Particularmente, sou um fã de filmes que abraçam um quê de absurdismo carismático — talvez por isso eu gostei de Beau Tem Medo. Em A Estrela Cadente, dirigido por Dominique Abel e Fiona Gordon, tem essa característica que eu gosto, mas, curiosamente, também vejo como seu maior defeito.
Enredo de A Estrela Cadente
Corrigir os erros do passado, ou viver em medo, são dois caminhos igualmente difíceis. Boris (Dominique Abel), opta pela segunda alternativa e esconde-se como bartender, mas essa falsa segurança é rapidamente confrontada.

O protagonista cometeu um atendado e, com medo das consequências escolhe essa vida. O roteiro, assinado pelos diretores do filme, não perde tempo em apresentar a trama e dá espaço para suas melhores carcterísticas: seus planos quase teatrais, linguagem corporal e bom humor.
Para escapar, ele e dois parceiros, Kayoko (Kaori Ito) e Tim (Phillippe Martz), ajudam ele a se esconder. E graças a um infeliz sósia que eles encontram em uma cômica e lenta ré do carro.

O enredo em si não é lá dos mais memóraveis, mas as características além do roteiro elevam a qualidade do filme.
A teatralidade da obra
Grande parte das cenas são posicionais de frente, quase como se fôssemos uma plateia em frente ao palco de um teatro. É um característica curiosa e que salta os olhos, sendo portanto um dos pontos altos do filme.
No entanto, essa estética não se resume apenas a fotografia: a mise en scène grita o nome da segunda arte. O posicionamento dos atores, a atuação, o cenário, iluminação e os objetos de cena nos levam ao teatro enquanto vemos um filme — do início até o Exeunt Omnes.

O corpo empurrando o roteiro adiante
Mesmo com uma solução para o problema de Boris, o sequestro de um desafortunado sósia, a ex-mulher e detetive, Fiona (Fiona Gordon), investiga o desaparecimento dele. Esse aspecto aproxima o filme do noir, o que surpreende, já que o gênero norte-americano não é facilmente associado com humor. Porém, encaixa naturalmente.

Essa mistura exala caos e o filme apresenta isso através da linguagem corporal dos atores, em especial por conta da dançarina e coreógrafa Kaori Ito. O filme acelera quando precisa, nos leva a uma dança lenta quando necessário e beira o ridículo quando o momento pede.
Entretanto, em alguns momentos parece um obstáculo, como coreografias que quebram o ritmo do enredo justamente quando está atingindo o ápice narrativo. A vontade que dá é avançar alguns minutos para saber o que acontece depois.
Estraga a experiência? De forma alguma! Mas, assim como o uso do corpo como ferramenta narrativa é um acerto, também passa a sensação de ser um erro ao usá-lo demasiadamente.
Onde cai a estrela cadente?
A Estrela Cadente tem muito mais acertos do que erros e, mesmo que não tenha uma história memorável, suas escolhas narrativas são interessantes. O filme não se leva tão a sério e honestamente nem todo filme precisa.
É um respiro que diverte, intriga, aborrece e tira do conforto.
