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    A produção de animações no Japão: a técnica pioneira que não é mais utilizada

    Uma das maiores dificuldades encontradas durante a pesquisa de animações estrangeira que fogem do eixo estadunidense é a falta de materiais para referência bibliográfica. Os pesquisadores precisam ter em mãos materiais em que possam se basear a fim de desenvolver as pesquisas. Portanto, quando há diversas barreiras – linguísticas por exemplo – que impedem de ter materiais de qualidade para pesquisa, surge um dilema: é preciso mudar de assunto por falta de fontes confiáveis sobre o que está sendo procurado ou é melhor desbravar o assunto?

    A segunda opção é, sem sombra de dúvidas, a mais difícil. Porém, também aquela que trará resultados mais interessantes e satisfatórios (do ponto de vista do desenvolvimento pessoal).

    Animação Japonesa

    A animação produzida no Japão é uma das mais interessantes de analisarmos. Principalmente quando pensamos no desenvolvimento histórico e técnico dessas produções.

    Temos como exemplo o que é considerado o primeiro filme de animação feito no Japão, Katsudô Shashin (1907). O que mais chama a atenção nessa obra é a técnica. No filme vemos um menino usando roupa de marinheiro escrevendo uma frase e fazendo uma mesura para o público que lhe assiste.

    Apesar de comum no Ocidente, principalmente entre animadores dos anos 60 nos EUA – tendo no Brasil, como exemplo mais famoso, o filme “O Átomo Brincalhão” (1964), de Roberto Miller –, essa técnica de animação direta ou animação sem câmera, em que as imagens são criadas diretamente na película, pode ser considerada experimental para os padrões atuais.

    Obviamente não podemos cometer anacronismos. Numa época de desenvolvimento de uma nova tecnologia, em que técnicas e conceitos ainda não haviam sido estabelecidos, praticamente tudo que se fazia era uma experimentação.

    No entanto, o que mais chama a atenção no decorrer da história da animação japonesa é que, dos filmes que sobreviveram ao tempo, não encontramos nenhuma outra obra que utilizasse essa mesma técnica.

    A vantagem da animação desenhada diretamente na película do filme é que ela é relativamente barata, pois não requer conjuntos de câmeras complexos, nem milhares de células, nem softwares caros

     Algumas ferramentas simples de desenho e gravação, um rolo de filme e um projetor podem ser suficientes para permitir que um animador explore sua originalidade e brinque com um meio totalmente único.

    Além disso, essa simplicidade do formato também obriga os animadores a serem mais criativos e inovadores na narrativa por meio de recursos visuais animados.

    Oten Shimokawa

    Por esses motivos, não é de se espantar que o primeiro filme animado (cujo autor é desconhecido) tenha utilizado essa técnica. Oten Shimokawa (1892-1973), um dos primeiros animadores japoneses de que se tem registro, também usou a animação direta em seus trabalhos, provavelmente pelas mesmas razões.

    Os primeiros trabalhos de Shimokawa datam de 1917. Ele iniciou sua carreira como ilustrador de charges políticas e mangás. Aos 26 anos, foi contratado pelo estúdio Tennenshoku Katsudô Shashin (Companhia de Filmes de Cores Naturais) para criar um curta-metragem em animação.

    A técnica mais comum de produção de animações, criada em 1915, era a pintura em celuloides transparentes. Nela, eram pintados em camadas diferentes os diversos elementos do filme.

    No entanto, esse tipo de material era escasso no Japão na época, razão pela qual Shimokawa foi pioneiro em utilizar duas técnicas de animação: a pintura de giz em quadro-negro e a pintura direta na película do filme.

    Assim como muitas outras animações criadas no Japão antes da década de 20, nenhum vestígio desse filme – nem de qualquer outro curta-metragem de Shimokawa – sobreviveu aos incêndios causados pelo Grande Terremoto de Kanto em 1923, que destruiu boa parte dos materiais do primeiro estúdio de animação existente no Japão.

    Fora Katsudo Shashin, não temos registro de outros filmes animados japoneses que utilizem essa técnica.

    Mas qual o motivo disso?

