Representação sobre questões psicológicas não é uma novidade na arte. Podemos encontrar no cinema, na TV ou literatura. Video games também tem seus representantes, e uma deliciosa surpresa vem do estúdio brasileiro Smart Studio. Memories of the Fireflies, um 2D platformer com estética voxel que apresenta o enfrentamento de traumas do passado enquanto o player passa por desafios e monstros em uma atmosfera sombria.
Lidar com nossos problemas psicológicos não é uma tarefa fácil. No momento em que adentramos a nossa mente começa uma longa viagem, cheia de altos e baixos. O game trabalha de forma parecida, onde podemos acompanhar a protagonista em uma atmosfera sombria, utilizando cores neutras que servem de plano de fundo para que o player pense em seus próprios problemas. Não seria novidade escutar de alguém “já tive essa sensação também.”
Com um roteiro simples o game se apoia totalmente em outras características para retratar uma viagem pela psique humana. A mecânica do jogo, que guardado as devidas proporções lembra a de Hellblade: Senua’s Sacrifice limita-se a andar, agachar para se esconder, correr e escorregar. Mas o mais importante está em como o jogo utiliza do símbolo do cristal para representar o enfrentamento dos puzzles.
Não sei quantos de vocês já estiveram em um consultório frente a frente à um profissional de psicologia, mas a sensação é parecida com a do jogo. As vezes precisamos correr, as vezes nos esconder, mas inevitavelmente, enfrentar.
O trabalho sonoro do game também é marcante, principalmente nas partes de stealth onde não se pode deixar que os fantasmas te encontrem. O som causa inquietação e geram a necessidade de sair logo dali, o que inevitavelmente causa em morte dentro do game.
Os puzzles do jogo não são tão complexos, o que pode ser decepcionante para players que buscam uma dificuldade alta, mas o que mais incomoda são os controles. Hora são exatos, hora imprecisos, gerando frustação em determinados momentos.
Os checkpoints no game também geram algumas dúvidas quanto ao seu posicionamento. Em alguns momentos são perfeitos, salvando no momento exato, em outros obrigam o player a andar por enormes trechos que não representam riscos e/ou não tem uma gameplay interessante. Existe uma inconsistência nessa escolha.
A produção do Smart Studio mostra a força da produção nacional lidando com cuidado excepcional em um tema tão complexo como a mente humana e entregando uma experiência, mesmo com seus poréns, interessante e abrindo campo para que o player viaje dentro dele mesmo.