Vamos falar de mais um lançamento imperdível da Pipoca & Nanquim, novamente do Junji Ito, o mestre do horror japonês. Assim, o intitulado Mortos de Amor recém chegou na editora, mas está desde 2011 em circulação no Japão.

Sendo esta mais uma coletânea do mangaká, Mortos de Amor traz seis histórias que falam sobre morte, espíritos e sofrimento. Diferentemente do Dismorfos, a primeira história desse mangá é bem mais comprida e as outras oscilam de tamanho. De qualquer forma, sabemos que se tratando de Junji Ito podemos ler duas ou duzentas páginas, o autor sabe contar uma boa história.

Então, sem mais delongas, vamos falar sobre mais uma coletânea do horror japonês.

Mortos de Amor e seus mimos

Primeiro, eu não podia deixar de falar da surpresa que tive quando abri o mangá. Além do tradicional marcador de páginas que a Pipoca & Nanquim entrega, Mortos de Amor veio com quatro cards colecionáveis, com personagens do Junji Ito.

Mortos de Amor Junji Ito
Pipoca & Nanquim | Foto: Suco de Mangá

O design e acabamento deles são maravilhosos, realmente muito bonitos. Quando abri o mangá não estava esperando encontrar algo tão caprichado assim e me senti realmente presenteada.

Além disso, o volume também vem com sobrecapa que quando retirada revela as ilustrações da capa. Eu amei a sensação de ver a arte da sobrecapa elegante, sedutora e encontrar um desenho gore por baixo.

Esses fatores junto do cheirinho gostoso de mangá novo me deram a melhor das primeiras impressões. Agora, vamos falar das histórias apaixonadas e mórbidas do autor.

Mortos de Amor Junji Ito
Pipoca & Nanquim | Foto: Suco de Mangá

O Belo Garoto da Encruzilhada

A história que abre Mortos de Amor se passa em uma cidade pacata no interior do Japão, que todos os dias fica coberta por uma densa e pesada neblina. Depois de anos morando fora, Ryusuke, um garoto do colegial, retorna a essa cidade com sua família. No entanto, assim que pisa os pés lá ele se sente atormentado pelo seu passado.

Além da neblina, outro acontecimento é muito comum na cidade: as pessoas ficam em encruzilhadas esperando a primeira pessoa passar, e pedir que elas leiam a sua sorte. Nada de cartas, leitura de mãos ou tarot, você faz a pergunta para a pessoa e ela responde o que vier à cabeça. Muito confiável…

Ryusuke sabe os perigos e consequências que essas leituras podem ter, mas não consegue se afastar delas. Para piorar, um suposto garoto alto, misterioso e lindo de morrer anda percorrendo as encruzilhadas e fazendo leituras de sorte que ocasionam no suicídio das garotas. Assim, perturbado com a dura semelhança da atualidade com seu passado, Ryusuke tenta parar o garoto da encruzilhada. No entanto, ele não esperava teria que lidar com tantos cadáveres apaixonados na neblina sombria.

Mortos de Amor Junji Ito
Pipoca & Nanquim | Foto: Suco de Mangá

Estava quase lá

Vamos começar falando que essa é uma história envolvente e chocante, que Junji Ito soube criar uma atmosfera de suspense e apreensão como só ele faz. Não apenas o enredo, mas os traços dos personagens, os desenhos, tudo nos deixa desconfortáveis e ansiosos para ler mais.

Além disso, é um bom exemplo da complexidade das relações humanas e de como somos influenciados por opiniões alheias. Os personagens são complexos e bem construídos, ponto muito positivo pra história.

No entanto, o final me fez amolecer um pouco. No clímax, no momento de “agora vai”, de tudo será resolvido… o mangá acaba. Eu folheei os capítulos seguintes procurando os nós das pontas soltas até me convencer que acabou ali mesmo. No fim, toda a história empolgante, a qualidade do suspense ficaram meio escondidos no sentimento de “acabou??”.

