Em uma conversa divertidíssima, tivemos o privilégio de bater um papo com Cristina Scabbia, a renomada vocalista do Lacuna Coil, que está prestes a desembarcar no Brasil para uma apresentação épica no Summer Breeze Brasil 2024. Inclusive, ingressos ainda disponíveis, compre AQUI.
Além de discutir os planos futuros da banda e as expectativas para o festival, mergulhamos fundo nos interesses pessoais da artista, explorando sua paixão por videogames, animes e até mesmo sua colaboração com o mundo dos cardgames.
Scabbia compartilhou detalhes exclusivos sobre o próximo álbum do Lacuna Coil, sua experiência com jogos como Final Fantasy 7 Rebirth e Elden Ring, além de revelar os animes que mais a marcaram e sua relação única com a cultura geek.
Prepare-se para uma imersão fascinante no universo multifacetado de uma das vozes mais icônicas do metal contemporâneo!
BELLAN: Olá, Cristina, primeiro gostaria de agradecer pela oportunidade e estamos ansiosos para mais uma visita ao Brasil! Tudo bem com você?
CRIS: Eu estou muito bem, me preparando para ir visitar vocês! Então estou muito feliz, faltam apenas algumas semanas!
Primeiro, gostaria de saber como está o processo de composição do futuro álbum do Lacuna Coil. Há chance de sair este ano (2024)?
Bem, o plano é lançá-lo este ano. Nós já quase terminamos a fase “demo avançada”, digamos, então já escrevemos todas as músicas que estarão no disco, mas ainda não gravamos tudo profissionalmente no estúdio. Nós gravamos em nosso estúdio para descobrir como serão todas as letras e estrutura das músicas, então ainda estão faltando alguns arranjos, e se tudo der certo, gravamos o álbum depois da turnê e ele deve ser lançado antes do final do ano.
Ainda sobre o futuro álbum, o que podemos esperar dele? Algum tema ou conceito que você pode nos adiantar?
No momento eu não posso falar nada, ainda está muito cedo e não lançamos nenhuma notícia. Na verdade eu nem deveria estar falando sobre isso! Eu te dei algumas informações, espero que minha gravadora não fale “você não devia ter falado isso”. Mas estou muito animada pois amo as novas músicas e tenho certeza que vocês também irão amar. Sobre a composição, Maki (Marco Coti Zelati), com Andrea e eu, criamos a base das músicas e então nós chamamos Richard e Didi (Diego Cavalotti) para complementar. Estamos trabalhando muito! Muito mesmo, mas felizes!
O ano de 2023 foi um ano muito agitado para o Lacuna Coil. Além de diversos shows, vocês também lançaram a ótima “Never Dawn”. Gostaria de que você contasse pra gente como foi o processo criativo e como surgiu a colaboração com a marca CMON, do jogo de tabuleiro Zombicide.
A colaboração aconteceu há dois anos, nos encontramos com David e Thiago, da CMON e da Lucca Comics, que é a maior convenção de quadrinhos da Itália. Eu tive a chance de entrevistá-los para a Lucca Comics, que estava transmitindo na Twitch em seu próprio canal e eu era uma das anfitriãs, então nos tornamos amigos e nestes mesmos dias, Maki, nosso baixista, estava sempre no estande deles pois ele é um grande fã de Zombicide e de todo jogo de tabuleiro.
Então começamos a conversar naturalmente, eles iam lançar um jogo novo em campanha de crowdfunding e pediram pra gente escrever uma melodia para o trailer. Nós dissemos “porque não fazer uma música de verdade, não só uma melodia, mas encontramos letras e uma linha vocal, e gravamos como se fosse uma música do Lacuna Coil e depois colocamos um pedaço dela no trailer?” Aí eles gostaram muito da ideia, e foi assim que “Never Dawn” foi lançada, as letras são fortemente influenciadas pelo jogo, e a CMON levou a colaboração a outro nível e fez miniaturas de todos os membros do Lacuna Coil, que você podia ter se comprasse o jogo.
Foi uma das colaborações mais incríveis, eles nos levaram para a Comic Con San Diego no ano passado também, então tivemos a chance de fazer sessões de autógrafos, distribuímos o quadrinho com um pouquinho da história do Lacuna Coil com Zombicide. Nós os amamos muito.
Sua sala é muito bacana!
