Apesar de já ter assistido diversas vezes e amar a animação da Mulan (1998) feita pela Disney, há muitas coisas cultural e historicamente erradas no filme. Vários detalhes (alguns não tão pequenos assim) ficam evidentes para os chineses e isso claramente influenciou a aprovação do público chinês para com o filme.
Quando se trata de uma cultura que você não tem nenhum contato é fácil relevar e se divertir com um filme, até porque você pode fazer isso não propositalmente por não ter conhecimentos o suficiente para saber o que está errado ou não, agora se um filme retratasse o Brasil de uma forma estranha acredito que seria difícil pra gente ignorar. Então, sem mais delongas, veja abaixo alguns aspetos culturalmente errados com a animação de Mulan.
Muralha da China
Se um branco vai falar sobre a China é claro que tem que aparecer a Grande Muralha, só tem um pequeno detalhe: a arquitetura usada como referencia pelos desenhistas foi a Grande Muralha moderna, que foi construída a cerca de 500 anos atrás, mas a história de Mulan se passa antes, entre o período de 386 d.C a 534 d.C.
Huns
Os vilões do filme também não estão de acordo com a história da China. Os Huns eram de um período anterior a Mulan, coisa que foi consertada na live-action de 2020 que trouxe os Rourans.
Pergaminhos
Na época de Mulan, o papel ainda não havia sido inventado, então na China era usado pergaminho de bambu e os caracteres chineses eram escritos na vertical e não na horizontal como é mostrado no filme.
Altares
Apesar de ficar visualmente bonito as grandes pedras de mármore no chão, nos antigos templos chineses os altares ficavam em prateleiras de madeira e eram bem menores comparados com o que vemos no filme.
Casamenteira
Toda a cena da casamenteira na verdade não faz muito sentido para o público chinês. As casamenteiras eram mais ou menos como assistentes sociais, que iam visitar as candidatas nas suas casas junto com as famílias das moças, sem toda aquela apresentação pomposa passeando pela cidade e se arrumando em diferentes lugares.
Palitinhos
Os palitinhos ou Kuàizi (ou Hashi no Japão) usados para comer tem algumas regrinhas que todos os asiáticos conhecem muito bem e uma delas, muitíssimo importante, é não espetar os palitinhos na comida. A forma como ficam posicionados lembra os incensos usados em velórios e ao colocar desse jeito, de acordo a tradução chinesa, é como se você estivesse amaldiçoando a pessoa na sua frente a morte.
Corte de cabelo
Apesar da cena ser bastante dramática e impactante na história, naquela época os homens na China também tinham cabelos grandes então não era necessário cortar o cabelo para se passar por homem, aspecto também consertado na live-action.
Carta para o imperador
A carta que Mushu e o grilo escrevem em chinês na verdade é um cardápio. Agora imagina se num filme sobre o Brasil, colocassem uma receita de miojo num email importante, algum brasileiro iria levar o filme a sério?
A analise citada nessa matéria foi feita pela escritora e historiadora chinesa Xiran Jay Zhao, caso você entenda inglês, pode ler na integra a thread abaixo com todos os pontos analisados por ela ou assista ao vídeo.
ALL RIGHT BY POPULAR DEMAND HERE WE GO: Everything culturally right and wrong with Mulan 1998, the thread –
(Disclaimer: This movie never marketed itself on authenticity, so I'll only be nitpicking for educational purposes) pic.twitter.com/Aa7XJSmbPD
— XIRAN (Semi-Hiatus, Writing Book) (@XiranJayZhao) October 9, 2020
“TUDO BEM DEPOIS DE TANTOS PEDIDOS AQUI VAMOS NÓS: Tudo culturalmente certo e errado com Mulan 1998, a thread – (Aviso de isenção de responsabilidade: este filme nunca se divulgou quanto à autenticidade em relação a cultura chinesa, então vou ser minucioso apenas para fins educacionais)”
Além de analisar a animação, ela criou um canal no youtube especificamente para falar os aspectos culturalmente errados do novo live-action de Mulan (2020), assista também.
O live-action de Mulan já está disponível na Disney Plus.