Depois de rodar diversos cinemas e ganhar inúmeros prêmios ao redor do mundo, Koe no Katachi desembarca no SUCO!
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A animação de Koe no Katachi (A Silent Voice ou The Shape of Voice) saiu no Japão em meados de 2016 e apenas agora, em 17 de maio o DVD e Blu-ray está disponível para compra! Para mais detalhes, confira a loja da Kyoto Animation (AQUI).
A animação da Kyoto Animation de Koe no Katachi é uma adaptação dos sete volumes do mangá de Yoshitoki Ooima, lançado em 2013 e finalizado com 64 capítulos na Weekly Shounen Magazine (Editora Kodansha), em 2014. Vale lembrar que no Brasil, o mangá começou a ser publicado recentemente pela NewPOP Editora.
“My Generation Baby…”
A trama dirigida pela Naoko Yamada (K-On) traz uma adaptação concisa e completa, centrada em dois personagens principais: Shouya Ishida e Shouko Nishimiya. Enquanto ele, Ishida, um garoto do sexto ano, altamente bagunceiro e que sempre quer ser a atenção principal da sua turma, ela, Nishimiya, é uma garota surda, recentemente transferida e que procura novas amizades.
Não demora para que ele, o centro das atenções e o “brincalhão” da classe, passe a ter um certo ciúme com a nova aluna, já que muitos passam a ajudar a garota nas aulas e até mesmo motivar algumas crianças a aprender a linguagem de sinais, melhorando a comunicação com a recém chegada.
Com isso, Ishida começa incessantemente a praticar o bullying com a jovem, esta que não aparenta se importar e que sempre tenta estampar um sorriso sereno em seu rosto – o que acaba deixando o garoto ainda mais nervoso – culminando em atos ainda mais pesados e resultando na saída de Nishimiya da escola.
Many Reasons Why
É fato que lá com nossos 10, 12 anos, não tínhamos muita noção do que fazíamos e o mesmo acontece com o protagonista, com o peso da consciência batendo na fase pré-adulta de Shouya Ishida. Pós a introdução do longa, temos um ato de redenção e desenvolvimento de todas as personagens – muitas que ainda não apareceram – e é aqui que temos os temas principais de debate sobre a obra: O quanto nossos atos na infância podem influenciar?
Apesar de da animação de Koe no Katachi trabalhar com o ponto de vista mais focado em Ishida, é notável de como o roteiro explora – mesmo que de uma forma rápida – as consequências da dupla de protagonistas, como também a busca pela resposta ou superação dos problemas que enfrentam. Sem querer dar muito spoiler, mas é interessante o quanto o personagem Ishida cresce com o filme.
Gatilhos e Texturas
Já que a obra trabalha com questões do cotidiano (escola, trabalho e vivência social), é natural que desperte algum gatilho no telespectador enquanto assiste. Pessoalmente, foram diversos momentos em que me vi como Ishida (para minha infelicidade, na maioria), dando aquela sensação de imersão e desabafo emocional – sabe quando você se vê naquela cena?
Por se tratar de uma adaptação e quase que um mega-resumão de dezenas de capítulos de um mangá, nem tudo está tão claro na obra. Não considero isto como um defeito, já que não sou fã da “explicação mastigadinha” e para quem está acostumado com o cinema europeu, pode não ligar para as rápidas transições e passagens temporais.
Há muitas camadas de compreensão – mas calma, não é tão complexo não! – e algumas respostas você tem que pegar “no ar”, e torcer para que a legenda ou dublagem esteja de acordo com o contexto.
Técnica
É louvável de como a Kyoto Animation e sua staff trabalharam para costurar o roteiro e conseguir trabalhar com quase uma dezena de personagens, desenvolvendo de forma satisfatória em pouco mais de duas horas de trama.
Na parte mais técnica, Koe no Katachi se aproxima da perfeição. Sério. Começando pela trilha sonora, muito presente e com uma mixagem competente, ajuda a intensificar as emoções com um ótimo timing, crescendo nos momentos certos.
A linguagem dos sinais, bem como o movimento da boca, conta com uma importância e destaque aqui. A fotografia brilha em mesclar as belas paisagens com os closes nas mãos – por sinal, muito bem desenhadas – como também na sincronia de dublagem com a abertura e fechamento da boca, algo que já estamos bem acostumados e que a Kyoto Animation detém esse selo de qualidade.
Na dublagem, o destaque vai para – obviamente – Saori Hayami, que fez a Reina em Musaigen no Phantom World e a Izumiko em Red Data Girl, expressando muito bem os momentos em que Nishimiya tenta dialogar com sua voz.
Roteiro, adaptação e recortes
Dentro da linguagem cinematográfica, Koe no Katachi pode falhar no que se diz a respeito da edição e recortes. Para quem leu, ainda mais visível, mas sabe aquela sensação de cenas jogadas – e que muitas vezes não caberiam ali?
Como já dito anteriormente, não acho que o “ritmo corrido” seja agravante – e na verdade, também não acho que prejudique o filme – mas talvez escolher não trabalhar com algumas questões no longa, seria também uma boa opção. Sei que como fã – e acredito que para vocês também – é muito bacana ter aquela cena do mangá animada.
Confesso também que diversas cenas adaptadas do mangá que foram modificadas, deve-se ao recurso visual, de como passar aquela mesma emoção que acompanhamos no mangá, ser explorada audiovisualmente. Um exemplo é o recurso do “zumbido no ouvido”, sabe?
Impacto Emocional
Koe no Katachi é um filme com duas horas que parecem apenas uma; e você gostaria que tivesse pelo menos umas quatro horas de duração.
A frase acima dá mais ou menos a sensação que sentimos quando o filme começa a se aproximar do ato final. Ainda queríamos mais da Nishimiya e cenas com seus questionamentos, reflexões e sofrimentos. Queríamos mais cenas de todos os personagens secundários que aparecem, principalmente da Ueno, onde suas motivações não foram tão bem desenvolvidas, e muita gente deve terminar o filme achando ela extremamente desprezível.
A mensagem foi dada e a essência da obra de Ooima fora executada com maestria, abordando bullying, gatilhos, preconceitos, o real valor da amizade e do valor do indivíduo num grupo, como também das consequências da misantropia, destacando-se como uma das melhores animações nos últimos anos.
Emocionante, Koe no Katachi traz um vislumbre visual em meio aos diferentes tons das relações humanas e gatilhos imersivos sob a ótica de nossas memórias e vivências.