fraldas e morremos de fraldas. Só que temos um adendo aí: Seiichi não é capaz de assimilar sua mãe como a idosa que ela é.

Sendo o trauma uma cisão não só psicológica, mas também temporal, Seiichi enxerga em sua mente o mesmo rosto jovial e bonito que o controlou por toda a vida. Assim, será o convívio que o forçará a sair de um estado dissociativo que ele vem vivendo desde o dia do abandono e fará com que ele enxergue a mãe sob novas luzes: como uma criança emocionalmente perdida e como uma idosa que tem o fim diante de si.

É uma experiência desagradável, afinal ele está revivendo uma série de traumas ao reencontrar sua mãe. Porém, no calor das emoções Seiichi entende que ela não vale mais a pena tanto dispêndio e no passar de um tufão, mãe e filho se permitem conhecer um ao outro.

Femme Fatale

Se você leu Aku no Hana até o final, perceberá como que a Seiko repete o mesmo padrão de personagem que a Nakamura. Uma mulher que desde a primeira infância se sentia apática a tudo e a todos, desenvolvendo comportamentos nocivos à si e ao seu redor. Seiko não nasceu num lar funcional, o que é de se esperar de uma pessoa com o seu perfil.

Além disso, seu desejo de ver tudo queimar, imaginando todas as pessoas de sua vida estiradas e mortas é uma Nakamura 2.0, sem tirar nem pôr. A diferença é que agora vemos o que a maternidade implica numa pessoa desse calibre; nada de bom para a criança, evidentemente.

Vínculo traumático e a possibilidade de um amanhã

Deu pra ver muita gente descontente com Chi no Wadachi explorando o passado de Seiko, como se aquilo fosse alguma forma justificasse as ações de uma péssima mãe. Dá pra relevar esse tipo de comentário se imaginarmos que parte do público que lê o mangá também tenha vivido ou viva situação semelhante à do Seiichi, de um jeito ou de outro. Mesmo assim, é importantíssimo para o rapaz esse momento de conhecimento mútuo com a mãe no passar do tufão.

Chi no Wadachi
Chi no Wadachi (Imagem Divulgação)

Infância de Seiko

Temos uma fagulha de felicidade na primeira infância de Seiko com o avô, por quem ela nutre boas lembranças, ainda que vagas. Mas isso muda muito rápido quando sua mãe, que detesta o avô, se muda de casa e passa a ter uma segunda filha, Etsuko.

A partir daí, como é comum em muitas famílias, todo o amor vai para o caçula e toda a dor vai para o mais velho. A mãe de Seiko, que já não tinha a melhor das afeições pela filha, tem uma piora ao descobrir a traição do marido. Assim, as coisas seguem até finalmente Seiko sair de casa, interessada numa trupe de teatro na qual conhece Ichiro.

O começo de sua vida com Ichiro é de algum modo feliz. Apesar dos amigos do teatro, Ichiro vivia em poesia, de tal maneira que ele demorou a entrar e concluir sua faculdade.

No entanto, preso a bloqueios criativos e com as pressões da vida adulta batendo à porta, Ichiro decide largar as artes, assumir o negócio da família e pedir Seiko em casamento. Com a ideia de uma vida comum e sem muita agência própria, Seiko simplesmente segue num barco sem leme, aceita a proposta e a luz que se acendeu no começou de sua vida com o teatro simplesmete desapareceu.

Contudo, por sugestão de sua cunhada que havia pouco dado a luz a Shigeru, Seiko tenta na maternidade um caminho para se sentir completa e menos só. A ideia funciona maravilhosamente bem no começo. Afinal, o afeto genuíno que ela sente pela pequenina criança que saiu como uma extensão de si é inegável. O problema volta quando ela simplesmente enjoa daquilo, principalmente quando a criança começa a desenvolver suas primeiras noções de Eu e a Seiko mais uma vez se sente desconectada.

Entendimento

Quando Seiichi finalmente entende que Seiko perpertuou um ciclo vicioso de morte, que ela havia sido morta durante a infância e por sua vez matou outra criança ao tornar-se uma adulta desfuncional, isso não sara suas feridas, incuráveis a essa altura.

Porém, o entendimento, um bem em si mesmo, liberta Seiichi e ele consegue algum grau de agência na vida. Ele se torna capaz de arrumar sua própria casa, consegue parar de beber e a leitura, esse hábito tão redentor, fixa-se como uma nova forma de vida que o acompanhará pelo resto de seus dias.

Assim, a ideia da morte o abandona, Shigeru se despede de seus sonhos e um amanhã torna-se possível para Seiichi, que teve todas as portas de sua vida fechadas desde o nascimento por quem deveria protege-lo e apoia-lo.