Obrigada! Esse aqui é o canto onde faço streams, mas te garanto que o resto da casa é igual. Alguém pode pensar que eu juntei essas coisas só pra parecer legal, mas o outro lado da casa é igual.
Como você equilibra sua carreira musical com seus interesses em videogames?
Bem, o meu trabalho é ser uma cantora, então a música sempre será o meu amor principal. Mas, sempre que tenho um tempo, eu faço streams na Twitch, e sempre que posso faço outras colaborações, só porque eu amo o mundo nerd, amo convenções de quadrinhos, e muitas vezes eles me chamam pra ajudar a conversar com o mundo do metal sobre o mundo nerd, por que não? Porque esses dois mundos estão muito conectados, sabe? Eles parecem distantes, mas a realidade é que, em muitos videogames, você ouve muitas músicas de metal, e às vezes a criançada nem pensam nisso, nem sabem que isso é metal.
O que mais chama sua atenção? História ou Gameplay?
Eu amo jogos que têm lore! Eu amo histórias, amo jogar enquanto acompanho uma história. Eu quero que meu personagem, ou o personagem que estou comandando, seja parte da história. Eu não sou uma gamer competitiva, sou totalmente single-player. Eu só não gosto de competir, apenas comigo mesma e tomar o tempo que for, às vezes eu não jogo por semanas e às vezes eu jogo todos os dias.
Está gostando de Final Fantasy 7 Rebirth?
Muito! Infelizmente já fazem umas duas semanas que não jogo, mas por outro lado, meu namorado já platinou o jogo! Quando eu não estava aqui, estava na casa dele, era ele que jogava, então eu já sei tudo sobre os troféus que você pode conquistar. Mas eu não vi o final! Todos me disseram que o final é muito forte, então eu só pedi pra não me falarem nada, e ninguém o estragou ainda!
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Você gosta de Elden Ring também?
Eu amo Elden Ring mas eu sou muito ruim! Eu adoro jogar, ver meu namorado jogar porque ele é muito bom. Eu não sou nem um pouco boa, então esse é um jogo que eu admiro de longe, mal posso esperar o lançamento da DLC. Eu até tenho a edição de colecionador e o elmo, porque eu amo edições de colecionador e achei essa super legal, mas o jogo me assusta. A música e os chefes são tão intensos, eu vejo e penso “não consigo!” E meu namorado sempre me diz que eu devia jogar, que é só memorizar os padrões e tal, e eu “não não não!” Sou uma covarde!
A trilha sonora do Elden Ring é uma das minhas mais tocadas no Spotify. Eu amo trilhas sonoras, amo trilhas sonoras de videogames no Spotify.
Em 2020 houve uma colaboração do cardgame Magic The Gathering com algumas bandas, inclusive com o Lacuna Coil (LEIA AQUI). Como surgiu esta colaboração? Qual sua relação com o cardgame?
Eles nos chamaram para colaborar. Eu não sou uma boa jogadora, jogo muito pouco Magic, mas sou fascinada pelas cartas e pela coleção que eles constroem ao redor delas. Amo o fato deles estarem colaborando com muitos artistas. Eles nos pediram pra fazer, pois aquelas cartas eram relacionadas a metal, e eu acho que nós somos uma das bandas mais perfeitas para colaborar na Itália quando falamos de metal e do velho mundo nerd. Então eles nos pediram para apresentar aquelas cartas antes de todo mundo, e aquela foi uma das colaborações mais incríveis. Espero que possamos colaborar mais.
Eu já fiz algumas outras colaborações com Magic the Gathering na Itália porque eu também sou apresentadora de um programa de TV que fala sobre tudo de nerd, filmes, jogos, jogos de tabuleiro e também cartas, e já fizemos muitas apresentações de novos decks, unboxing, e é sempre muito legal. Nós fizemos de um do Senhor dos Anéis, e de mais um Commander Set que agora não me lembro.
Agora falando sobre obras japonesas. Você se lembra do primeiro anime que te emocionou? E por quê?
Bem, muitos deles, mas o que eu sempre menciono é A Viagem de Chihiro (Spirited Away). A Viagem de Chihiro é o filme animado que realmente mais pega em meu coração, eu já o assisti múltiplas vezes, muitas muitas muitas vezes, inclusive dois dias atrás, e eu poderia assistir de novo e de novo sem enjoar, pois estou sempre encontrando alguma coisa nova. Esse é o melhor para mim.
