Após 4 anos sendo desenvolvido por Paulo Henrique Franqueira, o jogo Tropicalia foi lançado oficialmente no dia 28 de fevereiro. Então, como descrito pelo próprio desenvolvedor, este é um bRPG Soulsvania que tem como cenário o Brasil de séculos atrás. Sendo assim, Tropicalia aborda a cultura e folclore tupi-guarani numa experiência digna dos clássicos RPG’s da era 16 bits.

O jogo desenvolvido no RPG Maker é uma obra claramente inspirada em jogos do gênero já estabelecidos e que pavimentaram toda uma estrada para o que temos hoje. Portanto, é possível encontrar semelhanças com os clássicos de Dragon Quest, Final Fantasy e Pokémon. Mas, é claro, tudo misturado num cenário pouco explorado especialmente no mercado de games.

Começando do começo

Como dito, Tropicalia é um RPG que se passa em território Sul-Americano, especialmente no Brasil, antes da colonização portuguesa. Nesse contexto, ele conta a história de Kaique, um pequeno guerreiro Guarani, que tem sua namorada sequestrada pela deidade Tau, algo que por si só é baseado em lendas do folclore Guarani. Então, após um tempo recluso, controlamos o jovem em sua aventura em busca do resgate de sua namorada.

Sobre o enredo, ainda que baseado no folclore, ele é pouco explorado. Sendo assim, temos informações sobre o quê e o porquê das coisas com breves linhas de diálogos com NPC’s conforme avançamos.

Como o próprio desenvolvedor denomina, Tropicalia é um RPG focado em gameplay. Portanto, era de se esperar que o enredo fosse algo mais básico e apresentado de maneira simplista, sem uma narrativa ultra elaborada ou milhares de linhas de diálogos.

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Por conta dessa proposta mais direta e um enredo mais enxuto, vez ou outra carecemos de detalhes que seriam interessantes para a trama. Por exemplo, sobre o próprio Kaique, sua namorada, as entidades no jogo e por aí a fora. O enredo direto e mais simplista por si só não é nenhum ponto negativo, pois cumpre bem seu papel. Entretanto, alguns pontos a respeito disso poderiam ser mais valorizados.

Se gameplay é o foco…

Agora falemos de gameplay. O jogo começa com um breve período de introdução, em que você aprende certos comandos, como caminhar e escalar certos paredões. Enfim, é basicamente isso, pois logo depois a trama já começa e você é solto no mundo do jogo.

Aqui basicamente ele lembra bastante o funcionamento da franquia Pokémon, na qual você tem pouco direcionamento de onde deve ir e o que fazer. De qualquer forma, o que facilita esse processo é o fato dos ambientes serem bem pouco poluídos visualmente, deixando bem claro para o jogador quais são as opções de caminho. Portanto, mesmo estando numa floresta repleta de árvores onde tudo é aparentemente igual, dificilmente você ficará perdido ou em dúvida se já passou anteriormente por aquele lugar ou não.

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As semelhanças com Pokémon não acabam ai, pois quando falamos de combate as coisas funcionam de maneira bem parecida. Afinal, quando caminhamos pela grama alta nos cenários temos o risco de encontrar algum inimigo. Como um bom RPG da era 16 bits, os combates são aleatórios e por turno que funcionam de forma relativamente simples, pois podemos atacar, defender, usar itens ou fugir.

O jogo se intitula como um Soulsvania jRPG, onde a parte do “jRPG” seria na narrativa, enquanto elementos de Castlevania e Dark Souls seriam obviamente aplicados a gameplay. De fato, vemos elementos de Metroidvanias clássicos, com áreas do mapa se intercalando entre si.

No entanto, de Dark Souls vemos bem pouco e, na verdade, diria que teria somente a opção de buscar nossas almas onde fomos derrotados. Mesmo assim, elas não ficam exatamente onde morremos e pelos combates serem aleatórios e termos de andar pelas graminhas sem poder traçar um caminho de fato seguro, anula um pouco isso.

Combate

O combate é sem dúvidas o ponto de foco desse jogo, mesmo que combates por turnos tendem a ser mais monótonos do que combates de ação. Porém, geralmente requerem mais estratégia.

De qualquer forma, há uma ótima saída para aumentar o dinamismo dos combates. Por exemplo, ao atacar um inimigo aparece para o jogador um medidor, que se apertado no momento certo gera dano adicional ao ataque. Muitas vezes isso permite ao jogador acabar mais rapidamente com os inimigos.