Como uma última etapa dessa relação tão distorcida de mãe e filho, Seiichi passa a cuidar de Seiko nos seus últimos dias, depois de cair (ou ser empurrada?) de uma escadaria e atingir a invalidez.

Cuidado sem amor

É uma parte particularmente bem mórbida no caso desses dois, mas é um estágio eventual de nossas vidas. Um dia nossos pais cuidaram de nós. Amanhã será a nossa vez, de um jeito ou de outro. Só que nem todos farão isso por amor. Afinal, Seiichi não o faz.

Ele não é violento com sua mãe, é cuidadoso, mas não permitirá que ela escape assim tão facilmente da vida. Então, a observa intensamente enquanto a vida vai esvaindo de si. Ao final da história Seiichi consegue se vingar de Seiko, de uma forma extremamente sutil, mas consegue.

Às vésperas do último suspiro, uma última conversa, quase alucinatória, entre uma Seiko mais uma vez jovem (ainda que com outro desing) e um Seiichi criança, num último confroto onde cada um troca farpas com o outro e dão adeus.

Conclusão: O rosto de mamãe

De repente, me peguei pensando… faz quantos anos desde a última vez que me lembrei de mamãe?

Chi no Wadachi começa como uma história de suspense psicológico. É um mangá que conta em detalhes o processo de destruição de uma criança pela superproteção e abuso de uma mãe controladora e narcisista.

Típico dos trabalhos de Shuuzou Oshimi, ele é um mangaká que te faz passar pelo inferno. Então, somente quando você estiver no pior estado possível é que ele irá te puxar pra cima, para o mundo dos vivos.

A mensagem central de seus trabalhos, pelo menos nos que eu tive o prazer de ler até hoje como Happiness e Aku no Hana, lembra a carta que o Conde de Montecristo deixa para Maximilian Morel no final do livro. Nela, ele lembra que “é preciso saber o que é morrer para apreciar as alegrias da vida”.

Mesmo com o fim mórbido, o final nos agracia com mais um timeskip. Com isso, vemos um Seiichi idoso, vivendo um dia de cada vez entre idas e vindas à biblioteca, de onigiri à mão (seu primeiro presente da única pessoa que o amou…) e capaz de apreciar a beleza tão universal que a só um céu límpido é capaz de nos agraciar. 

Aos 45 do segundo tempo, contra todas as minhas expectativas e com um tato iconográfico magnífico, Shuuzou Oshimi nos mostrou que mesmo o mais forte dos traumas é tolerável com um dia de cada vez. Isso nem precisa ficar restrito a traumas familiares, não. Na verdade, traumas de todo o tipo. Não com o passar de dias, nem meses, mas de anos, todas as memórias eventualmente viram um borrão. Assim, ao final da trilha de sangue, mora a liberdade.

A publicação

Chi no Wadachi

Chi no Wadachi acabou amontoando 17 volumes, quase ao mesmo tempo de Okaeri Alice. Foi premiado no início deste ano na categoria “Melhor Série” no Festival Internacional de Angoulême na França e não gratuitamente. Apesar de ter se consagrado pela criação de Aku no Hana, que é sem sombra de dúvida uma obra excepcional com um dos finais mais louváveis que já tive o prazer de ler, Chi no Wadachi parece ajudar a exorcizar alguns demônios da vida do autor. Ao mesmo tempo, ler o mangá por completo ajuda a exorcizar alguns de nossos próprios demônios.

Portanto, é uma leitura terapêutica, apesar de parecer ser tudo menos saudável. É só impressão, juro a vocês.

Se a NewPop seguir a tendência de publicar as obras de Shuuzou Oshimi como vêm publicando, anunciando recentemente a publicação de Inside Mari, eventualmente chegará a vez de Chi no Wadachi ser publicado no Brasil. Com isso, serei obrigado a colecionar um mangá pela primeira vez desde Kingdom Hearts (tem tempo né…)

É lógico que Chi no Wadachi leva 5 suquinhos. Enquanto a próxima obra do mestre, que já está no forno, não sai, fica o aviso: sua obra-prima já mora entre nós.

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8° Mostra de Cinema Chinês de SP acontece em outubro

bonnie bears
Imagem Divulgação

A Mostra de Cinema Chinês de São Paulo, realizada pelo Instituto Confúcio na Unesp, chega à  sua 8ª edição com o tema “Em Busca da Luz”.  De 6 a 15 de outubro no CCSP (Centro Cultural São Paulo), o público terá a oportunidade de assistir a doze produções cinematográficas chinesas contemporâneas – a maioria inéditas no Brasil. Entre ficção e documentário, os filmes trazem um retrato singular, autêntico e vibrante da humanidade, evidenciando a sua busca por ideais e convicções.