E atualmente, quais os animes que mais te marcaram? E um que te decepcionou?
Bem, eu gosto de Dragon Ball, como muitas pessoas. Não consigo mostrar tudo aqui mas tenho muitas figuras legais!
Eu amo um, não sei como é a versão em inglês. Nós chamamos de “Ken il guerriero”. Você provavelmente já viu, é uma série dos anos 90, meio que pré-Mad Max, com guerreiros enormes…
*O BELLAN não se tocou que era hokutinho, mas logo em seguida, o Marcos, da Assessoria da Nuclear Blast, muito bem lembrou: Aqui é chamado de Hokuto no Ken!
Sim, é esse aí! Algumas semanas atrás, porque eu sou doida assim, eu adoro figuras, e aí eu comprei uma figura enorme do Ken lutando contra o Raoh. É enorme, eu nem sei onde eu vou colocá-la, mas eu comprei por instinto, tive que comprar! Eu amo! Sim, Hokuto no Ken. Nós chamamos em italiano de “Ken il guerriero”.
Qual anime a trilha sonora te marcou e gostaria de ter participado do tema de abertura?
Ah, eu gostaria de cantar… na verdade esse é um dos meus grandes sonhos, e algum dia eu vou fazer isso, vou juntar todas as trilhas de diferentes animes e filmes que gosto. Eu sou apaixonada pela trilha sonora de Attack on Titan, e tem umas duas músicas que eu quero muito cantar, mas que são em alemão, então isso será um desafio porque eu não sei falar alemão, mas eu vou aprender! Tem uma música de Ghost in the Shell que gosto muito, e de Berserk que também amo muito. Eu diria destas três!
Como você se mantém inspirada e criativa ao longo dos anos? Seu interesse pela cultura geek ajuda no processo criativo?
Ajuda! “Never Dawn” foi inspirada em algo geek, pois as letras foram inspiradas pela história daquela edição de Zombicide. Eu acho que somos inspirados por tudo que acontece conosco, o que ouvimos, o que assistimos, e como sou muito atenta a tudo que acontece no mundo nerd, tenho certeza que influencia. E não estou falando só sobre mim, porque o Maki é um grande nerd também e ele escreve a maior parte das músicas, ele é nosso baixista e também produtor. Andrea, o outro cantor do Lacuna Coil, também é um grande fã de quadrinhos. Nós três temos esse tipo de paixão. Já Richard e Didi, nem tanto. Eu, Andrea e Maki somos os três nerds.
No próximo dia 14, fará 14 anos do falecimento do Peter Steele. Sabemos que nos anos 2000, Lacuna Coil e Type O Negative tinham uma relação muito próxima, inclusive em turnês. Como era sua relação com ele e como ele contribuiu musicalmente na sua vida?
Nós éramos grandes fãs de Type O Negative mesmo antes de conhecê-los. E você sabe como é, quando você fala sobre seus ídolos, você visualiza uma pessoa que gosta porque suas músicas significam tanto pra você, você os imagina como deuses. E você tem medo de conhecê-los, porque se eles não forem como você os imaginou em sua mente, será um grande trauma. Então fomos fazer turnê com eles, e me lembro bem do primeiro dia, estávamos em nosso camarim, e ficamos pensando “será que eles vão conversar com a gente, chegar perto da gente?”, porque eles estão lá no Olimpo, né? E eu me lembro que na primeira tarde, Peter Steele entrou no nosso camarim, apertando nossas mãos e nos agradecendo por estarmos em turnê. E depois disso, aquela turnê foi a melhor que já tínhamos feito. Nos demos muito bem, nos divertimos, compartilhamos o tempo.
Lembro-me de uma noite em que Dimebag [Darrell] veio no ônibus da turnê, e nós fomos para o Clubhouse, a casa de strip do Dimebag e do Vinnie Paul, junto com todo o grupo do Type O Negative. Então, imagina ser fã e sair junto com eles numa limusine pra ir pra casa de strip do Dimebag e do Vinnie Paul? Foi surreal para nós, italianos.
Quando eu soube da notícia da morte dele, foi um choque enorme. Eu não estava esperando. Nós não entramos em contato, mas sabíamos como eles estavam, eu conversava com o Johnny e o Kenny, pois eles estavam tocando em outras bandas, e eu tinha ouvido que ele estava bem. Foi um choque para todos nós. Então todo ano eu tento lembrar do seu aniversário e do dia de sua morte, porque ele é uma dessas pessoas e vozes e mentes que nunca mais encontraremos, e eu fico contente de manter o seu legado vivo, lembrar dele e como nós o amávamos.
