O cinema mundial parece estar de olho nas histórias de velhos artistas os quais a nova geração sequer sabe a trajetória, e não só desconhecem como não se interessam em documentários ou livros sobre o assunto, surgindo as temíveis cinebiografias, filmes populares sobre a carreira de alguma celebridade, normalmente músicos.
O Brasil não está muito atrás, depois de sucessos que trazem a história de Elis Regina, Cazuza e Gonzaga, chegou a vez de Wilson Simonal ter sua carreira contada nas grandes telas, e de praxe das cinebiografias, podendo dividir opiniões de nova geração com os conhecedores sobre o cantor.
Padrões da Cinebiografia
A trama é aquele padrão que todos que assistiram uma cinebiografia conhece, pode não parecer nenhuma surpresa, mas dessa vez a produção em geral caprichou, começando pela fotografia, que utilizou de material arquivado, filmagens de São Paulo e Rio de Janeiro da década de sessenta e setenta, diferenciando na qualidade de gravação, mas apenas para construir o ambiente o qual se passaria a cena.
Um certo tom novelesco te emociona pela curiosidade de como um dia já foi o Brasil em antigas décadas, casando perfeitamente com a fotografia envelhecida, conseguindo uma imersão muito maior ao assistir e conquista pontos positivos.
O roteiro se mostra em um tom mais moderno, com desenvolvimento mais acelerado, alguns saltos temporais e brincando com momentos marcantes da carreira de Wilson Simonal, destacando discos e matérias de jornal, dificilmente alguém não irá comparar com Bohemian Rhapsody – é praticamente o mesmo filme, porém apresentando um músico nacional – por isso esse filme pode ter achado a fórmula do sucesso das cinebiografias populares, por ser linguagem fácil para nova geração, se tem uma trama mais rasa, se preocupando só na carreira musical e riscando as histórias paralelas que levou Wilson Simonal ao ostracismo, sendo que essas são de extrema importância.
O jogo de diálogos te prendem mas não impressionam, faz desse filme uma grande chance de sucesso nacional, mesmo assim ele baterá de frente com o pensamento pífio do brasileiro de achar que o cinema nacional nunca entregou uma grande obra, ou seja, ele se torna uma incógnita nas telas do cinema.
Quem foi Simonal?
A divisão de opiniões está ligada aos conhecedores do cantor, pois muitas coisas foram omitidas e outras estão apresentadas quase que superficialmente, contudo deve-se destacar um ponto importante, existe uma geração que sequer sabe quem foi Wilson Simonal, o porquê um dia foi apelidado de Rei do Swing e o motivo de seu sumiço.
Essa obra vai funcionar muito mais para o público jovem, até mais que alguém que conhece ou um fã de carteirinha de Simonal, não adianta discutir o que faltou e o que foi errado no filme, sendo que seu padrão está dentro da fórmula de cinebiografias populares; Rocketman e Bohemian Rhapsody são os mais recentes exemplos, pois ambos foram elogiados por aqueles que conheciam pouca coisa de Queen e de Elton John, mas os mais engajados na história não só desgostaram desses filmes como começou a listar tudo o que faltou contar e o que estava no filme, mas Hollywood não se importa, pois os dois foram sucesso de bilheteria e muitos foram apresentados a duas histórias que eles não conheciam, tanto do marcante Elton John quanto o idolatrado Freddie Mercury, mesmo parecendo genérico, a missão foi cumprida.
Atuação Marcante
Mesmo diante ao simples e clichê das cinebiografias nacionais, ele é um ótimo filme, o ator Fabrício Boliveira conseguiu entregar um belo Wilson Simonal, cheio da malandragem e do swing que era do falecido cantor, em muitos momentos ofusca os antagonistas presentes, inclusive Isis Valverde que foi fantástica como Tereza, esposa de Simonal, dois personagens que se pode interpretar de várias maneiras ao decorrer do filme, um Simonal esperançoso, escala para o egocêntrico e finaliza no decadente, isso paralelo a Tereza, a inocente, que se transforma na esposa de fachada e encerra na dopada por remédios, diante a traições e confrontos de egos inflados, o final mostra que ainda existe uma fagulha de amor nesse casal desgastado.
Por falar em final, um momento marcante em uma trama tão rasa foi apresentado no fim do filme, um final “feliz” para uma história tão triste, mesmo que o filme foi um tanto “reservado” quanto ao assunto de delação de Gilberto Gil e Caetano, talvez pelos momentos que vive a política brasileira e seus extremos lados, o terceiro ato conclui de forma maravilhosa porém questionável, pois ela tenta alavancar um roteiro mediano, mesmo assim apresenta a todos quem foi Wilson Simonal, uma das mais belas vozes da MPB, o único que bateu de frente em nível de sucesso com Roberto Carlos e que morreu no ostracismo ao afundar sua carreira por traição à luta dos artistas em plena ditadura militar.
O Rei do Swing
Simonal risca a história do Rei do Swing e balanceia a diversão de um bom filme com informações educativas, trazer a história do passado da MPB para o cinema deveria ser uma obrigação para aqueles que ironizam de nossa cultura, a simplicidade dentro dos padrões modernos é um ponto positivo para levar mais público às salas, mas pode desagradar aos que conhecem a biografia do artista.
Mesmo assim, não fica atrás das grandes cinebiografias nacionais já conhecidas e engrandece ainda mais o cinema brasileiro com histórias esquecidas ao decorrer dos anos.