Showa and Genroku Era Lover’s Suicide Through Rakugo
Studio Deen
Drama
Janeiro – Abril, 2016
13 Episódios
“Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu“, ou suicídio duplo de amantes do período Shouwa Genroku, foi certamente a maior montanha russa de emoções, lágrimas, drama e ensinamentos da temporada passada de anime. Se você não viu, perdeu. Mas não se desespere ainda: vai ter uma segunda temporada, então ainda dá para maratonar a primeira!
Desde o começo tivemos inúmeras questões na cabeça sobre esse anime, ao olharmos para o título. Quem são esses amantes? Quando veio o segundo episódio, que começou um enorme flashback: Quanto tempo durará esse flashback? Para nós que não tivemos acesso ao mangá, tudo foi muito confuso desde o começo. E logo descobrimos, ao menos, as respostas para essas perguntas: essa primeira temporada não tratou da história que vemos no primeiro e no último episódios, com os simpáticos personagens Konatsu e Yotaro, mas sim da história do passado daqueles personagens e também a história da arte do rakugo, tema de que trata a história; história das turbulências em meio às quais nasceu Konatsu, e trata também de como as pessoas são tolas.
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Vinganças, amores e suicídio duplo.
Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu é chamado de Rakugo Shinjuu pelo seu fandom, e não é a toa que essas duas são as partes mais importantes do título: “Rakugo Shinjuu” significa literalmente um suicídio duplo que tem a ver com a arte do rakugo, e a história dessa primeira temporada é exatamente a história de dois artistas no mundo do rakugo que acabam se envolvendo em um “suicídio duplo”. A nós, espectadores, cabe investigar as circunstâncias em que ocorreram o suicídio duplo ao longo dos doze episódios que nos levam até ele.
Então, Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu trata assumidamente de pessoas que se levam a uma espécie de “suicídio duplo”. É metafórico ou não? A versão de Konatsu – de que foi um assassinato, na realidade – é verdadeira? O que temia no começo era que isso tivesse a ver com um triângulo amoroso, e infelizmente isso também é verdade: tem a ver com um triângulo amoroso, e uma mulher como pivô de todas as confusões. Clichê, problemático? Sim, mas isso não significa que Rakugo Shinjuu também não tenha um lado forte de crítica ao papel da mulher, ao machismo na sociedade japonesa daquela época, e, enfim, não se permite ser apenas um clichê em momento nenhum.
Antes de ser uma historinha de romance, Rakugo Shinjuu é uma profunda análise sociológica (a que eu chamo de “Evangelion dos josei”, brincando com o fato de que quatro pessoas do elenco de dubladores participaram também de Evangelion!). Os personagens são intensos e complexos, além de muito sofridos, e as análises sobre a sociedade estão jogadas em todos os lugares, seja sutilmente – como no caso das partes que discutem machismo, tal como as possibilidades de sobrevivência que a vida deu à prostituta Miyokichi – ou não – como no caso das análises de como o rakugo teve um declínio por conta da ocidentalização do Japão, dos “tempos difíceis” prenunciados por Kikuhiko, e assim por diante. Não deixa de ser um josei sobre arte e romances, mas também nem por isso deixa de ser denso, reflexivo e certamente merecedor de todos os prêmios que recebeu.
E o que é, afinal, “rakugo”?
A história trata inicialmente sobre dois artistas: Kikuhiko, com voz do maravilhoso do Akira Ishida (Kaworu de Evangelion, Gaara de Naruto, Fish Eye de Sailor Moon) e Sukeroku, cuja voz foi concedida por Kouichi Yamadera (Kaji de Evangelion. Togusa de Ghost in the Shell, Kotarou de Gintama, Kouichi de Lupin III). Ou seja, dois dubladores experientes, capazes de reproduzirem o mais fidedignamente possível as emoções expressadas na arte do rakugo; uma arte de interpretação corporal japonesa muito peculiar, aliás, que certamente interessou muitas pessoas apesar de ser “velha e antiquada” para muitos jovens de hoje. Foi chamada por aí de uma “sit-down comedy”, em oposição à stand-up comedy, e não é para menos: é porque, assim como essa, trata-se de histórias de comédia contadas por uma pessoa só para uma platéia, mas o formato é muito mais oriental, claro, e a comédia igualmente.