[nota do editor]: A música “My Spirit”, do álbum Dark Adrenaline (2012) foi dedicada a Peter Steele. Ouça AQUI.
O Lacuna Coil construiu uma linda e longínqua trajetória. Qual é o aspecto mais desafiador e gratificante de estar na indústria da música por tanto tempo?
Foi muito desafiador no início, pois por alguns anos, na verdade, muitos anos, nós não conseguíamos viver de nossa música. Então tínhamos que manter nosso sonho vivo mas, ao mesmo tempo, equilibrar uma vida com outros empregos, e tínhamos que fazer tudo funcionar. Isso foi numa era onde não existia internet, não existia Spotify, nenhum smartphone, nenhum computador, nenhuma rede social. O verdadeiro trabalho tinha que ser feito no local, precisávamos estar em turnê, e levar nossa música até o mundo, o mundo não vinha até a gente ver nossos stories ou posts, então era muito mais difícil. Mas estou feliz que conseguimos, que acreditamos estar construindo algo, continuamos trabalhando duro.
Nós também tivemos sorte, sempre dizemos que você pode ser a pessoa mais talentosa do mundo, mas você sempre precisa de um pouquinho de sorte pra estar no tempo certo, na hora certa, pras pessoas te notarem e perceberem que você tem potencial. Então no começo foi uma luta, mas nunca foi uma luta tão difícil de manter, era uma luta no sentido de desafio, nós vamos conseguir! Não será fácil, mas não vamos parar, vamos continuar pois sabemos que estamos construindo algo legal. Satisfações são muitas! Só o fato de que nos conectamos com muita gente, só de saber que pessoas foram curadas pela nossa música, ou inspiradas, ou que usam a nossa música para passar por momentos ruins, e também o caminho que percorremos, todas as coisas boas que fizemos com nossa música. Fazer parte da música, de videogames, de filmes, colaborações, turnês, as viagens, conhecer tanta gente. Eu ainda amo o que fazemos, amo viajar e tocar em shows.
O Brasil e a Itália têm muita coisa em comum. Mas gostaria de saber, na sua visão, algo que definitivamente nos diferencia, em que somos totalmente diferentes.
Bom, nós temos muitas coisas em comum! Somos ambos muito apaixonados, a parte latina é muito presente. Completamente diferentes? Eu não sei, talvez o clima? Porque pra mim o clima sempre parece muito melhor, sempre que penso sobre o Brasil, sempre me parece que vocês têm o melhor clima do mundo!
Como você se sente sobre a oportunidade de se apresentar no Summer Breeze Brasil 2024 e no mesmo dia do Epica e Within Temptation? Podemos esperar alguma surpresa? É algo inédito no Brasil e estamos muito animados!
Estou animada! Eu estava conversando com a Simone [Simons] há pouco mais de uma semana atrás, porque eu conheço as duas bandas musicalmente e num nível pessoal também, então vai ser divertido! Será uma reunião com amigos e estamos todos muito animados para estar lá! Esse é o nosso primeiro festival no Brasil! Nós já tocamos shows, mas é a primeira vez que tocamos num festival então teremos essa experiência, finalmente!
Podemos esperar alguma surpresa?
Eu não sei, porque não tivemos muito tempo para ensaiar juntos, será ótimo, talvez possamos pensar em algo. Se for pra ser uma surpresa, não posso te contar, mas vamos tentar pensar em algo. Vai ser legal!
Para finalizar, existe alguma mensagem que você gostaria de transmitir aos seus fãs brasileiros?
Sim, estejam prontos, sejam barulhentos! Eu mal posso esperar para vê-los novamente, sempre estão nos perguntando “quando o Lacuna Coil volta para o Brasil?”, estaremos lá em algumas semanas, mal posso esperar para vê-los! Eu sei que será um dos melhores shows ever!
*Recentemente o evento confirmou que vai rolar Signing Sessions com o Lacuna Coil!
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Créditos e Agradecimentos: Jaqueline (Revisão), Renato (Tradução e Adaptação), Gabby (Apoio), Moita (Dicas), Marcos Franke (Nuclear Blast), Diogo Locci (Assessoria SBOA), Nicole (Cortes e Redes Sociais).