E por falar em inimigos, se em RPG’s clássicos enfrentávamos goblins e slimes, aqui enfrentamos animais típicos do Brasil, como antas, capivaras e por aí vai. O mais interessante é que a cada inimigo descoberto você fica com mais e mais vontade de descobrir o próximo. Afinal, a pixel art de cada um deles é maravilhosa e muito bem polida, assim como o cenário de fundo e até o próprio Kaique, que agora pode ser visto em detalhes.

Ah, é claro que criaturas clássicas do folclore brasileiro estariam presentes: Curupiras, caiporas e boitatas são alguns dos inimigos nesse jogo, fazendo companhia a lobos guará  e claro, as temidas onças pintadas.

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Ainda falando sobre gameplay, vale dizer que ao longo do jogos vamos conquistando armas como tacapes, lanças e arcos e flechas para enfrentarmos nossos oponentes e consequentemente causar mais danos a eles. O ponto, é que com o tempo essas armas se desgastam até quebrarem no meio de uma batalha. Com isso, você ficará dependente apenas de seus punhos caso não tenha nenhuma outra opção em seu inventários.

Mas nem tudo são lágrimas, pois como era de se esperar, você pode fabricar seus itens a partir de recursos coletados pelo cenário e após terminar as batalhas. O único problema disso é que o jogo não te avisa claramente se uma arma está em mal estado e prestes a quebrar. Isso prejudica o jogador mas do que deveria em alguns momentos.

Grind? Mas é claro…

Para os mais familiarizados com RPG’s, especialmente os clássicos dos 16 bits já citados como inspiração para Tropicalia, o ato de “grindar” já é conhecido. Então, ele consiste basicamente em ficar enfrentando inimigos sem avançar no jogo, para ganhar níveis e assim finalmente avançar para o próximo estágio.

É uma forma que os desenvolvedores encontraram no passado para prolongar a gameplay de seus jogos e também trazer mais dificuldade ao jogador. Afinal, não há graça nenhuma caso todo inimigo seja absolutamente fácil e derrotado com apenas um golpe.

Em Tropicalia, você TERÁ que fazer muito grind. É muito comum você enfrentar inimigos de determinado nível numa área e, quando avança para a próxima, os inimigos ali são simplesmente três vezes mais fortes do que o que você estava esperando. Portanto, é nesse momento que você deve recorrer a área anterior para “farmar” mais níveis e aumentar seus atributos.

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Como dito, isso é um recurso muito comum em RPG’s, especialmente de combates por turnos. Porém, o grande ônus disso tudo é que às vezes você pode se entediar com isso.

A graça de combates assim é montar estratégias para vencer o inimigo que apresente algum desafio. Contudo, quando você está enfrentando aleatoriamente inimigos que não apresentam dificuldade alguma simplesmente pela conquista do XP, enquanto os inimigos adiante são invencíveis naquele momento, é bem fácil se sentir entediado e acabar dando um “tempo” até retornar para o jogo.

E aí, vale a pena esse bRPG?

A resposta é: depende. O jogo não é ruim, de forma alguma. Porém, é bom salientar que não é para todos os tipos de jogadores. Os mais amantes de RPG’s clássicos e até dos mais modernos jRPGs vão se sentir abraçados e encantados. Afinal, esse jogo é uma verdadeira ode a jogos antigos e ainda possui o bônus de ser um cenário praticamente inédito nos games.

Já jogadores mais casuais, que possuem pouca ou nenhuma experiência com jogos desse tipo, podem encontrar certa dificuldade em jogatinas mais longas e ficarem entediados com o tempo. De qualquer forma, ainda poderão encontrar bastante diversão no jogo. Mas aqueles que não gostam desses clássicos supracitados, devem definitivamente passar longe por tudo que ele oferece.

Tropicalia tem uma trilha sonora bem legal de escutar, com gráficos bem bonitos e limpos visualmente. Também, sem dever nada às grandes franquias do passado, quando se propõe a trazer artes mais trabalhadas, o faz com maestria. Os defeitos ficam por conta de um certo desbalanceamento em certas áreas e principalmente pela história vaga. O que, infelizmente, acaba fazendo com que não tenhamos empatia pelos personagens.

Sendo autoproclamado como o primeiro dos bRPGs, Tropícalia cumpre bem o seu papel e, mesmo sendo uma carta de amor aos clássicos, possui identidade própria e cria seu próprio estilo. Além disso, aborda de ótima maneira um cenário menos ainda explorado e apresentando a jogadores como o folclore brasileiro é rico.