Sob o típico calor de um país tropical (desculpe o trocadilho) o Suco de Mangá entrevista Paulo Henrique Franqueira o criador do jogo Tropicalia. Durante a conversa, Paulo abordou a sua relação com jogos eletrônicos, os desafios que envolveram o desenvolvimento de Tropicalia, as principais influências e a estética visual do jogo.

Entrevista com o criador do jogo Tropicalia

É importante saber quem é a pessoa por trás dos códigos e pixels que vemos. Quem é você? Se apresente para o público do Suco de Mangá.

Me chamo Paulo Henrique Franqueira, sou um mineiro de 31 anos, apaixonado por jogos desde sempre, programador de profissão e agora dando os primeiros passos no ramo do gamedev.

Quando começou a sua relação com os jogos eletrônicos?

Numa viagem com a família pra praia o que mais me interessou foi o Super Nintendo do amiguinho do quarto ao lado, isso com uns 4 anos. De lá pra cá isso não mudou, a paixão por jogos. Aos 5 (anos), jogando DKC2, eu tive a epifania que queria trabalhar com isso!

A origem de Tropicalia

Durante a entrevista com o criador do jogo Tropicalia, ele contou que a ideia para o jogo nasceu de um meme.

Paulo Franqueira Tropicalia
Imagem Divulgação

Nele, eu percebi que a gente nunca tinha exportado a estética indígena, tupi guarani, cocar e cachimbo, oca de palha e etc. Fui para o RPG Maker porque era uma ferramenta que eu já dominava e resolvi extrair o máximo de lá.

Jogos de RPG clássicos influenciaram a criação do jogo, mas a paixão por um título recente também motivou Paulo a desenvolver Tropicalia.

Antes eu tinha a ideia de um jogo estilo Earthbound mas com a Turma da Mônica, mas aí Undertale aconteceu e roubou o lugar de “jogo indie inspirado em Earthbound”. Então, vi esse meme e num estalo descobri qual seria o tema do meu próximo jogo.

Estética

Um dos destaques de Tropicalia é seu visual e referências a itens e comidas tradicionais do Brasil, em especial a cultura tupi-guarani. O que te motivou a usar a mitologia tupi-guarani?

Quando eu percebi a falta de exportação dessa estética já sabia que conseguiria me destacar só aí. No meio do jogo eu fui descobrindo as problematizações com relação aos indígenas, como termos considerados racistas e etc, e até conversei com alguns indígenas pra guiar melhor o meu trabalho. O que me falaram foi: cuidado com o apagamento.

Você consultou algum especialista para construir os cenários, construções, vestes e outros costumes indígenas de forma fiel, dentro das liberdades artísticas que você tem, claro? Como foi o processo para esse aspecto do jogo?

Assim que comecei a trabalhar no jogo, eu procurei livros, filmes e artigos na internet pra me basear. Minha direção de arte foi muito baseada no Akira Toriyama, então peguei elementos como a arte plumária dos povos indígenas, e levei elas pra uma simplificação de design. Até porque, pra representar os personagens em 16bits, eu teria que criar coisas simplificadas mesmo, não daria pra representar toda a gama de pinturas corporais e etc num espaço pequeno. Então foquei nos elementos: tanga de algodão, cocar de plumas, e tinta nos olhos. Além de bastante corpo a mostra, dado nosso clima. Tentei fazer um comentário sobre esses corpos expostos, sem sexualizar e explorar eles, acho que tive um bom resultado mas sei que tem gente que discorda por aí.

Paulo Franqueira Tropicalia
Imagem Divulgação

Principais influências

O desenvolvedor buscou influências em clássicos títulos de RPG, mas também bebeu da fonte de algumas obras menos conhecidas.

Muitos e muitos jRPGs de 16bits. Mario RPG E Pokémon são referencias claras, algumas mais obscuras são Phantasy Star, Shining Force, Breath of Fire e Lufia 2.

Paulo Franqueira Tropicalia
Imagem Divulgação

Processo de produção

Quanto tempo demorou para o jogo estar pronto?

Comecei em janeiro de 2019. No fim do ano tinha uma versão grátis na GameJolt. No fim de 2020 tinha o Early Access pago na Steam. Em 2021 eu tive burnout e não desenvolvi nada. Em 28 de fevereiro de 2023 consegui lançar o jogo completo!

Durante o bate-papo, Paulo também contou sobre as dificuldades que enfrentou durante a produção.

GameDev é tipo matar uma hidra lentamente. Você corta uma cabeça fora e aparecem mais três. Chega uma hora que dá burnout. Não tem nenhum aspecto do jogo que foi MUITO desafiador, mas sim o aspecto de maratona gigante que é o desenvolvimento de um jogo que você quer caprichar nos detalhes.

Você esperava a recepção que Tropicalia teve?

Eu acho que consegui um belo trabalho nas redes sociais e principalmente no Twitter, em relação a engajamento, likes e ter meu jogo conhecido e comentado por pessoas grandes. Mas isso não se converteu em vendas, se for contar os 4 anos de trabalho, seria melhor eu estar num emprego de salário mínimo mesmo. Mas estou realizado artisticamente, com os comentários e a recepção do jogo, e acho que ele vai dar frutos ainda, na “cauda longa do investimento”, afinal foi ele que me deu fama, vamos ver o que o futuro vai trazer.

Futuro de Tropicalia e de Paulo

Falando em futuro, o que pensa daqui para frente?

Minha mente tá agora em arrumar um emprego formal de Dev, de preferencia pra fora pra ganhar em dólar, e fazer um pé de meia. Fazer jogo é uma aventura e agora to procurando mais estabilidade. Poderia fazer um jogo de micro-transações que é um investimento mais seguro, mas aí eu não tenho paixão pelo negócio. Meu coração agora tá com vontade de fazer um platformer 2D, mas dizem que vende mal na Steam então deixa eu me estabelecer financeiramente primeiro e depois eu tento algo assim haha.

Atualmente o jogo está disponível para Android e PC, veremos em outras plataformas?

Conversando com publisher pra levar ele pros consoles em breve!

Para as pessoas que desejam produzir de forma independente, que dica daria para iniciar?

Corra! Mas agora sério, a dica é sempre: reduza seu escopo. Faça do Early Access seu jogo completo. Quando uma publisher conversa com uma equipe novata, eles já esperam que o jogo vai demorar 3 vezes mais do que o time tá propondo, lembre-se disso.

Por fim, qual a importância de Tropicália para você e para o desenvolvimento de games nacional?

Eu acho que o jogo vai envelhecer bem e criar um legado, viu?! Ele preenche um espaço que os gamers brasileiros sentem falta: representatividade. Um herói shonen brasileiro. Um jogo competente que não demonstra vergonha nenhuma de ser brasileiro. Em 2019 quando eu comecei Tropicalia, dava pra contar nos dedos os cases de sucesso de jogos nacionais. Agora em 2023, já não dá mais, nesses 5 anos surgiu MUITA coisa boa, então não estou sozinho nessa. Mesmo assim, um jogo que tem o cuidado de ter um nome com uma leitura fácil tanto pra brasileiro quanto pra gringo sabe? Algo que carrega brasileiridade até no nome, bem, aí é Tropicalia o primeiro nome que vem na mente de muita gente por aí, e fico feliz com esse resultado!

Para saber mais sobre o jogo, leia Tropicalia | Review, escrito pelo Suco de Mangá.


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Paulo Franqueira Tropicalia
Divulgação: Paulo Franqueira | Tropicalia

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