Com curadoria de Shi Wenxue, mestre em Ciências do Cinema  e membro do comitê de seleção da mostra competitiva do Festival Internacional de Cinema de Pequim, e  Lilith Li, que coordenou o Festival Internacional de Cinema de Macau e curadora Sydney Culture Week Series na Austrália, os filmes selecionados para a edição 2023 da Mostra exploram um dos aspectos mais essenciais da cultura chinesa contemporânea, à construção da ligação das suas raízes por meio de ligações familiares de afeto e superação.

Entre suas principais atrações, a mostra apresenta o filme “Cordão da Vida” de Qiao Sixue, e estrelado por Badema e Idar. Premiado no 20th Film Channel Media Focus Unit, a obra narra a jornada de Arus que leva sua mãe de volta às estepes, sua terra natal, em busca de seu lar perdido na memória. Já o comovente “Irmãos”, de GUO Xiuzhuan, exibido no 14º Festival de Cinema de Taiwan, explora os laços inquebráveis entre dois irmãos, Wen Guang, que enfrenta o desafio do autismo, e o caçula Wen Xiu. Juntos, enfrentam sozinhos as adversidades da vida.

Obras exibidas em festivais importantes podem ser vistas na 8ª Mostra de Cinema Chinês, entre elas: “Ping Pong: Virando o jogo”, de DENG Chao & YU Baimei, premiado como o melhor filme do ano no Movie Channel M List pela sua qualidade e impacto. O longa narra a jornada da equipe masculina de tênis de mesa da China do início dos anos 90 que, abalada por derrotas consecutivas contra a equipe sueca, reergue-se sob a liderança do treinador Dai Minjia, interpretado por Deng Chao, e “Acima das Nuvens”, de LIU Zhihai, laureado como o mais popular Filme do ano na categoria Exploração Artística no 29th Beijing International Film Festival.  Este drama de guerra mergulha na história de um jovem soldado do Exército Vermelho, Hong Qichen. Já “Yanagawa”, de ZHANG Lü, recebeu o Cyclo d’Or, no 28º Festival Internacional de Cinema Asiático de Vesoul (França). A trama segue Lidong, que, na juventude, tinha uma paixão secreta por Achuan. O desaparecimento súbito daquela mulher deixou Lidong abalado por mais de uma década.

Road Movies premiados circulam na programação da Mostra, como “Um pai, Um filho”, de BAI Zhiqiang, vencedor em 2023 do Beijing International Film Festival na categoria Project “Excellent Production in Progress Award”. O filme segue a jornada de Gou Ren, atormentado pela perda do filho, ele conhece Mao Dou, um “capetinha” determinado a encontrar o pai; e “Juntos pelo mundo”, de XU Chenghua, premiado como Melhor Documentário no Hollywood Documentary Film Festival, a obra conta como pai e filho partem de Dali, na província de Yunnan, rumo ao Tibete. Contudo, nos 8.700 quilômetros da rota nas montanhas, inúmeros imprevistos os aguardavam.

Documentários com temas atuais também estão no eventocomo “Amor à prova”, de DONG Xueying, premiado no Especial no Shan Yi International Women’s Film Exhibition, a história traz cinco mulheres solteiras de Pequim com personalidades totalmente diferentes. Umas renunciaram ao romance em favor da carreira; outras viram a vida mudar de forma inesperada; e “Pequenos Jardins”, de Hongbo Zhou & Zhenyu Lu, documentário que explora a relação entre três famílias em Suzhou e seus jardins particulares considerados tesouros culturais e históricos da China. A obra é um olhar fascinante sobre a interseção entre a cultura chinesa tradicional e o mundo moderno.

Para fechar a programação deste ano, a Mostra traz ainda a animação “Boonie Bears: o código guardião”, de LIN Yongchang & SHAO, premiado pelo TikTok Movie Annual Impact Film Award. O  longa segue a jornada dos ursos Briar, Bramble e Vick, que se envolvem em um sequestro; a comédia de ficção científica “Departamento Editorial de Exploração Espacial”, de Kong Dashan, reconhecido como o Word-of-Mouth Film of the Year em 2023 Weibo Movie Night, mostra a história segue Tang Zhijun, um editor-chefe de uma revista de ficção científica, que parte em uma busca atrapalhada por vida extraterrestre; e “Deserto”, de ZUO Zhiguo, que acompanha Lin e o irmão à procura do pai desaparecido no deserto.