Mortos de Amor Junji Ito
Pipoca & Nanquim | Foto: Suco de Mangá

É uma história boa, ela ocupa mais da metade do mangá, mas não gostei do final. De qualquer forma, te dou a missão de ler e pensar se eu tenho razão ou se fui eu que não entendi direito a intenção de Junji Ito.

O Belo Garoto de Branco

Então, esse conto se passa nessa mesma cidade, no mesmo período de tempo e mesmo contexto da história anterior, mas mostra um ponto de vista diferente. Agora, seguimos um homem que vai para essa cidade logo após “A Noite dos Gritos”, o ápice do terror do garoto da encruzilhada.

O homem percebe o clima na cidade, vê familiares das vítimas desesperados por uma leitura de sorte positiva e também encontra os espectros atormentados das garotas mortas. Então, ele próprio, afogado em seu desespero, encontra nas encruzilhadas o Garoto de Branco. Um espectro de luz que dá mensagens de esperança para as pessoas, como uma força antagônica do belo garoto da encruzilhada.

Mortos de Amor Junji Ito
Pipoca & Nanquim | Foto: Suco de Mangá

Essa é quase uma continuação da história anterior, o que achei positivo, pois deixa mais claro o que aconteceu. Além disso, foi mais uma oportunidade de Junji Ito brincar com nosso estômago, mostrando desenhos asquerosos e medonhos.

Os Bizarros Irmãos Hikizuri

Caso você já tenha visto o anime Histórias Macabras do Japão já deve estar familiarizado com os Irmãos Hikizuri. Por outro lado, se você ainda não viu a série, os Hikizuri são seis irmãos órfãos que vivem numa mansão sinistra e destoam do padrão de pessoas comuns e equilibradas. Eles são mórbidos, atormentados, desregulados e grosseiros.

Em Mortos de Amor, eles aparecem em dois contos: O Namorado da Filha do Meio e A Sessão Mediúnica — o mesmo do episódio do anime.

Mortos de Amor Junji Ito
Pipoca & Nanquim | Foto: Suco de Mangá

Assim, o primeiro conto gira em torno de Narumi, que constantemente tenta cometer suicídio, e seu namorado. Depois de passar dias e dias na casa do garoto, ela acaba voltando pra casa e para a relação pouco saudável com os irmãos. No entanto, depois de atear fogo em si mesma, seu namorado é atormentado pelos cunhados.

Já o conto da Sessão Mediúnica mostra mais da relação problemática dos irmãos e da vontade da filha mais nova de ver os falecidos pais. Então, buscando realizar esse desejo, os irmãos decidem fazer uma sessão espírita para contatar o pai e a mãe, e convidam uma fotógrafa de espíritos para participar. As coisas não saem bem como esperado, mas eles conseguem o que queriam.

Mortos de Amor Junji Ito
Pipoca & Nanquim | Foto: Suco de Mangá

Sobre as histórias, elas são incômodas e até meio nojentas, mas é legal ver uma família meio Família Addams totalmente desregulada e sem um pingo de empatia.

Outros contos de Mortos de Amor

Ao contrário dos outros, os últimos três contos de Mortos de Amor são mais curtinhos. A Mansão da Dor Fantasma gira em torno de um rapaz que vai trabalhar em uma mansão para ajudar a amenizar a dor do garotinho que vive ali. No entanto, a dor que ele sente está espalhada pela casa e parece absorver todas as outras, fazendo com que os funcionários não percebem nem mesmo quando estão à beira da morte.

Mortos de Amor Junji Ito
Pipoca & Nanquim | Foto: Suco de Mangá

Em seguida, A Mulher das Costelas traz novamente uma crítica sobre a busca pela beleza, tópico já frequente nas histórias de Junji Ito. Uma garota quer remover algumas costelas para se sentir mais bonita, até que começa a ouvir uma melodia fantasmagórica e torturante. Ao seguir o som, ela encontra uma mulher estranha que toca um instrumento que parece com uma costela humana.