O fato é que o rakugo que é apresentado no anime é exatamente como o tradicional, sem invenções shounenzescas, mas em alguns momentos são usados efeitos visuais, jogos de luz e cores, imagens de planos de fundo diferentes, e outros recursos para demonstrar as emoções do personagem, por exemplo, que fazem a arte parecer tão bonita quanto a original; ainda que a animação não seja sempre tão minuciosa quanto os movimentos de um ator real, esses efeitos da animação são utilizados para compensar a falta de detalhes. Assim, bem como séries como Chihayafuru [resenha] ou Yamishibai [resenha], Rakugo Shinjuu foi uma série que conseguiu trazer para a animação japonesa uma prática japonesa tradicional e “antiquada”, e fazê-la parecer extremamente interessante e divertida.
O que podemos aprender com Rakugo Shinjuu?
Sendo uma série histórica, pudemos ainda aprender sobre uma variedade de outros temas: wafuku, ou vestimentas tradicionais, tradições em velórios, a modernização e a ocidentalização da sociedade japonesa, guerra (apesar de a série ter um foco bem pequeno, na realidade, apesar de se passar entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundiais!) e assim por diante. Sendo assim, Rakugo Shinjuu é, antes de mais nada, uma série cheia de ensinamentos culturais, e mais ainda para o público não-japonês. (Dica de mangá para as editoras trazerem para cá!) Depois, Rakugo Shinjuu é uma série que tem revivido a arte do rakugo. Eu confesso que me encantei por ela, e como eu, muitos espectadores.
Rakugo Shinjuu é emotivo, sim. Quem não chorou em algumas cenas, como os órfãos do episódio 2, o episódio da grande decisão de Kikuhiko, o rakugo do shinigami de Kikuhiko, as cenas do episódio 11 – leia-se: a calmaria antes da tempestade – ou o desfecho triste da história dos três, que atire a primeira pedra. De fato, quase todos os episódios, acredito, teve algo de sentimental ou triste demais, algo de melancólico, algo de novela mexicana. Mas isso não significa que não tenham tido reflexões no meio. A todo momento o anime nos convida a refletir sobre os motivos dos personagens, e não raro somos tão cegos quanto os próprios; quem esperava, por exemplo, aquela revelação do Sukeroku sobre ter inveja de Kikuhiko? Ou que o mestre já soubesse de tudo quanto ao nome Sukeroku? Algumas mensagens são óbvias e diretas – como “a natureza humana é tola” – mas outras servem realmente como tapas na cara muito práticos pro espectador. Quer dizer, você não percebeu isso, mas estava sempre ali. Quanta coisa é assim na vida, não é? E não é esse o maior erro de Kikuhiko? Não devíamos repensar tudo isso?
Em síntese…
Enfim, Rakugo Shinjuu é uma série reflexiva. É daquelas séries que lembram que josei pode, sim, ser extremamente reflexivo sobre a natureza humana. Para quem não conhece bem a demografia josei, são os mangás feitos para o público feminino adulto; ou seja, tendem a ser “shoujos maduros”, mais sentimentais e com maior complexidade de emoções. No entanto, muitas das adaptações para anime de josei em anos recentes tem sido adaptações de séries com personagens mais jovens, como é o caso das próprias Chihayafuru ou Sakamichi no Apollon. Por isso, sinto que muitas pessoas que não são da minha geração – de séries que vão desde ParaKiss, passando por Antique Bakery, até Honey & Clover – tem uma relação com josei que não condiz com tudo que a demografia abrange. Eu pessoalmente estava no aguardo de um bom anime josei há alguns anos, e não fiquei nada decepcionada. Josei é uma demografia que merece, sim, mais atenção em termos de adaptações para anime.
Pessoalmente, eu, Chell, só tenho a agradecer a série que me convenceu a apostar nela desde o primeiro momento. Por tudo: pelo revival da demografia josei, sim, mas também pelos ensinamentos, lições de cultura japonesa, lições sobre a natureza humana. Pela trilha sonora maravilhosa que eu não vou enjoar tão fácil. Também não vou esquecer tão fácil dessa série. Eu acho que ainda tem muita coisa a ser dita sobre o quão ótima essa série é, mas vou deixar para fazer uma resenha mais completa no final da segunda temporada. Por hora, só quero dizer muito obrigada e que venha mais!