Em um mercado repleto de souls-likes, The First Berserker: Khazan consegue se destacar com uma proposta que mistura a fórmula já conhecida do gênero com elementos próprios e uma estética única.
Desenvolvido pela Neople (criadores de Dungeon Fighter Online) e publicado pela Nexon, este título ambientado no universo de DNF traz Khazan, um ex-general traído que busca vingança enquanto luta contra demônios internos – literalmente.
Após mais de 30 horas explorando este mundo sombrio e enfrentando seus desafios brutais, posso afirmar que este é um dos melhores souls-likes recentes – junto de Lies of P, mesmo com algumas limitações.
O Que é The First Berserker: Khazan?
Lançado em 27 de março de 2025 para PC, PlayStation 5 e Xbox Series S/X, The First Berserker: Khazan se passa no universo de Dungeon Fighter Online (DNF), mas não se preocupe – não é necessário conhecimento prévio para compreender a trama. O jogo se passa no 89º ano do Império Pell Los, em um mundo assolado por guerras contra dragões e mortos-vivos.
Você assume o papel de Khazan, um general de elite que foi acusado de traição e exilado. Agora, possuído pelo Espectro da Lâmina – uma entidade demoníaca com agenda própria – ele busca vingança contra o imperador que o traiu.

Jogabilidade: Combate Visceral e Recompensador
O sistema de combate é, sem dúvida, o coração pulsante de The First Berserker: Khazan. Aqui encontramos uma mistura interessante de mecânicas souls-like tradicionais com elementos que lembram jogos de ação estilosa como Devil May Cry e os God of War recentes:
- Sistema de estamina exige gerenciamento cuidadoso da barra de fôlego;
- Lâminas espectrais funcionam como as fogueiras dos jogos Souls, salvando o progresso e reanimando inimigos;
- Lacrima (a moeda do jogo) pode ser perdida ao morrer, mas é recuperável, assim como as almas nos souls;
- Três tipos de armas (espadão, empunhadura dupla e lança) com árvores de habilidades distintas;
- Sistema de parry e esquiva com mecânicas bem definidas – e algumas até desafiadoras;
- Golpes especiais que consomem a barra de Espírito de Luta.
O combate é brutal, responsivo e visceral. Os golpes têm peso, os inimigos reagem de forma convincente aos ataques, e há uma satisfação imensa em dominar o ritmo das batalhas. A mecânica de esgotamento da energia do inimigo adiciona uma camada tática interessante, permitindo golpes críticos devastadores em momentos oportunos.
Um diferencial interessante é a possibilidade de arremessar uma arma espiritual para causar dano crítico em pontos fracos dos inimigos, adicionando mais uma camada estratégica aos combates – mas exige velocidade e habilidade nos dedos.
Progressão e Personalização
A progressão em Khazan é multifacetada e satisfatória:
- Sistema de atributos (vitalidade, resiliência, força, determinação, proficiência) aprimorados com Lacrima;
- Árvores de habilidades específicas para cada arma, além de uma árvore geral;
- Possibilidade de resetar habilidades a qualquer momento, incentivando experimentação;
- Sistema de loot com equipamentos de diferentes raridades e bônus de conjunto, próximo do que vemos em jogos como Diablo.
Um aspecto particularmente elogiável é a flexibilidade do sistema de habilidades, que permite ao jogador redefinir sua build a qualquer momento sem penalidades. Isso incentiva a experimentação e permite adaptar-se facilmente a diferentes desafios.

Estrutura de Mundo e Missões
Diferentemente de Dark Souls, com seu mundo interconectado, Khazan adota uma estrutura baseada em missões acessíveis através de um hub central chamado “A Fenda”. Esta abordagem, reminiscente da série Nioh, tem prós e contras:
Pontos positivos:
- Áreas mais focadas e meticulosamente desenhadas;
- Progressão mais direta e menos confusa;
- Facilidade para revisitar áreas específicas.
Pontos negativos:
- Sensação de mundo menos orgânico;
- Perda do aspecto de exploração interconectada;
- Algumas missões secundárias reaproveitam mapas da campanha principal.
Cada área possui sua própria identidade visual e desafios únicos, com segredos e atalhos que recompensam a exploração cuidadosa. O design de níveis é competente, ainda que não revolucionário. O estilo mais “arcade” pode agradar e desagradar, mas é um modelo honesto e dinâmico para quem busca mais ação do que exploração.

