Os Mercenários 4 chega às telonas de forma tímida, sem grande alarde na divulgação, quase 10 anos depois de Os Mercenários 3, o que pode ser explicado pela falta de inovação no roteiro. Afinal, porque retomar uma franquia que já estava perdendo o fôlego há quase uma década atrás e que já tinha sido uma trilogia de sucesso, bem finalizada?
Muito diziam sobre este filme ser a última chance da série, que precisava se reinventar para atrair o público mais jovem, mas se tem algo que esta quarta parte deixa bem claro é que não tem o propósito de fazer com o que Os Mercenários se torne uma franquia duradoura, onde o nome está acima do elenco, que vai mudando de geração em geração. Assim como em seus antecessores, neste há a adição de grandes nomes, como o rapper 50 Cent, o veterano Andy García e a musa de filmes de ação, Megan Fox, mas com exceção de García, que tem um papel de destaque, os outros não foram tão bem aproveitados. O foco continua no legado das velhas lendas dos anos 80.
O enredo também segue os padrões de seus veteranos, mudando apenas os personagens e lugares. Desta vez o grupo de mercenários é chamado para uma nova missão onde têm que capturar um poderoso traficante de armas que comanda um exército privado, porém, falham na primeira tentativa, na Líbia, por conta de um erro de Christmas (Statham), que desobedece os comandos do agora líder Marsh (García) e Barney (Stallone) morre. Em decorrência disso, Christmas logo é demitido e se torna o protagonista, pois ao ficar inconformado com a demissão, passa a trabalhar por conta própria e se infiltra na missão sozinho.
Nem é preciso dizer que ele é o grande herói que salva todo mundo depois, né? Aliás, a originalidade passou realmente longe deste longa. Uma das coisas em que ele mais peca, é na obviedade dos acontecimentos. É o vilão que está infiltrado na equipe e que é capturado no meio da trama, deixando na cara do expectador que ele é o traíra, e a morte forjada do protagonista mais amado pelo público (Stallone), que era lembrada de minuto a minuto para reforçar uma comoção onde era visível que se direcionaria para um retorno triunfal no final. Este plot twist, mesmo que fosse mantido, poderia ser feito de forma muito ousada e crativa, com algum diferencial crucial, para tornar o projeto icônico. Porém, ficou somente nisso. Talvez desse certo há 10 anos atrás, mas hoje em dia, já está batido e previsível demais.
A REPRESENTAÇÃO FEMININA EM OS MERCENÁRIOS 4
Se tem algo em que o filme também falhou em grande estilo, foi na representação feminina. Conhecemos duas novas personagens: Gina (Megan Fox) e Lash (Levy Tran), nova membro da equipe dos Mercenários, mas engana-se quem começa a assistir achando que elas virão para mostrar como que as mulheres também podem ser ótimas recrutas e cativar um novo público feminino, como aconteceu com a personagem Luna (Ronda Rousey) em Os Mercenários 3. de Pelo contrário, aqui tudo parece retroceder e elas estão o mais estereotipadas possível, sendo sempre provadas de que precisam dos homens para defendê-las e salvar suas vidas.
A mando de Marsh, Gina passa a comandar a equipe depois do afastamento de Christmas, com quem mantém um relacionamento amoroso (o qual rende uma cena hilária de sexo combinado com luta, inclusive) que acaba sendo seu maior destaque na trama, afinal, nenhuma de suas estratégias funciona, gerando escárnio e piadinhas entre seus companheiros, que a comparam o tempo inteiro com Barney, dando exemplos de como ele faria melhor, e a equipe sempre acaba presa em armadilhas ou sendo salva por Christmas. Não apenas elas, mas todo mundo parece não servir para nada, dando a entender que todos foram afetados pelo mal comando de uma mulher.
Lash tem poucas falas e poucas cenas, e em todas elas, é zombando do tamanho do órgão genital de Toll (Coulture), dando a entender que ela tem uma fixação por isso. No mínimo incômodo.
Sem contar as roupas de ambas, sempre de croppeds e calças apertadas destacando suas silhuetas. Em pleno 2023, sério? E enquanto os homens ganham arranhões e manchas de sangue no rosto após as cenas de luta, elas permanecem com cabelos e maquiagens intactos. Gina até mesmo aparece sem sutiã e com foco nos seus mamilos em uma cena, demonstrando uma escolha bem machista do diretor Scott Waugh, que pareceu pensar apenas em “como agradar o público masculino”.
PONTOS POSITIVOS
Conseguimos ver uma grande evolução dos efeitos especiais desde o primeiro filme, que foi lançado em 2010 e ainda utilizava muitos efeitos práticos para trazer um ar de nostalgia (e uma curiosa escolha por mostrar um sangue brilhoso, como se tivesse glitter). Neste, eles estão mistos. Claro, tem muita cena que seu tio olharia e falaria “Olha lá, vai começar a mentirada!”, afinal, ainda é um filme de ação onde a ação de fato é um dos ingredientes principais, mas a fotografia está mais nítida e bonita, o som mais limpo. Dariam até um ar mais realista para algumas cenas, se elas não fossem tão absurdas. A sequência da explosão no mar foi de tirar o fôlego, e ficaria incrível em 3D!
O ator Tony Jaa foi o grande bônus no quesito atuação. Ele brilha em tela com seu personagem Decha, um ex-mercenário que desistiu de levar a vida com violência, mas que volta para vingar a morte de Barney, quem sempre admirou e respeitou. Jaa é carismático em cena, trazendo toda a energia que o personagem exige.
Outro acerto é incluir algumas piadas sem forçá-las de forma maçante a toda hora, que nem no 3. Um bom exemplo é a procura de emprego que Christmas faz quando achava que sua carreira tinha acabado, onde ele se vê perdido pois nunca trabalhou em empregos “normais” e acaba escolhendo ser segurança de um influencer de internet, fazendo um paralelo com os dias atuais, talvez o único fator que não pareceu ter saído da última década. Outro exemplo é quando tocam a música do 50 cent em um momento inusitado, um recurso também batido de easter egg, mas que ainda funciona. O cinema inteiro ri nessa hora!
DESFECHO
Os Mercenários 4 serve para mostrar que a franquia não morreu, e que vai agradar os amantes de cenas frenéticas de tiros, explosões, pancadaria e destruição total, mas que também não faz diferença no mar de filmes de ação e super-heróis que estão sendo lançados hoje em dia, com ideias muito mais originais e cativantes. Precisa melhorar muito e se atualizar se quiser se tornar memorável novamente. Isto se é que teremos um próximo.