Com mais de 15 anos de carreira, Yuki Kaji é um dos dubladores japoneses mais famosos no mundo dos animes. Consagrou-se no papel de Eren em Attack on Titan e Meliodas em Nanatsu no Taizai.
Porém, também passou por vários títulos famosos como Ouran Koukou Host Club, Bungou Stray Dogs, Jojo’s Bizarre Adventures, Takagi-san e por aí a lista segue. Nesta conversa com a coletiva de imprensa, Kaji deu detalhes sobre a indústria da dublagem e suas experiências como dublador.
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Nas suas atuações, você costuma gritar muito e acabei conhecendo seu trabalho por causa dos seus gritos. Como sua garganta sobrevive a tantos papéis e gravações que demandam tanto da sua voz?
Bom, eu dou o meu melhor *risos*. É lógico que gritar danifica bastante as cordas vocais, então de tempo em tempo eu me consulto com o médico, pra ver o melhor jeito de me preservar. Fisicamente sim tem suas dificuldades, mas mentalmente, na hora de expressar os personagens dos meus papéis, eu consigo atuar de coração sem maiores problemas.
Qual seria a dica de ouro para entrar no mundo da dublagem?
Uma dica importante é visualizar bem o personagem que você interpretar, compreendê-lo bem. Você tem que compreender o seu personagem mais do que ninguém. É importante pensar não só nele, mas na sua família, irmãos e vários conhecidos, acho importante que o ator tenha essa ambição de ser aquele que mais reflete sobre seu personagem.
Qual gênero de anime é mais difícil para dublar?
É bastante difícil interpretar aquilo que é separado demais de mim mesmo. E lógico, acaba sendo mais fácil interpretar um personagem que é mais parecido comigo, que pensa de um jeito mais parecido que o meu. Daí temos a idade, acho mais fácil interpretar personagens mais novos que eu, porque já tenho a experiência daquela idade. Quando o personagem já é mais velho que eu, como é um mundo que ainda não vivenciei, não tenho outra opção senão imaginar como seria minha vida naquele ponto, o que é difícil.
O Brasil hoje em dia tem mais de 2 milhões de japoneses e seus descendentes no país e eu queria saber do Kaji-san, qual sua impressão de termos tantos japoneses no Brasil?
Sim, eu já sabia disso, dos tantos japoneses que vivem aqui. Minha tradutora comentou comigo e mesmo assim fiquei surpreso com o tanto que vi quando cheguei aqui! E passei a gostar ainda mais daqui quando estive no meet com os fãs mais cedo e vi tanta gente falando bem em japonês e interessada de ir para o Japão.
Como está sendo sua recepção no Brasil?
Muito boa, bem parecida com a recepção do Japão. As pessoas tem sido respeitosas e bem preocupadas se a visita está gostando da estadia, tem sido bom.
Qual processo você teve que passar para se tornar um dublador no Japão?
No Japão tem uma escola técnica para qualificar as pessoas na dublagem, várias na verdade. Lá costumam estudar os alunos do ensino médio voltando da escola, ou pessoas que trabalham em empregos de meio período. Mas hoje em dia também tem dubladores que são atores de filmes, peças ou doramas que escolhem a dublagem durante suas carreiras, ou dubladoras que foram idols um dia, então as origens podem ser muitas. Hoje em dia as possibilidades de se tornar um dublador são bem mais largas.
Gostaria de perguntar como foi a experiência de participar de um tokusatsu e se você já gostava do gênero.
Foi a melhor sensação! Sempre admirei os rangers vermelhos e se juntar num time para proteger a Terra, é um sonho virando realidade. Sempre quis virar um desses heróis da justiça e foi muito bom poder fazer isso graças a dublagem. Bom, no final das contas acabei sendo o ranger amarelo *risos*.
Os dubladores brasileiros vem se mobilizando para regulamentar o uso de inteligencia artifical para que os artistas não acabem prejudicados. Como ele e os demais dubladores no Japão vem lidando com esse cenàrio?
É uma pergunta complexa. Acho que no Japão esse assunto também é inescapável de se pensar. Apesar de não termos ainda “vítimas” dessa tecnologia no meio da atuação, sem dúvidas isso pode acabar virando um problema. Prefiro um meio termo, onde a gente possa conviver com a tecnologia ao invés de combatê-la. Penso num projeto que use essa mesma tecnologia a fim de evitar que nossos trabalhos não caiam na sombra do esquecimento.
Quando você começou a sua carreira como dublador, você esperava que conseguiria ir tão longe a ponto de viajar pelo mundo?
Quando virei um dublador, volta e meia me perguntava se conseguiria transmitir bem as emoções da minha atuação para o público e me dediquei muito para chegar até o nível que eu queria. Não foi fácil, teve muitos momentos difíceis nesse caminho, mas foi justamente essas experiências difíceis ao longo da carreira que me fizeram continuar. É uma alegria e também um espanto poder ir a tantos lugares e conhecer tantas pessoas e sou grato acima de tudo pelas obras e os personagens que me abençoaram com a possibilidade de viver tudo isso.
Agradecemos ao Yuki Kaji pela visita no Anime Friends e ao evento pela iniciativa de aproximar o mundo da dublagem japonesa com o público brasileiro!