Chefes: O Grande Destaque
Se há um aspecto em que The First Berserker: Khazan realmente brilha, é no design de seus chefes. Estes encontros são memoráveis, desafiadores e visualmente impressionantes. Cada chefe possui:
- Design visual distintivo que combina estética anime com horror sobrenatural;
- Mecânicas únicas que exigem aprendizado e adaptação;
- Múltiplas fases que mantêm o jogador alerta;
- Padrões de ataque variados que requerem diferentes abordagens.
Prepare-se para morrer muitas vezes antes de dominar cada um desses encontros épicos. Alguns jogadores podem achar frustrante a quantidade de vida de certos chefes, transformando algumas batalhas em maratonas de resistência, mas a satisfação de derrotá-los é proporcional ao desafio.
Em muitos momentos, mais que em qualquer souls/sekiro da vida, senti propenso a colocar na dificuldade mais fácil. Mas, como um bom soulsliker, a perseverança falou mais alto e fui até o fim. O problema é a escala de dificuldade, que não importa o momento em que você está no jogo, o próximo chefe pode ser fácil ou muito difícil, independente da fase.
Dica: caso fique preso em algum chefe, farme e upe bem seu Espírito Auxiliar, pois enquanto ele tanca os golpes do inimigo, você ganha um tempo para sua estamina se recuperar.

Visual e Atmosfera
O estilo visual de Khazan merece destaque por sua identidade própria. A combinação de estética anime com uma atmosfera sombria e sobrenatural cria um mundo com personalidade própria:
- Cel-shading que dá um aspecto único aos personagens e inimigos;
- Ambientes detalhados com uma paleta de cores que reforça a atmosfera opressiva;
- Efeitos visuais impressionantes durante combos e habilidades especiais;
- Cutscenes em diferentes estilos (incluindo sequências estilizadas em “tinta sob tela”).
A direção de arte consegue criar cenários memoráveis, embora ocasionalmente haja repetição visual em algumas áreas. A predominância do vermelho em certas seções pode tornar a experiência visualmente cansativa após longas sessões.
Narrativa e Personagens
A história de Khazan não reinventa a roda, seguindo uma trama de vingança clássica, mas é contada de forma competente:
- Protagonista com motivações claras e um conflito interno literal (com o Espectro da Lâmina);
- Narrativa entregue através de cutscenes e diálogos opcionais com NPCs;
- Lore interessante que expande o universo de DNF;
- Cinematografia razoável que realça momentos-chave.
A dinâmica entre Khazan e o Espectro da Lâmina, com motivações opostas (conexão humana versus desdém pela humanidade), adiciona uma camada interessante à narrativa, embora alguns personagens secundários sejam pouco desenvolvidos.

Dificuldade e Acessibilidade
Como esperado de um soulslike, The First Berserker: Khazan é um jogo desafiador, mas faz concessões interessantes à acessibilidade:
- Seletor de dificuldade com opções “fácil” e “normal”;
- Sistema de morte menos punitivo que outros jogos como Sekiro (apenas Lacrima é perdido, não todo o progresso);
- Explicações básicas sobre mecânicas principais;
- Recuperação de vida relativamente rápida em comparação com outros soulslikes.
No que andei pesquisando, mesmo no modo fácil, o jogo permanece bastante desafiador, e alguns elementos cruciais do gameplay não são bem explicados. Jogadores menos experientes no gênero ainda encontrarão uma curva de dificuldade íngreme.
Aspectos Técnicos
Em termos técnicos, The First Berserker: Khazan se sai bem:
- Performance estável na maioria das situações, mesmo em PCs mais simples. Com minha RTX 4060, é fácil se manter acima dos 120 quadros por segundo com o gerador de quadros;
- Carregamentos rápidos (especialmente importante após mortes frequentes);
- Áudio disponível em inglês, japonês e chinês, com legendas em português brasileiro.
Ocasionalmente, alguns bugs gráficos como texturas desaparecendo e pequenas quedas de frame foram observados, mas nada que comprometa seriamente a experiência.

Conteúdo e Longevidade
O jogo oferece uma campanha principal de aproximadamente 35-50 horas, dependendo da sua habilidade e nível de exploração. Além disso:
- Missões secundárias que, apesar de por vezes reaproveitarem mapas, adicionam contexto ao mundo e à lore dos NPCs;
- Colecionáveis como jarros e cristais espalhados pelos níveis, que achei bem difícil de conseguir e é focado nos exploradores mais hardcore;
- New Game Plus para quem deseja revisitar a experiência com seu personagem evoluído ou testar outro tipo de arma. É difícil pegar o jeito numa arma e depois trocar e reaprender tudo de novo. Confesso e indico para que faça a primeira run do jogo com apenas um tipo de arma.
Um Soulslike que Vale a Pena
The First Berserker: Khazan consegue o feito notável de se destacar em um gênero superlotado. Ao mesclar fórmulas consagradas com toques de originalidade e uma identidade visual marcante, o jogo entrega uma experiência viciante e recompensadora. O combate refinado, os chefes memoráveis e os sistemas de progressão bem implementados compensam largamente suas pequenas falhas.
Para fãs de jogos desafiadores, esta é uma adição essencial à biblioteca. Para novatos no gênero soulslike, pode ser uma porta de entrada menos punitiva que o habitual, embora ainda bastante desafiadora. Se você aprecia combates desafiadores, progressão satisfatória e uma estética única, não pense duas vezes: The First Berserker: Khazan merece seu tempo e dedicação.
Esta análise foi baseada na versão do jogo para PC concedida pela publisher.