Honestamente, o livro Mentirosos, de E. Lockhart é mais uma prova de que fama não é qualidade. Eu realmente gostaria de chegar aqui e escrever uma bela crítica ressaltando a escrita poética da autora. Mas um livro é feito de muito mais do que beleza. É paixão, curiosidade e descoberta. Então, confesso que terei que me esforçar para ter o que escrever, porque não é bom nem ruim o suficiente para me inspirar a elogiar ou reclamar.
Mentirosos é um livro que com certeza promete. A sinopse nos captura pela curiosidade, pelo mistério, pelo suspense. Quem não adora um drama familiar, não é verdade? E esse “Casos de família”, na prática, é o verdadeiro foco de atenção da narrativa. Isso nos leva ao fato de que a sinopse é um tanto ilusória, e quem vai atrás de mistérios, de certo modo, se decepciona. As relações parentais, quem são “Os Sinclairs”, competem o tempo inteiro com o mistério sobre o acidente de Cadence. Claro, isso não deixa de ser importante, até porque a presença da personagem na ilha gira em torno desse suspense.
Insosso: sem sal, nem tempero…
Eu levei uma eternidade para terminar o livro. Apesar de evocar o suspense, a história é extremamente lenta e tediosa. Costumo pensar que a leitura desse livro me fez perder meu bem mais precioso: meu tempo.
Normalmente, tanto o enredo quanto os personagens, quando estão em harmonia, sustentam a boa qualidade de uma história. Nesse caso, tanto um quanto outro são tediosos. A protagonista, que parece uma ameba de tão sem graça, não perde para nenhum outro personagem. Todos são igualmente tediosos. Ninguém se salva.
A relação amorosa entre Cadence e Gat é pouquíssimo convincente. Você tem dificuldade de compreender as atitudes de quase todos os primos. O único núcleo familiar minimamente interessante é do patriarca Sinclair e suas filhas. No máximo. E isso nem é tão bem explorado quanto poderia, o que até justificável, já que não é (e é?!) o foco da história.
Uma escrita poética (e irônica)
Com o tempo, eu aprendi a apreciar o efeito e a qualidade de uma escrita poética para uma história. Talvez esse seja um dos únicos pontos positivos do livro. A autora se utiliza de muitas metáforas e jogos de palavras, com sarcasmos sutis e escolhas inteligentes de narração.
No entanto, como eu disse lá no começo, nem só de beleza é feito um livro. Por mais provavelmente intencionais que sejam, os diálogos curtos quebram toda a fluidez causada pelos aspectos poéticos incluídos pela autora. Os diálogos muito curtos e superficiais anulam toda e qualquer chance de profundidade.
Com a própria verossimilhança sendo anulada nessas ocasiões, a ausência de naturalidade causada pela superficialização das conversas (e dos eventos em geral) acaba sempre içando o leitor de uma imersão verdadeira na história. É quase como se, o tempo inteiro, houvesse um lembrete da ficcionalidade do livro, o que, acredite, não é interessante mesmo para livros ficcionais.
Um plot twist (?) previsível (não contém spoiler)
Não é possível que vinte páginas salvem outras 250. Não se engane. O fato da parte 5, “A verdade”, fechar todas as pontas soltas, os estrago deixado por Mentirosos em seu caminho não conseguem ser apagados.
Dizer que não gostei é mentira, porque fez sentido e era perfeitamente justificável, dado todos os acontecimentos. Mas foi também previsível. Não é como se existissem muitos caminhos a serem tomados pela autora na conclusão do livro, e alguns dos episódios do final pode mexer com nosso senso moral.
Mentirosos – Considerações finais
No fim, é isso. Nada de mais. Nada que valha a fama, nada que valha a leitura.