Sobre a 8° Mostra de Cinema Chinês de SP

Desde 2015, em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo e o CCSP, o Instituto Confúcio na Unesp realiza anualmente uma Mostra de Cinema Chinês para divulgar a cultura chinesa, compartilhar histórias e vozes, aprofundar a compreensão e a amizade e continuar consolidando um evento cultural chinês no Brasil.

O aprofundamento das relações entre a China e o Brasil faz de 2023 um novo começo, um ano de florescimento da amizade bilateral. Neste mesmo ano, o Instituto Confúcio na Unesp comemora seu 15º aniversário e São Paulo vê a 8ª edição da Mostra de Cinema Chinês tornar-se realidade.

PROGRAMAÇÃO COMPLETA

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Jogos Mortais X | Review

jogos mortais x
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Alô meus companheiros amantes de gore! Após o grande fracasso de Jogos Mortais – O Espiral, a franquia retorna mais uma vez para trazer mais um novo longa para a franquia original. Jogos Mortais X chega trazendo grandes expectativas para os fãs mais antigos por prometer trazer novamente o amado vilão, JigSaw, e prometer um banho nostálgico acompanhado de muito terror e aflição. Estive lá para acompanhar esse novo mar de sangue que promete ser o mais sangrento de toda a franquia e agora tô aqui pra compartilhar com vocês se é realmente verdade ou tudo não passa de papo fiado. Vem cá que vou te contar tudo!

O que torna esse longa interessante, é o seu retorno as suas origens. O longa se passa entre o primeiro e o segundo filme e revisita o John Kramer buscando de formas desesperadas por alguma cura para a sua doença que já está em estagio terminal. Com todo o seu desespero, John recorre a um grupo que oferece uma cirurgia milagrosa mas não esperava que estava prestes a cair em um golpe. Após notar que tudo não passava de uma fraude, o seu antigo hobbie volta a assombra-lo e os jogos começam mais uma vez.

Após 10 longos filmes dessa saga, eu preciso admitir que em Jogos Mortais X eu consegui visualizar uma luz no fim do túnel. Apesar da trama não ser extremamente elaborada, ela se desenvolve muito bem entre o primeiro e o segundo ato do filme. Assim, consegue manter uma boa construção e uma narrativa interessante. Fazendo com que pela primeira vez na saga, a gente consiga de fato ter uma conexão mais sentimental com o John. O que para uns pode ser um grande acerto, mas para outros pode ser um grande problema se levar em conta todos os filmes antecessores.

Mesmo com um enredo muito melhor que 80% da franquia, não se pode dizer o mesmo sobre aquilo que é referência em Jogos Mortais, que são os tão esperados jogos. Nesse quesito, o filme havia prometido muito e infelizmente entregou pouco. Não existe grandes inovações por parte das tão agonizantes armadilhas e por conta disso parece que estamos em uma verdadeira repescagem do que deu certo para a franquia em algum momento. Mas, preciso admitir que apesar das armadilhas não serem tão inovadoras e nada muito extravagante, os efeitos ajudam muito e o gore consegue ser até melhor que seus antecessores. Então, se você é sensível a esse tipo de conteúdo (como eu sou), pode se preparar para grandes momentos de aflição no cinema.

Já por outro lado, se tem algo que o longa reaproveita muito bem é o retorno de seus antigos personagens. Ter John e Amanda juntos mais uma vez dá um gosto nostálgico que anima qualquer fã da franquia. Embora existe alguns problemas relacionados ao desenvolvimento dos personagens, não existe nada tão grave ao ponto de quebrar a narrativa introdutiva a eles se relacionada com os antigos filmes. Acredito que poderia ter existido uma abordagem melhor para personagens tão emblemáticos, mas, mesmo que não tenha sido de forma majestosa, eles estão lá e estão sendo da forma que sempre foram.

Por fim, preciso admitir que fui sem expectativa nenhuma pois carrego grandes mágoas e decepções dessa franquia, mas sai relativamente satisfeito da sessão. Com certeza não é um ótimo filme e não chega perto do ponto inicial da franquia, mas mesmo assim, consegue trazer uma luz no fim do túnel para essa saga que parecia está morta e existindo apenas em beneficio do lucro.

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Confira os K-Dramas indicados ao Emmy Internacional 2023

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Hoje (27 de setembro) foram anunciadas as indicações para o International Emmy Awards 2023, que é a vertente internacional da tradicional premiação americana Emmy Awards, famosa por premiar séries e programas voltados para a TV, que neste caso, contempla obras de fora do eixo estadunidense.

Além de produções brasileiras, como as novelas Cara e CoragemPantanal, da emissora Rede Globo, neste ano também podemos ver dois K-Dramas coreanos na lista dos indicados.