    É difícil dizer, pois essa questão pode ser analisada por diversos ângulos, desde questões orçamentárias – já que as primeiras animações feitas no Japão eram realizadas com a técnica de recortes – até questões estéticas, quando o Japão começou a produzir animações em celuloides transparentes, proporcionando uma animação mais fluida e, por consequência, mais atraente aos olhos do público.

    Segunda Guerra Mundial

    Algo que devemos ter em mente é que as técnicas de animação também influenciam o tipo de narrativa. Se olharmos para o período da Segunda Guerra Mundial, percebemos que a animação produzida no Japão durante esses anos tinha como principal função serem animações propagandistas. Suas histórias contavam lendas japonesas que se uniam para enfrentar os inimigos ocidentais.

    No início do desenvolvimento do cinema, não havia estabelecimento das técnicas. Mas agora o cinema de animação era uma indústria forte e concreta no cenário do imaginário popular japonês devido ao incentivo governamental para a produção desse tipo de filme.

    Percebe-se que a qualidade técnica deveria acompanhar o desenvolvimento narrativo. Afinal, a produção de uma técnica complexa como a animação direta na película do filme demorava demais e a qualidade de fluidez dos personagens também sentia o prejuízo.

    Após a Segunda Guerra, graças à ocupação estadunidense as animações com temáticas nipônicas se tornaram ilegais em território japonês. Novamente, vemos que as narrativas dos filmes tiveram que se adaptar.

    Mudança de ares

    Assim a animação japonesa tomou dois rumos: animações fantásticas e extravagantes, com protagonistas animais e características cartunescas similares aos trabalhos de Walt Disney; e a adaptação de contos folclóricos de outros países.

    Mais uma vez as narrativas moldam as técnicas de produção. Agora, se as animações estavam seguindo padrões de produção ocidentalizados, as técnicas deveriam seguir um padrão similar. Pelo menos no que diz respeito às animações que não tiveram destaque em festivais internacionais, como foi o caso das obras do diretor Noburo Ofuji.

    Esse diretor teve reconhecimento internacional em diversos trabalhos, primeiramente com “Flor e Borboleta” (1954). A animação utilizava técnicas de animação em celuloide, mais tarde recebendo elogios de Pablo Picasso e Jean Cocteau com “Baleia” (1952). Este é um filme de silhuetas multicoloridas em celofane, que lhe garantiu o segundo lugar no festival de Cannes em 1952. Em 1956, ele recebeu o prêmio máximo no Festival de filmes de Veneza com “Navio Fantasma”, também com a técnica de silhuetas multicoloridas.

    Tecnologia

    As décadas seguintes tiveram muitos desenvolvimentos industriais e tecnológicos. O estúdio Toei, com seu filme “O Conto da Serpente Branca” (1958), demonstrou capacidade de ultrapassar barreiras culturais e ter destaque no grande mercado internacional.

    Osamu Tezuka, Hayao Miyazaki, Isao Tahakata, Katsuhiro Otomo, Satoshi Kon, Makoto Shinkai e tantos outros cineastas produziram obras reconhecidas mundialmente. Porém, nenhuma delas utiliza a técnica de animação direta na película.

    Pode-se pensar que é impossível a confecção de um longa-metragem utilizando essa técnica por conta do tamanho da película do filme.

    Esta pode variar consideravelmente, e os formatos mais utilizados são 35 mm, medida equivalente à largura do filme, cujas dimensões do fotograma são 22,05 × 16,03 mm; 16 mm, com dimensões do fotograma de 10,26 x 7,49 mm; e 70 mm, cujas dimensões de fotograma são 52,63 x 23,00 mm.

    Com certeza a limitação do tamanho do material dificulta a produção de grandes produções. No entanto, o fato de não encontrarmos nenhuma outra obra semelhante a Katsudo Shashin pertencente à mesma época é um dado importante.

    Quem sabe, num futuro próximo, haja uma onda de animações experimentais no Japão. e, dentro das técnicas usadas, a animação direta possa trazer outros filmes, com visuais e narrativas únicas?

    Seria interessantíssimo e maravilhoso de se estudar.

    Só o tempo dirá.


    Texto de Viktor Danko, mestre em comunicação e professor na universidade São Judas

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    Animação japonesa
    Imagem Divulgação

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