Nesse ano bastante especial para o Japão, sediando as Olimpíadas em Tóquio, o Nippon Rio Matsuri 2020 levou o evento na esportiva. Fora do evento, com exposições de várias modalidades olímpicas e dentro do evento, com um grande foco nas artes marciais, esta edição do evento priorizou mais do que nunca suas atrações marciais que já figuravam em outras edições. E por todo o teto do Pavilhão Verde, as faixas olímpicas lembravam a todos os visitantes de um dos maiores eventos prestes a acontecer em 2020.
Enquanto aguardamos as Olimpíadas cheios de expectativas, aqui vão nossas impressões de um dos eventos mais fantásticos do Rio de Janeiro!
VISITANTES INÉDITOS: WALTER JONES E KIHACHIRO UEMURA
Ano após ano, é possível perceber que o Rio Matsuri é um evento em expansão; dessa vez, por um misto de oportunidade e planejamento, as festividades aconteceram de sexta até uma segunda-feira do dia 20 de janeiro, dia de São Sebastião, padroeiro do Rio de Janeiro. Foi um dia a mais para que as pessoas pudessem aproveitar seus feriados no Rio Centro.
Desde sexta feira o evento já começou movimentado, pois a visita do dia não poderia ser mais especial: Kihachiro Uemura e Walter Jones, dois atores consagrados no mundo dos tokusatsus e de sólida carreira dividiram o palco principal com a mediação do cantor Ricardo Cruz, do Jam Project, que há pouco havia feito um dueto com o cantor Kauã Okamoto.
Depois de muita espera, os atores que interpretaram, respectivamente, o Green Flash (Flashman) e o Ranger Preto (Mighty Morphin Power Rangers) foram recebidos com aplausos de pé por um público misto nas idades e igualmente ansioso em ver seus ídolos ao vivo pela primeira vez. Eles falaram sobre como começaram a se tornarem heróis na TV, os detalhes do processo de seleção em cada programa e como cada um reagiu com o design dos monstros pela primeira vez.
Grosso modo, o processo de seleção era parecido tanto para a produção japonesa quanto a americana: 1) selecionava-se um currículo com foto, 2) ocorria uma entrevista, 3) outro teste verificava a capacidade de atuação/interpretação, 4) havia um teste de performance em ação e por fim, havia um último teste que misturava uma cena de ação com várias falas.
Walter Jones acrescentou apenas uma série de reuniões com a equipe de produção. Ele salientou sua surpresa ao ver os monstros e principalmente as roupas dos Rangers, já que até o momento de botar a mão na massa com os outros atores, tudo o que ele conhecia dos tokusatsus estava em seus script. Ao ver o traje do Ranger Preto, antes mesmo de saber que este seria o seu traje, Jones já brincava: “Olha só! Eu vou querer esse daí!”.
Quando Ricardo Cruz perguntou se eles assistiam os episódios após as gravações, ficou nítido a diferença de ritmo para cada produção. No Japão, os episódios de Flashman eram semanais (e até hoje é assim na maioria das produções, como é o caso do atual Kamen Rider Zero-One); toda semana havia uma première com os demais atores onde era transmitido o novo episódio de Flashman. Já em Power Rangers, o ritmo de trabalho era muito mais pesado, com dois ou até três episódios estreando por semana. Assim, Walter Jones dependia da sorte de algum amigo gravar os episódios numa fita VHS (e de não estar muito cansado em seu tempo livre, óbvio).
Houve no painel uma seleção de melhores momentos de cada ator em sua respectiva série. A paixão dos fãs superior ao fiasco da falha técnica no som (a primeira de algumas tantas durante os dias do evento); as palmas e as ovações quebraram qualquer silêncio durante a transmissão do vídeo. Ainda mais quando a parte sem som era justamente da série que teve maior público, que foi Power Rangers. Walter Jones contou como foi incorporar o estilo de um personagem dançarino numa série de super-heróis. O raciocínio é parecido com o de um dos protagonistas de Samurai Champloo, Mugen, que misturava breakdancing com luta de espada: a imprevisibilidade de seus movimentos era a chave de seu estilo contra os inimigos. Bem versado em artes marciais e em dança, Jones explicava enquanto experimentava alguns movimentos para a plateia.
Enquanto que o ator americano já era um visitante recorrente ao Brasil, participando de congressos de dança, Kihachiro Uemura se mostrou bastante realizado em visitar o país pela primeira vez e ansioso de experimentar as coisas pelas quais o país é conhecido, principalmente a tal da caipirinha! Uemura ainda admirou ao falar da frequência com que gravou cenas com o traje do Green Flash e de como sentia medo de gravar cenas com explosões, feitas em época sem muitos efeitos digitais e assim, com maiores riscos de se queimar durante as gravações.