Reborn Rich, da emissora JTBC, estrelado por Song Joong kiLee Sung MinShin Hyun Been, concorre na categoria “Melhor Filme/Minissérie para TV”, enquanto Uma Advogada Extraordinária, estrelado por Park Eun Bin e Kang Tae Oh e exibido pela emissora ENA, concorre à “Melhor Série Dramática”.

O mais interessante é ver o reconhecimento dessas obras mundialmente, já que as categorias não são separadas por país de origem. Os K-Dramas estão concorrendo com outros títulos vindos da ArgentinaFrançaAlemanhaMéxico Reino Unido.

A cerimônia, que está em sua 51ª edição, acontecerá no dia 20 de novembro, no New York Hilton Midtown, em Nova York, organizada pela Academia Internacional das Artes e Ciências televisivas.

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Apresente seu projeto cultural na Semana Geek de São Paulo

sao paulo secretaria da cultura
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Se você tem projetos artísticos voltados para a cultura pop e quer um lugar para divulgá-los, a oportunidade perfeita está bem na sua frente!

A primeira edição da Semana Geek, realizada pela prefeitura de São Paulo na cidade, acontecerá entre os dias 22 e 26 de novembro deste ano, e está recrutando artistas para apresentar seus projetos culturais. Mas, se você tem interesse em se inscrever, se apresse, porque as inscrições ficam abertas somente até o dia 30 de setembro (próximo sábado), às 23:59hs.

O evento é mais um projeto cultural idealizado pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, que tem o objetivo de incentivar os artistas brasileiros oferecendo-lhes uma plataforma para que possam viabilizar seus trabalhos e atrair novos olhares para a cultura. Mas você não precisa ser paulistano para se inscrever, basta estar na cidade nas datas do evento.

As vagas estão abertas para artistas independentes e também para influenciadores, profissionais do ramo do entretenimento e admiradores do universo geek e asiático, que deverão preencher o formulário disponível no perfil abaixo:

Fique atento: caso você tenha mais de um projeto e queira inscrever todos, é preciso fazer isso separadamente.

O festival não acontecerá em apenas um lugar. Durante a semana, ele estará presente em vários pontos da cidade, que serão divulgados no perfil da Secretaria Municipal de Cultura. Fiquem de olho lá.

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Fuja | Review

fuja netflix
Imagem Divulgação

Devido aos diversos problemas de saúde que enfrenta desde criança, Chloe, protagonista de Fuja, vive isolada da sociedade e sob os cuidados de uma mãe superprotetora, ela vê a sua vida tomar um rumo inesperado quando começa a desconfiar do comportamento de sua mãe.

Essa é a história do suspense/thriller da Netflix, dirigido por Aneesh Chaganty e estrelado por Kiera Allen (Chloe) e Sarah Paulson (Diane), lançado em 2021. O filme, que possui 1h e 29min, é intenso do começo ao fim. Com uma cenografia digna de um filme de suspense, e uma iluminação sombria. A falta de cores vibrantes e o tempo nublado durante toda a trama evidenciam o tom sombrio.  

Logo no início do filme, vemos Chloe à espera de uma resposta da faculdade de seus sonhos. Não demora muito para que ela perceba que sua mãe está agindo estranho, e que sempre pega as correspondências antes da filha. 

Certo dia, após Diane voltar do supermercado, Chloe, que estava mexendo nas compras, acaba encontrando um frasco de remédios com o nome de sua mãe. A personagem de Kiera a questiona sobre o remédio, mas Diane logo tratou de desconversar, o que fez com que as desconfianças da jovem aumentassem. 

Ao longo do filme, as ótimas atuações de Sarah Paulson e Kiera Allen chamam atenção. Em certas cenas, onde nada é dito, é possível sentir toda tensão, desespero e angústia apenas com os olhares das atrizes. As cenas em que Chloe tem crises de asma e consequentemente vai perdendo o ar, faz com que quem está do outro lado da tela tenha a mesma sensação.

Fuja é mais um filme que mostra o quão doentia pode ser a relação entre pais e filhos, ainda mais quando um deles tem comportamentos psicopáticos. O que descobrimos sobre Diane ao longo do filme, deixa o final um pouco mais surpreendente e a postura que a jovem tem após tudo que a mãe fez ser descoberto é um tanto quanto inesperado.

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O Novo Preço da Desonra | Review

O Novo Preço da Desonra Review mangá samurai
O Novo Preço da Desonra | Divulgação: Pipoca & Nanquim | Foto: Suco de Mangá

Já tivemos romance, passamos pelo terror e vimos um pouquinho do erótico, mas agora a Pipoca & Nanquim trouxe algo mais histórico. Retornando ao período feudal do Japão, quando os samurais ainda estavam ativos, veremos o mangá ‘O Novo Preço da Desonra’, foco deste review.

