O ano é 2016, estreava no cinema aquilo que seria a desconstrução de uma das criaturas mais aterrorizantes do universo da fantasia, sucesso foi tanto que gerou uma sequência, essa que estreia nas próximas semanas. Trolls 2 mantém toda a diversão e colorido do primeiro filme, ensina sobre gostos diferentes e anima com inúmeras músicas antigas e modernas, causando uma gostosa mistura entre favoritismo atual e o saudosismo, mas apela para um clichê que se mostra questionável em tempos modernos.
O reino dos Trolls é dividido em vários gêneros musicais, mas tendo como principais apenas cinco deles: Rock, Pop, Sertanejo, Techno e Clássica. Isso não significa que só existem esses gêneros, ao decorrer do filme apresenta outros como K-Pop, Funk, Soul, Reggaeton e até Tirolês/Iodelei, admito ter sentido falta de alguns estilos como Rap, Trap e até algo brasileiro, pensando nos estadunidenses, fatalmente seria o Samba, mas infelizmente não apareceu nada, mesmo assim não significa que não exista na trama, mas acredito ser melhor deixar no imaginário de cada um do que jogar infinitos gêneros musicais em um filme infantil.
A trama têm em sua essência uma guerra muito vista em redes sociais, algo que trabalharam de forma bem sutíl, o preconceito com o tipo de música que alguém gosta é algo frequente, e isso é revidado da mesma forma entre os fandoms, talvez de forma proposital isso é passado no filme, modo que um gênero busca unir o mundo? Ao som de uma música apenas, e o reino Pop não quer que isso aconteça, mesmo que a história já se provou ter acontecido isso, o qual gerou a divisão de reinos, para um filme infantil, o roteiro têm plots e desenvolvimento melhor do que muitos filmes de franquias milionárias. Acredito que isso devia servir de lição para ditas franquias, às vezes um filme consegue ser melhor do que oito ou nove que contam a mesma coisa.
Existem certos estúdios que se mostram soberanos no cinema há anos, mas isso não significa que estarão no topo para sempre. Com todo respeito, mas sejamos sinceros que a DreamWorks têm dado uma aula nos últimos anos do que é fazer uma excelente animação, talvez desde Kung Fu Panda 3 não se via uma hegemonia maior do que a aclamada Pixar, trazendo para o público o terceiro filme de Como Treinar seu Dragão, e apresentando novos títulos como Abominável e Poderoso Chefinho, a DreamWorks se mostrou soberana com folga quando o assunto é animação.
Contudo nem tudo é bom em Trolls 2, por mais que seja um filme infantil, a velha cartilha do “eu amo você” é algo que surpreende em pleno 2020, surpreendente porque ainda existe história em que precisa finalizar com casalzinho, apesar de que o diretor Walt Dohn soube trabalhar bem o roteiro, mesmo deixando a ideia no ar, digo que não foi convincente, pois o amor dito no final aparenta ser algo mais na amizade, pois Poppy (Anna Kendrick) e Branch (Justin Timberlake) encerram num poderoso, brilhante e colorido High Five e não com um beijo, pois então porque no início do filme Branch leva o choque de realidade de Poppy o amar como amigo? Sendo essa uma cena mais pra alívio cômico e de profunda tristeza pela “friendzone” do personagem? Está claro que a ideia era fazer de Poppy e Branch um casal e isso é algo bem decepcionante para um filme que não precisava trabalhar isso, isso porque vários momentos não se vê um casal no filme, não me recordo se existe algum ship por parte do fandom desde o primeiro filme, mas estúdios ficar ouvindo fandom é a prova que os fãs são apenas fãs e não roteiristas, o que é “fanficado” no fandom, permanece no fandom, pois muitas ideias funcionam bem em nossas cabeças e não nas telas do cinema.
Mesmo com esse final controverso e repetido de comédia romântica, Trolls 2 não só é um filme sensacional como firma a DreamWorks como o maior estúdio de animação em 2020. Que esse legado ao qual ela têm construído permaneça durante anos e apresente mais títulos para o público, além de divertido e empolgante, ainda traz lições preciosas sobre empatia ao gosto musical do próximo – e em um conturbado ano, Trolls 2 é o alívio que precisamos para podermos sorrir atualmente.