Há filmes que nos deixam pensativos, nos instigam a questionar a realidade, a sociedade e até mesmo nossa própria existência. Resistência (The Creator) é um desses filmes, que nos leva a uma jornada repleta de desafios, reflexões e uma busca incansável por respostas.
Dirigido por Gareth Edwards (Rogue One: Uma História Star Wars), este filme nos oferece uma narrativa repleta de altos e (alguns) baixos, efeitos visuais estonteantes e um design de produção de tirar o fôlego. No entanto, sua complexidade e algumas soluções não tão bem trabalhadas em seu roteiro, aonde Chris Weitz divide com o diretor, impedem que ele alcance a perfeição.
A Complexidade da Resistência
Resistência nos apresenta a um futuro distópico no qual a humanidade está dividida entre o “controle” de uma inteligência artificial e o imperialismo norte-americano. Literalmente, o mundo foi dividido em dois, com o ocidente mais ou menos do jeito que a gente conhece – ou conhecerá no futuro – com a Nova Ásia, onde os humanos vivem em conjunto com a Inteligência Artificial. É um enredo que nos lembra, por não-coincidência, de filmes icônicos como Rogue One e Star Wars: Uma Nova Esperança, nos quais um grupo de rebeldes tenta desafiar um império aparentemente invencível.
No entanto, Resistência mergulha ainda mais fundo nas questões de liberdade e identidade. A história segue Joshua (John David Washington), um ex-agente das forças especiais que sofre com o desaparecimento de sua esposa Maya (Gemma Chan). À medida que ele luta para conseguir respostas sobre sua amada, uma criança, Alphie (Madeleine Yuna Voyles) surge em sua jornada, mudando completamente o rumo da sua vida e de como ele vê a realidade em sua volta – e até mesmo com relação a sua própria nação.
Com relação a sua originalidade, gosto de como os temas da evolução tecnológica são tratados, fugindo do ultra-tech e cyberpunk já bem abordados em hollywood, com algo mais próximo do retrofuturismo e até mesmo da saga de George Lucas, com robôs não muito inteligentes. A tecla Tomorrow/Today é visível por todo o longa, o que dá um certo pertencimento e imersão para o filme. Os 30+ se sentirão nostálgicos ao verem ORELHÕES!
Dentro disso, o escopo político tratado no longa é mais prático e próximo de nossa realidade que a de filmes como Blade Runner ou Minority Report. Um bônus: para quem busca outro filme que trata sobre IA, o último Missão Impossível dá uma outra visão bem interessante sobre o tema.
A Parte Técnica e o Design de Produção
O aspecto técnico de Resistência merece os maiores destaques e elogios. O filme é visualmente impressionante, com cenas harmônicas de CGI em planos abertos. Da mesma forma que a direção de arte e o design de produção transportam o espectador para esse mundo distópico, a direção de Edwards dança em sincronia para sua contação de história, repleta de cores opressoras, ora excusas para economizar CGI – acredito eu – e uma sensação constante de vigilância, de alerta, principalmente pelo tom mais escuro do filme. A fotografia é habilmente usada para criar atmosferas diferentes, desde a opressão sufocante das cidades futuristas até a liberdade efervescente da paisagem de Nova Ásia.
A trilha sonora, composta por uma mescla de temas clássicos, eletrônicos e rock setentista, complementando tons diversos da narrativa, intensificando as emoções dos personagens e dos momentos chave da história. Destaco a cena com Child In Time, do Deep Purple, uma das poucas mais engraçadas do filme!
Dentro desse mundo bem construído, há também um ótimo desenho de personagens, com uma variação de vestimentas, mix de culturas e tecnologias. O time de criação dentro deste aspecto foi muito feliz em trazer algo bem orgânico à telona, sem muitas explicações, sendo bem expositivo – mesmo. Destaco Kami (Veronica Ngo), que com pouco tempo de tela, ela se destaca com seu carisma estético.
Direção de Alto Nível e Atuações na Medida
O diretor de Resistência demonstra um talento notável em criar cenas visuais espetaculares e transmitir emoções profundas através da cinematografia. Sua visão artística é evidente em cada quadro do filme, e sua capacidade de contar uma história visualmente é inegável, repetindo seu feito de Rogue One.
Já na parte de atuações, Madeleine se destaca. Washington repete seu papel de brucutu instável, ora emocionalmente abatido, ora com sua força física. Agora, Ken Watanabe, interpretando uma espécie de líder, Harun, possui uma motivação notável e têm seu destaque. Afinal, qualquer filme com Watanabe, ele terá seu destaque, não é mesmo?
Soluções Nem Sempre Bem Trabalhadas
Embora Resistência aborde questões complexas de liberdade e controle, seu roteiro pode, em certos momentos, parecer confuso e caótico. O filme introduz uma série de personagens e subtramas que, embora adicionem profundidade à narrativa, podem dificultar o acompanhamento da história. Além disso, as motivações dos personagens secundários nem sempre são claras, o que torna difícil se conectar emocionalmente com eles.
A complexidade do enredo é tanto uma bênção quanto uma maldição. Por um lado, oferece uma experiência cinematográfica única e desafiadora, mas, por outro lado, pode afastar espectadores que buscam uma narrativa mais simples e direta. Não se engane, apesar do roteiro ser bem fechadinho, com começo e fim certeiro, há cenas desconexas, não tão bem costuradas com o Todo; o que dá a entender um problema de Montagem – talvez encurtar o filme para 2h15?
Outro desafio de Resistência é a resolução de suas questões. Embora o filme levante questões profundas sobre controle e revolta, as soluções encontradas nem sempre são tão satisfatórias quanto as perguntas apresentadas. Algumas reviravoltas podem parecer forçadas e não totalmente desenvolvidas, deixando o espectador com um gosto agridoce após o desfecho.
Conclusão, Clichês e Referências
Resistência (The Creator) é um filme que merece ser visto por sua ousadia e sua capacidade de nos fazer refletir sobre temas profundos. Sua parte técnica, incluindo design de produção e direção, é de alta qualidade e oferece uma experiência visual deslumbrante. No entanto, algumas soluções menos trabalhadas podem deixar alguns espectadores perplexos.
Não posso deixar de citar referências à saga Star Wars Episódio IV e sua incursão a Estrela da Morte, que no filme se trabalha com uma nave de destruição em massa chamada Nomad. E claro, com o clássico O Rapto do Menino Dourado, que não se prende apenas ao personagem principal e a criança, mas também com aspectos da mecânica da trama que não posso me adentrar por conta de spoilers.
Enfatizo que não há nenhum problema na utilização de referências, já que Resistência ainda é bem original. Com seus clichês bem utilizados, no fim, dá um gosto de nostalgia e homenagem, não de reaproveitamento. Ponto positivo para Edwards e seu time de produção.
Dito isso, é um filme que vale a pena assistir. uma jornada cinematográfica que, apesar de seus desafios, deixa uma impressão duradoura e nos lembra da importância de resistir à opressão, mesmo quando a liberdade está em jogo.