Parece que tudo que vinha pro Brasil com monstro ou na temática horror nos anos 80/começo dos 90, recebia o nome demônio, ou algo relacionado. Pelo jeito, aconteceu com este aqui também.

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Só pra você ver que não estou inventando moda, sem googar nem nada, listo alguns títulos que lembro: A Morte do Demônio (Evil Dead no original e um clássico *-*), A Encarnação do Demônio (Zé do Caixão <3), Demônios e Maravilhas, A Noite dos Demônios, A Classe do Demônio, Demônio do Espaço… enfim.. já deu pra sacar né?

Bem, antes de tudo, saca só como começa. Bacana que já serve de “introdução” ao que vamos falar. *Por favor, no bom sentido*

Genialidade Controversa de Toshio Maeda

Particularmente, considero Maeda uma espécie de H.R. Giger nipônico. Para quem viu os trampos do cara, sabe que além do erotismo, as obras vem carregadas de violência e bestialidade. Sabe aquele estilo hentai com tentáculos e membros entrando em tudo que é lugar? Dê os créditos à ele – ou não.

Espero ainda falar mais deste autor, mas resumindo o seu trabalho com ‘A Lenda do Demônio’ ou no original ‘Choujin Densetsu Urotsukidouji’ ou apenas ‘Urotsukidouji‘ – ok, difícil de qualquer forma – é que o autor enfrentava o bloqueio da legislação japonesa em meados dos anos 80, onde não podia retratar da forma que queria os atos sexuais, como exposição das genitais masculinas.

Foi aí que o cara teve a grande sacada grotesca, sério. Além de driblar as leis nipônicas com os tentáculos – e que ainda possuíam olhos em sua extremidade – Toshio criou um roteiro conciso envolvendo temas religiosos e ocultistas em pleno 1986. Tudo para dar errado. Talvez no começo tenha dado alguns problemas com o autor (e depois com a animação), mas fato é que o diretor deste primeiro longa, Hideki Takayama, adaptou o mangá de Maeda muito bem.

 A Lenda do Demônio Urotsukidoji amano
Amano em A Lenda do Demônio ou Urotsukidoji (Imagem Divulgação)

Cine Band Privê

Além dos problemas com o mangá, Maeda e o diretor Takayama também tiveram com a animação. Proibido em diversos países (como Austrália e Inglaterra), o longa animado chegou no Brasil como um “outro desenho japonês” qualquer, mas né, isto até ser exibido.

Para você que tem mais de 20 anos de idade, sabe muito bem o impacto que ‘Cine Band Privê’ teve na garotada. Em meio aos pornochanchadas e Emmanuelle da vida, estava lá ‘A Lenda do Demônio’, exibido pela primeira vez em 1998. Por registros na web, estima-se que passou 3 vezes naquele mesmo ano, e olha, consegui “pegar” duas vezes e mais, consegui gravar numa finada fita VHS.

Para espanto, apenas nestas poucas exibições o estouro e sucesso foi extremamente grande – e minha fita rodou inúmeras vezes. Sabe como é, internet no Brasil naquela época, era um luxo bem caro e consequentemente, a busca pela informação era mais difícil. Logo, ‘A Lenda do Demônio’ era uma novidade por aqui.

A Lenda do Demônio

Bom, já que estamos falando com mais foco no OVA, vamos lá. Não conheço o mangá para fazer alguma comparação de roteiro, mas sabe-se que:

A obra animada é dividida em 6 sagas. Este é o primeiro filme da Primeira saga com três. Em inglês, os títulos ficaram como:

Birth of the Overfiend (1987)
Curse of the Overfiend (1988)
Final Inferno (1989)

Estas três obras são as adaptações diretas do mangá e conta que a cada 3 mil anos, um poderoso demônio (o tal do Overfiend) vem a Terra para equilibrar os três mundos: O nosso (humanos), dos demônios e dos meio-demônios.

Com isso, Amano vem ao nosso mundo junto de sua companheira Megumi – ambos meio-demônios – na caça desse tal demônio overpower. E do jeito “anime de ser”, o tal demônio vai despertar no corpo de um humano qualquer e tarado da escola Myojin, o tal do Tatsuo.

Bem, até aí tudo bem e o roteiro se desenrola para um caminho dado como “certeiro”. Uns comem ali, outros com tentáculos ali e toda bestialidade por lá. Mas é aí que toda genialidade de Maeda – e do diretor Takayama em animar isso – entram em cena: A cereja do bolo é a surpresa! O roteiro dá uma reviravolta tremenda e termina sem…. fim?

Como dito, A Lenda do Demônio que passou no Brasil é a primeira parte de três, e infelizmente – e aos que aguentavam ficar acordados até o fim do filme na madrugada sem acordar os pais – não continha um fim O.O’. Pra quem tiver a chance de acompanhar o filme/OVA dublado, é bem interessante, já que reúne diversos personagens centrais de Dragon Ball! Saca só:

  • Nagumo – Márcio Araújo (James de Pokemon, Yamcha de Dragon Ball)
  • Akemi – Tânia Gaidarji (Bulma de Dragon Ball, Paradox de SS Omega)
  • Amano – Figueira Júnior (Fry de Futurama, 17 de Dragon Ball)
  • Megumi – Márcia Regina (Misty de Pokemon, Cheza de Wolf’s Rain)
  • Osaki – Sérgio Corsetti (Leorio de Hunter x Hunter)
  • Aqualitis – Alexandre Marconato (Tenshinhan de Dragon Ball)
  • Deus Supremo – Raquel Marinho (ChiChi de Dragon Ball)
 A Lenda do Demônio Urotsukidoji
Capa do VHS de A Lenda do Demônio ou Urotsukidoji (Imagem Divulgação)

Além da Lenda

A Sato Company distribuiu aqui no Brasil (a versão americana e editada) e é a atual detentora das cópias de Naruto. Obviamente, ela não pensa em lançar esta obra cult por aqui. Mas para você fã da animação japonesa, principalmente oitentista, pode encontrar em sites como Amazon, sob o título americano de ‘The Legend of the Overfiend’. *Tem em blu-ray também*

Claro, não pode deixar de comentar é de que a obra não pára por aí. Além dos 6 volumes em mangá de Toshio Maeda, lançados no período de 1986 e 1987, foram lançados 16 episódios em OVA, no período de 1987 e 1994. Ou seja, o que você está vendo por aqui, é a ponta de um dos tentáculos da obra.

Para os amantes de séries cults ou censuradas – para buscar o porquê da censura – é um prato cheio daqueles. A Lenda do Demônio é uma obra grotescamente bela, ápice do horror erótico japonês e além de tudo, um representante da liberdade artística.

 A Lenda do Demônio Urotsukidoji monstro
A Lenda do Demônio ou Urotsukidoji (Imagem Divulgação)