Mesa Redonda
Junto com o painel de Yuu Kamiya e Mashiro Hiiragi, o último dia do Ressaca Friends (Domingo, 21) foi marcado pelo encontro das quatro maiores editoras do Brasil, até o momento: Panini, JBC, Nova Sampa e NewPOP. Sem nenhuma mediação, o encontro foi um bate-papo – ou desabafo :X – com os representantes e gerentes de conteúdo de cada uma delas:
Infelizmente, a grade de programação estava um pouco atrasada e o painel pareceu um pouco corrido, com poucas perguntas do público. Para salientar um pouco mais o ponto de vista como espectador, o texto a seguir está com uma “pegada” mais reflexiva. Então vamos lá…
Shoujo não vende?
“Quem aí compra shoujo?”
“Um shoujo top não vende nem metade de um shounen top”
Começando com alfinetadas no próprio mercado consumidor, o primeiro tema debatido foi quanto a vendagem dos mangás shoujo por aqui. Claro, que isso não se aplica apenas ao nosso cenário, visto que no Japão o maior mercado é com o shounen. Mas o que os editores quiseram passar, é que o mercado shoujo daqui não é nem sombra da força de um shounen o que talvez não dê força para uma tiragem mínima necessária para tal lançamento.
Provavelmente isso vem de todo nosso histórico “manchete” da vida com Cavaleiros do Zodíaco e depois com Dragon Ball e Naruto. Talvez leva-se um tempo para que a fatia de shoujo esteja num patamar estável para a vinda de mais e mais títulos. #BELLAN ainda sonha com Oh My Goddess!
O lado ‘Editora’
Em diversos momentos da mesa redonda, os editores explicaram um pouquinho de como é o processo de lançar um mangá por aqui. Além das diversas atribuições técnicas que as editoras japonesas dão, elas querem vender bem por aqui. Não adiantar lançar um Naruto da vida com uma tiragem de 1000 exemplares, a editora nipônica não vai aceitar tal tipo de contrato. Isso explica do porquê grandes títulos – em número de volumes também – não saírem aqui, já que o piso/média de venda é muito baixo.
E quanto a mais lançamentos de light-novel?
Junior Fonseca da NewPOP foi enfático: Não pretender trazer mais títulos deste segmento tão cedo, pois não vende.
E aqui vamos com o lado da educação do consumidor. A média de leitura do brasileiro é baixíssima. Isso é fato, o povo tupiniquim lê muito pouco e se ele tiver que escolher entre a novel ou o mangá, a maioria vai pegar o mangá; E não quer dizer que em outros países como Japão, EUA ou França vão optar pela novel. Não! Eles vão comprar a novel E O MANGÁ! Quanto mais conteúdo, melhor! 😀
Se nos anos 90 víamos meia dúzia de títulos nas bancas e livrarias e hoje vemos dezenas e com lançamentos quase que todo mês, isso não quer dizer que o mercado nacional de mangás está bacana?
Talvez a melhor palavra seria “fluindo” e fluindo como um riacho calmo do sítio da vovó. Tá certo que o Brasil solidificou um mercado, temos uma base, porém há muito o que melhorar ainda. Outros tipos de planos de assinatura? Melhorar a rede de distribuição – e isso não só depende das editoras – são algumas das possibilidades.
*Para entender um pouquinho de todo processo burocrático, tem uma série Henshin Online com Sailor Moon, AQUI.
O lado ‘Consumidor’
São eles que ditam o ritmo do mercado de mangás e são os maiores responsáveis pelos lançamentos. Se pedirmos Tokyo Ghoul, vão lançar? Depende.
Diversos títulos saíram da mobilização nas redes sociais – como nas páginas das editoras no Facebook – e isso serve como uma espécie de pesquisa de mercado. É claro que se Tokyo Ghoul sair por aqui vai vender. Ele está na moda. Mas aí a “editora se pergunta: essa moda vai até quando”? Talvez até a aquisição dos direitos, tradução e chegada nas bancas a tal febre “ghoul” já passou e não venderá o quanto venderia agora (2014/2015). Mas ok, estamos trabalhando com suposições.
Como já dito acima, a conta é fácil: Quanto mais comprarmos, mais títulos teremos. E aí entra mais uma questão, a qualidade. Será que o que pagamos volta como qualidade? Tá certo que cada um prefere um papel diferente, outros querem ver mais títulos em kanzenban (de luxo) e outros nem ligam se é uma versão pocket e com papel de jornal. Só querem o conteúdo! Este é um dos trabalhos que a editora deve fazer antes de lançar um título, levando qualidade num preço justo ao seu público e por outro lado, um produto que atenda as normas da editoração japonesa e consequentemente, conseguir o lucro desejado.
O lado ‘Falso Fanboy’
Este é o cara que agita pedindo um título nas redes sociais e não compra nenhum! A Panini anunciou Ao Haru Hide porquê acredita em seu público, sendo ele um fanboy da série ou não. E se não vender? Este é o tiro no escuro que a editora está dando. Mas como dito, ela acredita no consumidor tupiniquim. Se por um lado pedimos produtos com maior qualidade, nada mais justo que fortalecer esta cena, seja em redes sociais ou eventos.
Uma dica pra toda comunidade é: Quando pedir ou agitar alguma coisa, esteja consciente do que está fazendo. Não faça por impulso! Isso ajuda você, a editora e as engrenagens de nosso cenário.
E com a união de seus poderes…
Quanto a brincadeirinha do título ‘Super Smash Brothers’ e que ainda não foi comentado no texto é das alfinetadas entre os editores na mesa redonda do evento. Ao contrário do que todos pensam onde uma editora quer “comer” a outra, não é bem por aí, a rivalidade e concorrência sempre vai existir.
“O erro de uma, fará o acerto da minha”
Este é um dos pontos onde podemos pegar um exemplo onde X editora rival falhou com o lançamento de certo título por aqui. Editora Y vai analisar o case do “porquê não deu certo?” “porquê não vendeu?” “porquê a editora japonesa escolheu ela e não minha editora”. E com o acerto de uns e erros de outros, o crescimento vem à tona.
O ponto que este tópico quer chegar é de que as quatro maiores editoras se uniram para discutir o cenário. Isso é bem bacana! Imagina só a Globo, SBT, Record e Band numa mesa de bar trocando ideia e discutindo em como melhorar a TV Brasileira? Seria bom para todos!
E se as relações entre Editora e Público ficassem mais estreitas? Isso não se resume apenas a redes sociais (Facebook) não. Eventos de lançamentos são sempre bem vindos – onde podemos citar o YuYuHakushow ou o próprio hype de lançamento de No Game No Life – fazendo com que o consumidor tenha um apego ainda maior com a obra, criando fidelidade e aumentando sua chance de comprar todos os volumes lançados de sua série preferida.
Finalizando
O cenário não está de todo ruim. Ao contrário da meia-dúzia de mangás que eu via na banca 15 anos atrás, hoje está bem diferente e fico contente com isso. Será que teremos algo como um “Comiket Experience” nos próximos anos? Já que a quantidade de eventos nerds está cada vez maior.
Isso será possível se esta base que construímos com estes diversos títulos derem espaço para a construção de pilares. Além dos volumes físicos, poderíamos ter um e-Manga também? Então se esta comunicação entre editora e público se estreitar ainda mais, onde um pode conhecer mais o outro, poderemos ter uma nova fase da editoração de mangás aqui no país.