Mortos de Amor Junji Ito
Pipoca & Nanquim | Foto: Suco de Mangá

Por último, Memórias de um Cocô Realista é simples, rápida e genial. Um garoto vai a uma feira e encontra uma barraquinha que vende um cocô de brinquedo super-realista. Tentado a comprar o cocô de brinquedo, o garoto deve superar os preconceitos.

Veredito

Finalmente, vamos ao que interessa. Como já falei, a primeira história é maravilhosa, mas o final é meio morno. Os Irmãos Hikizuri compõe uma história legal, o que torna desagradável e curioso de ler. Eu gostei dos contos dos irmãos, mesmo que não sejam muito marcantes, assim como acontece com a história da mansão. Já A Mulher das Costelas eu gostei muito, tem um toque crítico misturado com o terror e suspense que prendem o leitor. Porém, Memórias de um Cocô Realista conquistou meu coração pela simplicidade, que torna a história tão original e única.

Portanto, eu diria que Mortos de Amor não é a maior obra prima de Junji Ito, mas tem o seu valor. Em quesito de histórias, Dismorfos me agradou mais, mas em fantasmas e gore essa aqui entrega mais conteúdo. Portanto, eu diria que vale a pena sim, só não vá com muita sede ao pote. Além disso, o que ajudou a nota é graças à Pipoca & Nanquim que mais uma vez acertou na qualidade e com os cards, que são um presente impagável.

Mortos de Amor Junji Ito
Pipoca & Nanquim | Foto: Suco de Mangá

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Por isso, se aconchegue com sua paixão, pois logo vocês estarão Mortos de Amor! Também, fique ligado aqui no Suco porque logo traremos o Review de Contos Esmagadores, outro lançamento da Editora do mestre do horror!

REVIEW
Mortos de Amor
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Jaqueline
Um pouco avoada, a doida das teorias da conspiração e leitora compulsiva do Nome do Vento. Adoro escrever sobre aleatoriedades, observar a natureza e ser engraçadinha em momentos impróprios, afinal esse é meu jeito ninja de ser.
mortos-de-amor-reviewUm amor inocente desencadeia um inferno sangrento em outra coletânea soberba do mestre do horror Junji Ito!Ryusuke e sua família retornam para a cidade onde ele viveu sua infância, um lugar quase sempre encoberto por uma densa neblina e marcado por uma estranha tradição: seus habitantes gostam de ler a sorte com estranhos em encruzilhadas. Mal ele chega e começam a circular rumores sobre garotas que estão se matando por causa de um jovem encantador que perambula em meio a névoa lendo a sorte dos outros, o “Garoto da Encruzilhada”. Escondendo um segredo sinistro do tempo em que passou na cidade antigamente, Ryusuke agora vai tentar capturar o garoto e encerrar esse caso, porém...Composta de cinco capítulos tão cativantes quanto perturbadores, a história Mortos de Amor, que abre este volume, foi contemplada com um Prêmio Eisner em 2022, na ocasião de sua publicação nos Estados Unidos, e adaptada para filme live-action em 2001. Originalmente, saiu em 1996, época em que o autor estava escrevendo seu nome na História dos mangás de terror, dentro da revista Nemuki, da editora Asahi Sonorama (atual Asahi Shimbun), e ganhou uma quinta e última parte em 2001, para a satisfação dos fãs.Esta edição encadernada, elaborada no Japão em 2011, reúne ainda mais cinco contos inéditos no Brasil, dois deles protagonizados pelos bizarros irmãos Hizikuri, totalizando dez histórias de Junji Ito em sua melhor forma.A edição nacional tem o típico acabamento de luxo da editora Pipoca & Nanquim, com papel pólen bold de alta gramatura, miolo com acabamento colado e costurado (para garantir o melhor manuseio das páginas), sobrecapa com verniz localizado, e vem acompanhada de um marcador de página e 4 CARDS EXCLUSIVOS, que compõem uma belíssima coleção de cartas estampando os principais personagens do autor.