Edição de Luxo

Originalmente escrita entre 1971 e 1973 por Hiroshi Hirata, essa publicação é uma peça de ouro na coleção da Pipoca & Nanquim.

Primeiro, porque Hirata possui histórias e traços audaciosos e adultos, com um grande repertório de samurais nas suas obras. Além disso, o autor é mestre do jidaigeki, gênero dos dramas de época japoneses.

Também, foi com esta obra que ele se aventurou pela primeira vez em usar ferramentas digitais para produzir um mangá. Após, Hirata fez apenas mais um mangá usando computadores, voltando para o papel e para a tinta logo em seguida. Ou seja, é uma publicação única de Hirata.

Segundo, pois essa publicação da Pipoca & Nanquim é a primeira no mundo inteiro que possui a história completa de ‘O Novo Preço da Desonra’ encadernada. Assim, a editora teve a ajuda de Mitsuhiro Asakawa, editor e pesquisador japonês que recuperou todos os capítulos, artes coloridas e ilustração inédita para a capa desta obra.

O Novo Preço da Desonra Review mangá samurai
Capa de O Novo Preço da Desonra | Divulgação: Pipoca & Nanquim | Foto: Suco de Mangá

Portanto, esse mangá possui grande peso cultural e histórico, sendo uma verdadeira edição de luxo.

Agora, será que o conteúdo da história faz jus a tanta comoção? Vamos descobrir.

Contexto histórico – Promissórias de Vida

Para começar a falar do enredo do mangá, primeiro precisamos entender alguns pontos.

Antigamente, no período em que se passa o mangá (por volta de 1600), os samurais eram os guerreiros que lutavam pelos propósitos e interesses da época. Então, quando esses samurais (também chamados de bushis) se enfrentavam, morrer em batalha era algo honroso e digno.

No entanto, alguns deles imploravam por suas vidas quando estavam prestes a serem mortos, oferecendo um preço pela sua cabeça. Assim, firmavam um “contrato” com o outro bushi, prometendo a ele dinheiro em troca da sua vida. Como garantia, aquele que prometeu o dinheiro devia carimbar sua mão ensanguentada no papel e entregá-lo ao samurai que poupou sua vida.

Esse “contrato” é chamado de Promissória de Vida.

Então, podia levar anos até que a dívida fosse quitada, mas era esperado que o dinheiro fosse entregue quando a guerra terminasse. Caso o devedor não pagasse espontaneamente, o samurai que receberia o dinheiro podia cobrar a dívida. Se o devedor não tivesse dinheiro, o cobrador deceparia sua cabeça, o que é considerado uma das maiores desonras para um guerreiro.

No entanto, caso o cobrador não pudesse ir atrás do devedor, podia contratar alguém para fazer esse trabalho. Os bushis contratados para cobrar essas Promissórias de Vida eram conhecidos como “Tomador de Promissórias”.

O Novo Preço da Desonra — Quatro histórias sobre a honra dos samurais

Agora que você já entendeu essa parte, podemos falar do enredo em si.

O protagonista do mangá é Kubidai Hanshiro, um Tomador de Promissórias sério, misterioso e extremamente habilidoso com a espada. Então, Kubidai parte em viagens para cobrar as dívidas em nome de bushis incapacitados.

Neste mangá vemos quatro histórias que mostram as diferentes faces da honra dos samurais.

Ocultação

A primeira gira entorno de um patriarca que possui uma vida próspera e três filhos, sendo um dos melhores lanceiros da época das guerras. Quando ainda era um guerreiro ativo, este patriarca implorou por sua cabeça, firmando uma Promissória de Vida com outro samurai, mas escondeu tal desonra da família.

Assim, quando Kubidai aparece em sua casa para cobrar essa dívida, o patriarca prefere lutar com ele a entregar o dinheiro, ainda muito apegado ao seu orgulho. No entanto, o resultado desta luta faz com que seus filhos e sua esposa caiam na desgraça e mintam pra autoridades, o que resulta num mar de sangue muito maior do que o esperado.

O Novo Preço da Desonra Review mangá samurai
Começo da luta entre o patriarca e Kubidai | Divulgação: Pipoca & Nanquim | Foto: Suco de Mangá

Essa história é muito interessante, pois passeia pela linha do tempo. Assim, mostra o que está acontecendo agora, mas volta um pouco no tempo para explicar como chegou naquele ponto.

Além disso, já tem muito sangue, cabeça rolando, seppuku (suicídio considerado digno para os samurais, em que eles cortam seu ventre) e tudo que a gente gosta.

