Aproveitemos essa estreia das viagens de Elaina em Majo no Tabitabi para fazer uma recomendação. Se você está gostando desse clima de histórias episódicas, onde cada episódio é um caso diferente, se você ama literatura de coração e sente o poder que ela transmite, Bibliotheca Mystica de Dantalian (The Mystic Archives of Dantalian ou Dantalian no Shoka) é pra você.
AS PALAVRAS TEM PODER
Assim diz o ditado popular. E Dantalian segue essa premissa à risca. O anime conta os casos do Lord Hugh Antony Disward, ou Huey, simplesmente. Ele acabara de herdar uma biblioteca monumental de seu excêntrico avô, Sir Wesley Disward, conhecido por ser um ávido colecionador de livros raros. Coisa comum da época em que o anime é ambientado.
Apesar das pilhas montanhescas de livros velhos e empoeirados, a chave em posse de Huey é para algo no âmago dessa biblioteca comum, onde reside de fato a Biblioteca a ser herdada. Após se deparar com um rival de seu avô, responsável pela sua morte, Huey descobre a existência de tomos que invocam o sobrenatural, os chamados Phantom Book. Acompanhado de uma garota vestida feito uma boneca, Dalian, ela se revela como a portadora da Biblioteca Mystica de Dantalian, onde o seu escolhido a acessa pela chave em sua posse.
Contra esses Phantom Books, outros livros são invocados e seus poderes recitados. É assim que Huey e Dalian se juntam em dupla para sair à procura dos outros Phantom Books, causa de todas as situações anormais no anime. Nesse caso, as palavras literalmente tem poder, os versos entoados dos tomos da Bilioteca que mora na Dalian são a maior fonte de poder no anime.
UMA ADAPTAÇÃO EM ABERTO
Baseada na novel de Gakuto Mikumo (Asura Cryin’, Strike the Blood), Dantalian tem uma estrutura episódica que permite ao expectador aproveitar o anime pelas várias histórias em separado que ela conta. E elas não são ruins. Algumas contem até alguma dose de sabedoria, como a do Phantom Book nas mãos das crianças que se tornam geniais. Ou a dos amantes que ficam presos num círculo de morte. Volta e meia aparece alguma referência literária, principalmente dos clássicos do mistério como Agatha Christie e o Padre Brown de Chesterton, mas Dantalian também inventa sua própria mitologia, pegando emprestado de mitos reais, ora modificando-o, ora criando algo do zero a partir daquilo.
Apesar da excelente ambientação do anime, principalmente para os fãs da estética vitoriana, não é possível não lamentar o meio caminho andado do desenvolvimento dos personagens. Segundo o database do MyAnimeList, o anime de Dantalian estreou em julho de 2011, apenas cinco meses após a publicação do último volume da novel, em fevereiro do mesmo ano. Como é de se esperar que a produção de um anime toma tempo, fica nítido que o anime foi produzido como uma adaptação de uma obra ainda inacabada à época, o que se reflete na meia aparição e na meia apresentação de personagens que você sabe que compõe aquele universo que conecta todas as histórias que assistimos.
Sabemos que há um mundo ali, uma história sobre tomos mágicos e uma entidade mística da Biblioteca que está na vida de Huey desde pequeno e que volta na vida dele depois de adulto. Esse reencontro é, afinal, a conclusão do anime. Mas essas apresentações soam como petiscos, mostras de referências para aqueles leitores da novel que esperavam por ver sua história animada o máximo possível. Para o caso de Dantalian, no entanto, o mínimo teria saído melhor diante das circunstâncias. No que diz respeito a adaptações, entregar um pouco que seja fechado é de bem mais valia do que tentar entregar muita coisa dispersa.
CONCLUSÃO
Apesar de inconclusivo, Dantalian apresenta uma história bastante atraente. Não é incomum ver por aí um desejo de um remake dito internet afora e quase uma década passada da estreia do anime, com a novel concluída, isso seria bem merecido. Dalian é uma personagem bastante carismática e é surpreendente ver uma Miyuki Sawashiro, conhecida pela sua voz ríspida que dá vida a personagens igualmente ríspidas (como a Jolyne de Jojo e Mordred de Fate), dando voz a uma elegante boneca. Ela fica mais reconhecível aos nossos ouvidos ao recitar seus versos para Huey quando este precisa acessar a Biblioteca Mística de Dantalian.
No geral, a nota média no MyAnimeList de 7 se justifica. Ele é bom, tem falhas visíveis, mas está longe de ser um desastre, bem pelo contrário. Digno de nota é a sua abertura arrebatadora, “Cras Numquam Scire” (“O Amanhã Jamais Sabe” em latim), uma “Lilium” da década de 2010. Será que a década de 2020 também terá sua abertura de anime em latim?
De espírito consonante ao que se julga afora, Dantalian vale sim três suquinhos, mais meio copo pra não deixar saudade.