Enfim, não faltou papo para a sexta-feira. E mesmo sendo no primeiro dia do evento e em dia útil, as pessoas não perderam a chance de sextar no Rio Matsuri, estando as cadeiras para o público do palco principal bastante ocupadas. Muitas dessas pessoas sendo fãs de coração, fato esse notável pelo tanto de pessoas que se emocionavam fortemente ao falarem com os atores ao microfone. Cena tão linda quanto a interação dos dois atores com o público!
Leia também: Walter Jones e Kihachiro Uemura | Suco Entrevista
BARRAQUINHAS ANUAIS
Tal qual como todo matsuri, os festivais japoneses contam com espaços de vendas das mais diversas. Umas mais reconhecíveis para frequentadores de eventos de anime, outras nem tanto. O Rio Nippon Matsuri acaba sendo uma oportunidade para quem não tem como ir até São Paulo e encontrar os mesmos utensílios que são fáceis de se achar no bairro da Liberdade ou numa Daisô. Nesse particular, falo como uma pessoa fissurada em culinária: os quatro dias de evento são A oportunidade de ouro para repor o estoque de shoyus, sake, karê dos mais suaves aos mais apimentados e todo tipo de macarrão: yakisoba, udon ou bifun. Quem não tem interesse de cozinhar, pode acabar se interessando pelo menos nas chaleiras e demais cerâmicas que no mínimo bem decoram qualquer casa só pelas suas estampas.
Também acaba sendo uma oportunidade de experimentar todo o tipo de lanche que não se vê todo dia no Rio. Desde os salgadinhos de camarão aos sorvetes melona e Mupys, a praça de alimentação também recebe juntas de comunidades nikkei de várias partes do país. Não só vem grupos de Niterói, como paulistas e mato-grossenses atraem filas de pessoas para provar ramen, gyudon, okonomiyaki e os set’s de sushis mais familiares para o brasileiro médio.
Uma grata novidade foram algumas barracas de acessórios para o dia-a-dia. Você pode pensar nisso como uma “lojinha de 1,99”, não no sentido de preço, mas na variedade de coisas que se vendiam e que acabam sendo uma mão na roda. Pessoalmente, as canetas para touchscreen impressionaram e fizeram sentir falta de lojas mais especializadas fora do evento. Mais motivo para aguardar o ano que vem com expectativas…
AGITANDO O CORPO AO SOM DE ANISONG: DJ SUNAMORI ESTREANDO NA CIDADE MARAVILHOSA
Se por um lado a organização do evento continua insistindo na tradicionalidade do enka e desperdiçando a recente popularidade do city pop (mas longe de mim querer maldizer um estilo tão prezado), o Nippon Rio Matsuri convidou o DJ Sunamori para agitar a cidade maravilhosa e não deixar ninguém parado!
Era certamente uma novidade ter alguém incentivando um público normalmente tímido a dançar ao som de aberturas de anime. Sunamori já visitou algumas vezes o Brasil, em São Paulo, mas o jeito como ele convidava o público a dançar e curtir o som era a atitude nítida de um DJ habituado a criar ambientes festivos. E para isso ele veio preparado: com One Punch Man, One Piece, Jojo, Attack on Titan e hits mais recentes como as aberturas de Dororo, Demon Slayer e Keep Your Hands Off Eizouken, Sunamori pouco a pouco atraía para perto de si uma garotada que ia se descontraindo a ponto de formar trenzinhos e rolar corridas ninjas ao som de Naruto, puxadas pelo próprio DJ, contagiado com a energia brasileira!
Mesmo tendo tocado em eventos grandes no exterior, Sunamori provou nesse Rio Matsuri que pra ele não existe palco grande ou pequeno: onde ele estiver podendo soltar um som e chamar gente pra se divertir, assim ele o fará na maior autenticidade. E assim foi o tom de suas performances de sexta até domingo, no Palco Otaku e no palco principal.
Leia também: DJ Sunamori | Suco Entrevista
COSPLAYERS, DESFILES E FINAIS DA WCS
Como de praxe, cosplayers foram uma atração própria de um evento dedicado à cultura japonesa. Dessa vez eles não vinham só de fora, como de dentro: o estande da Crunchyroll se empenhou em trazer cosplayers de Shield Hero e Overlord para o seu estande, com direito a uma carroça guiada pela Filo, onde pessoas formavam fila para tirar fotos.