Noiva

Na segunda história, Kubidai entra em uma cerimônia de casamento, mas o pai da noiva pede para que ele se retire, sendo muito severo. Calmo e muito educado, Kubidai fala que irá apenas contar uma história e cabe ao homem decidir se transformará o casamento num evento de celebração ou de mau agouro.

O Novo Preço da Desonra Review mangá samurai
Páginas coloridas no começo da história | Divulgação: Pipoca & Nanquim | Foto: Suco de Mangá

Então, Kubidai retorna anos atrás, falando sobre um bushi aceitou uma Promissória de Vida. Muito tempo passou e somente quando ficou doente e viu a família empobrecida que este samurai decidiu cobrar essa Promissória.

No entanto, estando doente, pediu para que seu filho fosse atrás do devedor, mas muito tempo depois, descobriu que o filho foi assassinado. Buscando vingança e justiça, mais quatro homens da família foram atrás do samurai devedor, enquanto o pai ficava ainda mais doente.

Então, seguimos a jornada desses quatro homens, que oscilam entre honrar seu dever como guerreiros e vingar sua família ou ter uma vida tranquila e longa. Porém, uma por uma essas vidas se perdem, até o ponto que o homem doente decide cobrar sua dívida.

O Novo Preço da Desonra Review mangá samurai
O resultado de uma vingança | Divulgação: Pipoca & Nanquim | Foto: Suco de Mangá

Depois de uma batalha perdida, ele encontra Kubidai na beira da estrada e lhe conta essa história. Assim, descobrimos que todos os assassinatos da família ocorreram no mesmo lugar que o casamento atual, pelas mãos do pai da noiva.

Chocada com tal história e com as atitudes do próprio pai, a noiva prefere não viver tamanha desonra. Assim, mais uma sequência de tragédias torna o casamento um verdadeiro mau agouro.

Novamente, essa história transita entre o tempo presente e passado. Também, mostra mais da ética de Kubidai e da sua gentileza. A cada história que lemos entendemos mais os valores de Kubidai, cativando simpatia pelo protagonista.

Honra

Essa é, de longe, a minha preferida das quatro histórias. Agora, Kubidai encontra um garotinho em sua viagem e o orienta a tomar cuidado, pois as estradas estão cada vez mais perigosas.

Então, depois de um bando de homens atacar Kubidai e usarem o garoto como refém, os dois seguem viagem juntos. O garoto está uma jornada misteriosa, carregando consigo apenas uma espada pequena e as roupas do corpo.

Assim, acompanhamos os dois, vendo um lado mais protetor e quase paternal de Kubidai. Afinal, diversas vezes eles são atacados por assassinos que procuram um certo Tomador de Promissórias e Kubidai se esforça para manter o garoto seguro.

O Novo Preço da Desonra Review mangá samurai
Kubidai cuidando do garoto em sua jornada | Divulgação: Pipoca & Nanquim | Foto: Suco de Mangá

De qualquer forma, o que eu gosto nessa história é que ela mostra diferentes relações de pai e filho. Ela aborda o que é a verdadeira honra, a humildade e a bondade. Acredito que é a mais sensível do mangá, pois mostra também a dificuldade de cuidar de alguém mais velho e mentalmente debilitado.

Além disso, o plot no fim da história me surpreendeu e tomou um rumo que não imaginava. No fim, nem tudo pode ou precisa ser resolvido com violência.

Enfim, acredito que esse capítulo de O Novo Preço da Desonra nos dá a oportunidade de ver Kubidai “à paisana”.

É muito bonito (e fofo) ver esse Tomador de Promissórias, sempre muito sério e reservado (e praticamente um assassino de aluguel), cuidar de um garoto como um membro da família. É como um cão policial cuidando de um gatinho doméstico, ninguém resiste.

Fatos

Por fim, a última história do mangá é a mais extensa, acredito eu, e cheia de plot twists.

Um homem antigamente muito humilde agora tem uma empresa próspera e usa seu benefício para ajudar os mais necessitados, fazendo doações de arroz. No entanto, por conta do seu passado como guerreiro, Kubidai precisa cobrar uma Promissória de Vida em seu nome.

Então, Kubidai decide esperar o homem retornar de sua viagem, aproveitando a hospitalidade dos empregados, mas cai em uma armadilha. Após quase perder sua vida, ele permanece naquela casa, observando o dono da empresa e sua relação com os empregados.

O Novo Preço da Desonra Review mangá samurai
O patrão e seu empregado | Divulgação: Pipoca & Nanquim | Foto: Suco de Mangá

Essa história tem uma pegada Robin Wood e de “os fins justificam os meios”. No fim, é impossível não se apegar ao dono da empresa e respeitar a postura dele. Além disso, o próprio Kubidai percebe a honra nos crimes cometidos por ele e acaba tomando decisões que compactuam com sua filosofia, batendo de frente com as autoridades.

