quarta-feira, julho 16, 2025
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Antologia Opera Sopa | Review

Opera Sopa é uma antologia com histórias de faz de conta sobre delírios e dilemas, conforme sua descrição. Ela é uma publicação da editora nVersos, com roteiro e arte de Diogo Pavan.

É uma publicação linda, com todas as suas 136 páginas coloridas em papel couchê, um dos motivos do preço ser super acessível. Aqui, temos 10 histórias, algumas maiores e mais complexas, outras menores e dinâmicas, sobre questões sociais, filosóficas e até mesmo éticas.

Em 2022 a obra foi indicada ao 34º Troféu HQMIX e ao Prêmio Leblanc, sendo publicada pela nVersos em 2024.

Opera Sopa nVersos
nVersos | Divulgação: Suco de Mangá

Capítulos

O primeiro capítulo de Opera Sopa se chama Herói e, pra ser sincera, foi um dos meus preferidos. Afinal, com um enredo envolvente e pinceladas de humor irônico, comenta sobre o que faz de alguém um verdadeiro herói. Assim, junto de uma arte muito gostosinha de ver, refletimos sobre escolhas e suas consequências, sobre ganância e orgulho, e sobre amor e amizade.

Inclusive, o segundo capítulo fala justamente sobre isso, tendo como título Ganância. Nela, um homem está à frente de uma figura esquelética, fantasmagórica e sobrenatural. Ele pode fazer apenas um pedido, colocando à prova seu caráter. Particularmente, eu gosto muito dessa proposta meio “pacto com o diabo”, ainda mais quando não temos um final feliz.

Opera Sopa nVersos
nVersos | Divulgação: Suco de Mangá

Em seguida, Ideologia ou Morte tem uma pegada mais de ação, com várias cenas de luta, assassinatos e um heroísmo americano onde apenas uma pessoa acabar com um batalhão de vilões. O diferencial é que esse heroísmo vem de uma mulher, chamada de “loira”, que quer salvar os trabalhadores de uma indústria meio maligna.

Enfim, depois temos um universo pós-apocalíptico em que a protagonista também está em uma missão de resgate; uma realidade no futuro onde a IA está super avançada e vários simulacros são criados dentro do outro; uma história na era das cavernas com um enredo ironicamente moderno; um conto bem pegada horror cósmico com um body horror que me lembrou muito Junji Ito; e alguns outros pequeninos contos entre eles.

Opera Sopa mirou alto e passou de raspão

Vamos para as minhas impressões da HQ. De maneira geral, eu gostei muito, mas não amei. Como eu disse, Herói provavelmente foi a minha preferida, seguida de Ganância. O que, apesar de ter sido ótimo começar com narrativas tão boas, frustrou um pouco as expectativas para as seguintes.

Não me entendam mal, a HQ possui ótimos contos e artes super originais, Diogo realmente merece o crédito pela versatilidade e habilidade de fazer tantos estilos diferentes. Porém, senti uma tentativa de fazer todas as histórias serem grandiosas e cheias de significados, o que deu certo em algumas, mas nem tanto em outras.

Opera Sopa nVersos
nVersos | Divulgação: Suco de Mangá

Por exemplo, as histórias “da loira” e do universo pós-apocalíptico possuem praticamente o mesmo enredo. Uma mulher fodona vai até o covil dos malvados e consegue acabar com todos eles sozinha para salvar os oprimidos e seus ideias. A intenção de uma protagonista feminina nessa posição é maravilhosa, eu adorei e precisa sim ter seu mérito, mas a proposta é basicamente a mesma, ainda mais pra ser um capítulo seguido do outro.

Além disso, em Ideologia ou Morte eu fiquei profundamente incomodada por essa mulher incrível, invencível, fortona, badass ser chamada apenas de “a loira”. Fiquei me perguntando, quantos protagonistas masculinos conhecemos que são chamados de “o loiro”, “o moreno”, “o ruivo”, “o calvo”? Em contrapartida, conhecemos vários que possuem codinomes com muito mais personalidade, ou são famosos pelo seu nome próprio.

Por esses motivos, senti que Opera Sopa mirou alto, tentou fazer algo revolucionário, profundo, reflexivo, mas passou de raspão. Às vezes tá tudo bem fazer um arroz e feijão, desde que ele seja bem-feito e super saboroso, assim você pode investir em uma sobremesa mirabolante pra fechar com chave de ouro.

Opera Sopa nVersos
nVersos | Divulgação: Suco de Mangá

Conclusão

Dito tudo isso, quero ressaltar novamente a técnica e habilidade de Diogo em conseguir explorar tantos estilos diferentes. Já é difícil encontrar nosso estilo único em uma produção artística, mas encontrar diversos estilos únicos é ainda mais desafiador.

Além disso, reforço que nenhuma história aqui é ruim, nenhuma. São boas histórias, com muita influência do Chamado de Cthulhu e horror cósmico. As histórias curtas também foram uma ótima sacada que, assim como as capas fictícias entre os capítulos, dão um respiro nas narrativas mais densas e trazem dinamismo à leitura.

Também, pra gente acostumado com mangá, é um tesouro ter uma publicação inteira com páginas coloridas, ainda mais com uma coloração tão cheia de personalidade e muito bem-feita.

Por fim, sendo bem sincera, minha parte preferida de Opera Sopa foi a carta aos leitores. As palavras do autor foram inspiradoras e, se você é um artista que ainda tem suas inseguranças, te digo pra ler essa introdução com o coração aberto. Enfim, mesmo com seus tropeços, essa antologia traz boas reflexões para o leitor, com artes de encher os olhos. Ela veio para mostrar que nossos artistas nacionais conseguem facilmente se igualar a tantas obras internacionais aclamadas por ai que não tem metade da profundidade de Opera Sopa.

Opera Sopa nVersos
nVersos | Divulgação: Suco de Mangá

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SINOPSE

Opera Sopa é uma saudosista antologia sobre dilemas humanos em uma roupagem de fantasia e ficção científica. Com uma linguagem retro-futurista ela não se restringe a estilos e gêneros ao contar histórias, sua arte se transforma em prol de emular uma das principais características das clássicas antologias vanguardistas, a experimentação da narrativa na arte sequencial. 
Jaqueline
Jaqueline
Um pouco avoada, a doida das teorias da conspiração e leitora compulsiva do Nome do Vento. Adoro escrever sobre aleatoriedades, observar a natureza e ser engraçadinha em momentos impróprios, afinal esse é meu jeito ninja de ser.

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Opera Sopa é uma saudosista antologia sobre dilemas humanos em uma roupagem de fantasia e ficção científica. Com uma linguagem retro-futurista ela não se restringe a estilos e gêneros ao contar histórias, sua arte se transforma em prol de emular uma das principais características das clássicas antologias vanguardistas, a experimentação da narrativa na arte sequencial. Antologia Opera Sopa | Review