Mas além do espaço de modelos profissionais, cosplayers visitantes tanto de animes, tokusatsus e quadrinhos enfeitaram ricamente o evento. Nesses dias, foi possível confirmar a febre de Demon Slayer presente no Rio: grupos e mais grupos de Tanjiro e companhia compareciam ao evento, confirmando mais um sucesso recente da Aniplex.
Talvez pela importância da ocasião, o desfile cosplay ficou um pouco ofuscado e posto de escanteio para a segunda-feira. No domingo, houve a final carioca da WCS, a World Cosplay Summit, a maior competição cosplay do mundo. Quatro duplas se apresentaram, cada qual com uma atuação ímpar que deixaram os jurados numa sinuca: Final Fantasy VII, Naruto, Kingdom Hearts e Demon Slayer foram os temas. No final, a escolha para representar o Rio de Janeiro na final nacional a ser realizada em maio na Anime Nation foi a dupla de Kingdom Hearts, com uma apresentação de Sora e Kairi lutando contra Xenmas no portal para o Reino da Luz.
Como sempre, o Belga mostrou pelos cliques de sua câmera uma visão dos cosplayers melhor do que os nossos poderiam ver! Nossa galeria estará linkada aqui para quem quiser relembrar aquele cosplay excelente do evento.
Veja também: Seletiva WCS no Rio Matsuri 2020
TSUBASA IMAMURA, MPB E A ALMA DO MATSURI NO BON-ODORI
Visitando o evento no Rio Centro pela primeira vez e esbanjando fofura na voz e no jeito de falar como chegou no país, Tsubasa Imamura passeou pela cidade e tomou milk-shake no Bob’s *risos*, e infelizmente também sofreu do mesmo fiasco no som que houve durante o painel de Jones-Uemura. Mas é nessa hora que a malandragem brilha e a plateia começou a puxar palmas para acompanhar as canções da Tsubasa à capela.
Na segunda-feira, com o som melhor revisado, a cantora pôde se apresentar 100% ausente de problemas e complicações, com direito a uma participação especial durante Pegasus Phantasy, onde um amigo desenhou um retrato do Cavaleiro de Pégasus ao vivo durante a música.
Confira nossa cobertura completa da Tsubasa Imamura AQUI.
Para fechar esse relato que está se alongando, devemos atestar, com muita alegria, a presença do pedestal que dá forma a um matsuri, onde se dança o bon-odori ao seu redor. Os festivais japoneses acontecem em várias ocasiões durante o ano e cada região tem uma história particular que vira motivo de matsuri; para o caso desta reconexão dos nikkeis nipo-brasileiros com os hábitos de seus ancestrais, o bon-odori é a dança pela qual se honra a memória de seus antecessores.
Esta foi a primeira edição onde a dança típica japonesa era bem realizada ao redor de um monumento que lhe dá característica. Se é impossível realiza-lo a céu aberto como é de costume e mesmo a queima de fogos que virou pano de fundo de tantos momentos românticos, dessa vez o Nippon Rio Matsuri deu um passo a mais em direção a uma maior autenticidade.
As cadeiras do palco principal foram empilhadas e removidas numa velocidade de honrar qualquer pit-stop de Fórmula 1. E as pessoas, uma vez em pé, eram logo convidadas a se juntarem às damas que conduziam o bon-odori e, de passos lentos em passos lentos, numa dança fácil de memorizar, brasileiros e nipo-brasileiros se juntaram numa belíssima confraternização.
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- Grupo Awaodori: ÁLBUM FACEBOOK / ÁLBUM DRIVE
- Bon-Odori: ÁLBUM FACEBOOK / ÁLBUM DRIVE
- Wakadaiko: ÁLBUM FACEBOOK / ÁLBUM DRIVE
ATÉ O ANO QUE VEM!
Passamos das duas mil palavras e se seguíssemos a comentar dos grupos de taiko, danças e artes marciais que se apresentaram e arrancaram fortes palmas, passaríamos das três mil e tantas. Para isso vale o ditado: “uma imagem vale por mil palavras”. A assiduidade das pessoas nos quatro dias de evento, a escassez de produtos logo no começo do último dia e as crescentes filas na praça de alimentação provam que o Nippon Rio Matsuri é um evento que não para de crescer e se ajustar à medida que cresce.
Passada essa pré-homenagem às Olimpíadas de Tokyo, só resta desejar o maior sucesso para o anfitrião desta edição dos jogos olímpicos. E que 2021 traga mais uma proveitosa edição desse que é um dos maiores e mais aguardados eventos anuais do Rio de Janeiro!