Kubidai Hanshiro – Um samurai solitário

Sem dúvidas, esse é um dos protagonistas mais instigantes que eu já li.

Primeiro, Kubidai é um Tomador de Promissórias, então a função dele é cobrar a dívida dos outros seja conseguindo o dinheiro ou a cabeça prometida. No entanto, ele mesmo deixa claro que decapitar alguém é sua última opção.

Em todas as histórias o samurai se mostra muito respeitoso e ético, fazendo o seu dever sem ser um mero assassino sanguinário. Além disso, é um homem endurecido pela vida, mas que não perdeu sua humanidade e bondade.

O Novo Preço da Desonra Review mangá samurai
Verso da sobrecapa, mostrando Kubidai em combate | Divulgação: Pipoca & Nanquim | Foto: Suco de Mangá

Assim, ele cativa o leitor, mostra que você pode tirar vidas sem desrespeitá-las. Também, é claro que Kubidai é um espadachim sem igual, então você sabe que cabeças vão rolar quando ele tira sua katana da bainha.

Considerações Finais

Pra finalizar, vou apenas comentar alguns pontos que valorizam ainda mais a qualidade da obra.

Como eu não canso de falar da qualidade das obras da Pipoca & Nanquim, vou começar com isso. Novamente, esse mangá traz detalhes históricos e traduções específicas que fazem o leitor ter plena compreensão do contexto da história.

Além disso, assim como no Estanho Conto da Ilha Panorama (a parte mais erótica que citei no começo do texto), a última seção do mangá é um glossário.

Ali tem explicações da história do Japão, termos desconhecidos e aspectos culturais que enriquecem nossa experiência com o mangá. O responsável pelo glossário e pala tradução é Drik Sada. Fica aqui um parabéns ao trabalho dele.

O Novo Preço da Desonra Review mangá samurai
Glossário, por Drik Sada | Divulgação: Pipoca & Nanquim | Foto: Suco de Mangá

Agora, sobre a capa do mangá. Normalmente, o verniz localizado destaca os personagens das obras, mas em O Novo Preço da Desonra destaca o escrito em vermelho e a mão ensanguentada. Muito sugestivo, acertou em cheio.

Por fim, digo que essa é uma publicação maravilhosa tanto pela história quanto pela estética. É uma história mais madura, então, diferente do estereótipo dos mangás e animes, você consegue imaginar os personagens em carne e osso. De qualquer forma, eu amaria ver um anime da história.

Enfim, o mangá não decepciona em enredo, lutas, simbolismo, história e em samurais. Então, se você curte esses temas e quer ver algo mais adulto, pega sua katana e sua Promissória de Vida e descubra o que é O Novo Preço da Desonra!

O Novo Preço da Desonra Review mangá samurai
Detalhes da lombada, com verniz localizado | Divulgação: Pipoca & Nanquim | Foto: Suco de Mangá

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Melancia Cintilante: Aguardado K-Drama estreia no Viki!

Melancia Cintilante Rakuten Viki
Imagem Divulgação

Uma série muito aguardada finalmente chegou ao Rakuten Viki! Melancia Cintilante é o novo lançamento exclusivo do Viki e já está deixando todos entusiasmados com sua trama de romance, completa com uma pitada de fantasia e viagens no tempo!

Com Ryeoun, de A Pousada Romântica Secreta, Choi Hyun Wook, de Classe dos Heróis Fracos 1 e Seol In Ah, das séries populares Oásis, Mr. Queen e Lindo Amor, Vida Maravilhosa, esse elenco incrível é garantia para te deixar querendo mais.

Em 2023, Eun Gyeol (Ryeoun) é um estudante do ensino médio apaixonado por música. Durante o dia é um aluno exemplar e estudioso, mas à noite se destaca como guitarrista de banda. Mas quando se depara com uma loja de música estranha, mas atraente, ele volta no tempo até 1995.

Na cena, ele fica cara a cara com seu pai, Ha Yi Chan (Choi Hyun Wook) — ainda estudante do ensino médio! Yi Chan considera Eun Gyeol um lunático quando o chama de “pai”. Pior ainda, parece que Yi Chan tem uma queda por uma violoncelista chamada Se Kyeong (Seol In Ah), e não por sua futura mãe, Cheong Ah (Shin Eun Soo)!

Na tentativa de consertar as coisas, Eun Gyeol se junta a uma banda liderada por seu futuro pai. Mas será isso suficiente para ajudar Eun Gyeol a unir seus futuros pais… e será que algum dia ele retornará à década de 2020?

Melancia Cintilante – Trailer

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