Shoujo Shuumatsu Ryokou, ou simplesmente Girls Last Tour, é um anime da Temporada de Outono 2017, baseado em mangá homônimo de Tsukumizu, animado pelo estúdio WHITE FOX (Re: Zero) e dirigido por Takaharu Ozaki (Persona 5 the Animation – The Day Breakers).
Confira também: Devilman Crybaby | Review
O anime foi encerrado com 12 episódios de 23 minutos adaptando os quatro volumes do mangá que ainda está em publicação.
Dupla de Garotas num Mundo Distópico
Shoujo Shuumatsu Ryokou acompanha o dia a dia de uma dupla de garotas em um mundo distópico. A premissa do anime, por si só, já me chamou atenção quando anunciado. Diferente do que se espera com uma ambientação apocalíptica, porém, o anime tende a gêneros mais dramáticos e ao slice of life.
O interessante é que, comumente, o que me prende em um slice of life é a vasta gama de personagens carismáticos. Shoujo Shuumatsu Ryokou, por outro lado, arrisca em um elenco mínimo. A rigor, apenas Yuuri e Chito existem na história que acompanhamos.
Com tão poucos personagens, o anime tende a ser lento, cansativo, apático, principalmente contando com uma ambientação morta, em um mundo destruído. O cenário é inegavelmente bonito e deslumbrante, com as cidades acabadas, os escombros por todo o lado e o que restou de alguma civilização passada.
Entretanto, embora bonito, não enxergo “movimento” no ambiente (o que não é algo ruim, mas apenas uma característica, que torna — inevitavelmente — o anime tedioso, por muita das vezes).
Reflexões das Jovens Meninas
É natural do slice of life uma narrativa menos dinâmica e, nesse sentido, Shoujo Shuumatsu Ryokou não surpreende. Episodicamente o anime entrega histórias que se desenvolvem lentamente, com muitas falas e reflexões das jovens meninas acerca do mundo e do passado da humanidade.
Curiosamente, por mais que o anime seja lento (o que, repito, não é um defeito, mas apenas uma característica), os diálogos entre Yuuri e Chito sempre me prendiam com as ideias levantadas.
Debates sobre a vida, a morte, a religião, a amizade, a moral e a humanidade, dentre outros assuntos, me instigaram bastante ao tentar entender o ponto de vista das duas pequenas: Chito, a mais estudada e curiosa, sabe ler e entende a importância dos livros, ela preserva e admira o que restou da cultura humana. Suas opiniões sempre são mais racionais e centradas, não tão ingênuas e infantis.
Já Yuuri, mais astuta, é como a personificação do próprio instinto humano, sendo precisa com as sensações e com as necessidades imediatas. Suas opiniões sempre são mais diretas e objetivas, pouco importando conceitos relevantes para outras pessoas.
Revelando o Mundo
Um ponto que vale mencionar no anime, inclusive, é a forma que o mundo é descoberto por Chito e Yuuri. Acho interessante que Shoujo Shuumatsu Ryokou não fala ou concluí algo para as protagonistas, ou mesmo para os espectadores. Ele apenas apresenta conceitos, revela o mundo aos poucos e a medida que Yuuri e Chito vão explorando o universo, nós também vamos aprendendo e amadurecendo junto.
Nesse sentido, o anime torna-se apreciável, uma vez que também estamos, vagarosamente, descobrindo mais sobre o mundo e seus personagens. Aqui, a premissa show, don’t tell (ou seja: mostre, não fale) é bem executada.
Partindo do ponto que a melhor maneira de se experimentar uma história é através da ação, dos pensamentos e sentimentos dos personagens e acontecimentos reais no mundo, Shoujo Shuumatsu Ryokou é bem sucedido, pois não possui diálogos expositivos, tampouco um narrador externo que nos diz o que se passa no enredo. Por conta própria, juntamente com as protagonistas, nós descobrimos tudo sobre a história.
Aliás, a quantidade reduzida de personagens nos faz observar e apontar outros tópicos que comumente não fariam parte de um anime com um grande elenco. No caso de Shoujo Shuumatsu Ryokou, o próprio mistério que ronda o universo se torna parte presente da história, protagonizando ocasiões valorosas ao longo da animação. A ausência de tudo, por um lado, torna o anime mais lento, menos dinâmico, mas por outro, instiga os espectadores mais atentos a apreciarem o desconhecido.
Um Mapa Negro de Jogos?
Costumo pensar que o mundo de Shoujo Shuumatsu Ryokou é como um mapa negro de jogos onde a exploração é um ponto importante para o desenvolvimento do game/história. Aliás, alguns fãs, a medida em que o anime foi progredindo, fizeram um mapa para o mundo, registrando cada lugar conhecido por Yuuri e Chito (na wikia do anime tem os mapas).
Com uma pitada amarga de niilismo e existencialismo, as conversas corriqueiras e pontuais entre as protagonistas nos trazem novos temas a cada episódio. O conceito abordado em cada trecho do anime é sempre estampado por alguma palavra, dando significados (e ressignificados) para tudo, seja algo ou alguém.
Em um mundo completamente vazio, falta objetivo e sentido para a própria vida das protagonistas, o que constantemente é abordado em suas conversas de maneira sutil, nos levando a refletir sobre a relevância de tudo, desde nossa cultura até nossas crenças e necessidades.
No fim das contas, Shoujo Shuumatsu Ryokou é um anime que sabe o que fala, como fala e pra quem fala. Embora o design simples e menos realista possa enganar alguns espectadores desavisados, o anime trata com muita sobriedade assuntos profundos, fugindo do senso de aventura na jornada, preferindo caminhar por maiores possibilidades de descobertas e abordagens narrativas.
A Jornada Continua
Fugindo de spoilers, posso garantir que o final do anime é — no mínimo — satisfatório. Eu, particularmente, gostei bastante, pois esperava que muitas das perguntas sobre o mundo que cerca nossas protagonistas ficassem sem respostas, mas tudo é explicado. Embora não tenha um final exatamente fechado, uma vez que a jornada continua, pelo menos a história até ali está muito bem resolvida.
Shoujo Shuumatsu Ryokou é um anime com diversas peculiaridades, com a desvantagem de estar preso à progressão lenta dos slice of life, mas com muito conteúdo interessante e que vale a pena ser conferido. O curioso é que ao longo da Temporada de Outono 2017 flopei muitos animes que foram super recomendados (tipo Mahou Tsukai no Yome), mas Shoujo Shuumatsu Ryouko, que tinha tudo pra ser flopado, me segurou até o final.
De um jeito ou de outro, pra quem curte Slice of Life, vale a pena conferir Shoujo Shuumatsu Ryokou e suas nuances. É um anime interessante, profundo e muito rico em diversos aspectos.