Demorou um bom tempo até me render ao longa, o segundo Godzilla hollywoodiano, mas já posso adiantar para vocês aqui, que valeu à pena.
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A produção é dividida entre a Warner e a Legendary e conta na direção com Gareth Edwards, que vinha de pequenos trabalhos – perto desse – como Monstros.
Godzilla foi muito bem em sua estreia e na sua bilheteria durante o ano de 2014, o que renderá para o diretor uma continuação programada para 2018, algo que até podemos de nos orgulhar após o fiasco da versão de 1998, protagonizado por Matthew Broderick (Curtindo A Vida Adoidado).
Neste reboot, temos um protagonista em sua “jornada do heroi”, com um começo um tanto morno e até mesmo desacreditado, surpreendendo até o fechamento do filme. Temos também um elenco que não chama a atenção por sua popularidade – a não ser pela presença de Ken Watanabe – mas sim, um elenco que acaba ganhando espaço e força enquanto o filme se desenrola, principalmente com Elizabeth Olsen.
Entre Camadas
A trama do filme trabalha principalmente com a perda, no “que você acredita”, provação e superação, demonstrada na própria introdução do longa até mais ou menos a sua metade, onde as monstruosidades começam a aparecer de fato.
O que estou tentando dizer é que, o filme foi um pouco crucificado na questão de que Godzilla aparece pouco ou de que ele tem pouca atuação. Mas isso, deve-se ao fato do próprio diretor – ele fez o mesmo com seu filme anterior – em nos apresentar camadas, dando uma sensação de “degustação” surpresa e mais suave durante todo o filme.
O plot é bem simples, onde temos o protagonista Aaron Taylor Johnsson como Ford, que perdera seu pai – este que perdera sua mulher no início do filme – e embarca numa missão de salvar sua família, cidade e planeta dos ataques monstruosos.
Voltando as camadas, o personagem Ford acaba sendo surpreendido a cada andamento do filme, juntamente com o telespectador. A direção de Gareth tenta cuidar “especulosamente” das imagens que temos dos monstros, numa revelação gradual, ora apresentados numa janela embaçada de um metrô, na tela de uma TV de um cidadão comum, até chegar o momento em que temos uma visão total do rei dos monstros Godzilla. Este degradê visual acaba instigando nossa curiosidade e dando um ritmo rápido para um filme de 2 horas de duração.
A Mundialização de Godzilla
O que mais chamou a atenção no roteiro de David Callaham é que ele desconstrói aquele padrão de: “Produção japonesa? Vamos colocar Japão como centro do mundo” ou “Produção americana? Vamos colocar os EUA como centro do mundo”. No filme aqui, o Japão tem sua importância, a Europa tem sua importância e os Estados Unidos tem sua importância na trama, tudo numa construção crível e baseada em conflitos pós Segunda Guerra Mundial.
Da mesma forma que temos uma construção gradual no visual dos monstros, no protagonismo de Ford, temos também quanto ao perigo iminente que tais criaturas podem ocasionar com a raça humana. No filme, Godzilla é induzido – ou pelo menos os cientistas acham que convenceram-no de alguma forma – a lutar contra duas espécimes aterradoras e gigantescas, denominadas M.U.T.O. (Massive Unidentified Terrestrial Organism), estas que se alimentam de material radioativo, ou seja, mandam guela abaixo uma bomba atômica. Já que a humanidade não consegue dar conta, “vamos” usar Godzilla para detê-los.
Embelezamento Vintage
Com uma trama concisa – e de certa forma simples – temos no pano de fundo, um emaranhado nostálgico com explosões nostálgicas – remetendo até mesmo a alguns tokusatsus – trilha sonora marcante e super condizente com o ambiente e o que mais chama a atenção: O “monster design” do grandalhão, super fiel às produções da Toho, principalmente com o longa de 1954.
Em nossa era de modernidade tecnológica, como criar situações em que a tecnologia não sobressaia e ocupe o espaço do esforço humano? Difícil não é? Dessa forma, M.U.T.O. está no filme para deixar a resposta pra lá e deixar as coisas mais fáceis de trabalhar. Isso porquê os monstrengos inimigos emitem um pulso eletromagnético – danificando ou não – todo e qualquer aparato eletrônico por alguns momentos. Dessa forma, o contexto “analógico” volta à tona no filme, causando novamente o efeito vintage e similar aos filmes clássicos de Godzilla. *Momento bomba-relógio que o diga*
O Rei dos Monstros está salvo?
Sim! O filme tem suas belas particularidades, mas não é perfeito por um motivo: Risco!
Gareth e seus roteiristas fizeram o “feijão com arroz” e não arriscaram muito numa densidade de roteiro ou reviravoltas na trama, mas repetindo, de longe não o faz um filme ruim, mas sim uma boa e fiel adaptação. O desafio virá com a sequência, aí sim, poderemos ver o diretor arregaçando as mangas para entregar o “algo a mais” para nós.
Se colocarmos o filme numa mesa junto com Círculo de Fogo e King Kong de Peter Jackson, diria que ele está no meio deles, com o de Del Toro num patamar acima e o macaco gigante abaixo, já que o filme do símio abusou – e muito – o jeito “aventura” de ser. Aqui não, Godzilla é uma obra sci-fi pé no chão – até onde pode ser – que coloca a humanidade numa terrível submissão ao monstrengo, que até podemos chamá-lo de: Herói.