O Suco de Mangá teve a oportunidade de entrevistar um grande nome da dublagem brasileira que deu voz a personagem Ellie, de The Last of Us Part II. Vale lembrar também que Luiza Caspary foi a narradora de Child of Light (saiba mais AQUI), a Elena em Uncharted 3 e a Faith em Far Cry 5.
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No papo da vez, abordamos assuntos de seus gostos pessoais, experiências na dublagem e muito de seu processo e trabalho com a franquia da Naughty Dog. Sem mais delongas, vamos ao que interessa!
“Padrões são grandes prisões e causam muita crise na humanidade, é libertador um jogo trazer isso à tona.”
Quem é Luiza Caspary?
Uma caixinha de surpresas, já que não consigo me encaixar em uma específica. Me expresso através da voz e ganho a vida assim, cantando, dublando, localizando jogos, gravando locuções, compondo pra outros artistas… sinto a vida pulsando em tudo o que faço.
Quando começou o seu interesse e convívio com os games?
Eu tive uma infância bem simples e fui ter acesso a tecnologia tarde, quando pequena eu jogava no PS da minha prima com ela e minha irmã: Crash, Tomb Raider, Mortal Kombat, entre outros… Já na adolescência jogava Diablo escondida, de madrugada, enquanto todos em casa dormiam…
Antes de dar voz a Ellie, você já tinha feito alguns trabalhos de dublagem, certo? Qual deles mais te marcou anteriormente?
Antes de dar voz a Ellie, eu trabalhei com algumas animações independentes, fiz dublagem pra publicidade e muuuuuita locução. O trabalho mais engraçado desses foi dublar a Gisele Bünchen em espanhol para uma campanha de Pantene na América Latina.
[Nota do Editor]: Depois, em 2014, Luiza deu voz a narradora/contadora de histórias em Child of Light. Saiba mais AQUI.
Como foi o processo antes da confirmação como dubladora em português da Ellie?
Eu fui chamada pro teste de voz do The Last Of Us I, funciona assim:
A gente recebe um direcionamento sobre a personagem e um pouco da história, tem acesso a poucas imagens e vai pro estúdio gravar, é tudo na hora. Nos guiamos apenas pelo áudio original e script, então eu escuto a Ashley no fone e em seguida repito a frase na mesma intenção, em português.
Fui embora e fiquei esperando entrarem em contato pra dizerem se fui aprovada.
Onde estava e qual foi a sua reação ao receber a notícia de que faria voz da personagem?
Eu tava em outro trabalho quando me ligaram dizendo que eu tinha sido aprovada, fiquei muito feliz! Tinha certeza que seria um desafio e eu aprenderia muito com isso, porém, não fazia ideia da proporção que o jogo tomaria!
Já no The Last Of Us Part II, os meninos do estúdio Maximal me fizeram surpresa, me chamaram pra ir gravar e não avisaram o que era o projeto, quando eu cheguei lá tava todo mundo com uma carinha que estavam escondendo um segredo, sabe? Aí me contaram e dali, já fomos pro estúdio olhar o material e começar os trabalhos de gravação.
O que mais te chamou a atenção na personagem? Você se identifica com a Ellie em quais pontos?
Eu gosto da Ellie, cara! A gente tem muita coisa em comum. Ela é irreverente e espontânea, fala muito palavrão, é forte e corajosa, eu amo isso e me identifico, já sobre o ódio e vingança… isso são sensações que busco não alimentar na minha vida.
Qual a parte do jogo que mais te marcou durante o processo?
Nossa, a cena das girafas é surreal, eu tenho um registro meu muito parecido com praticamente a mesma idade, quando estive no zoológico com meu tio Ernesto, que é praticamente o Joel na minha vida.
A outra cena é a final, que é uma cena tensa e que deixou brecha e mistério para o Part II.
Como foi trabalhar com Luiz Carlos Persy? As gravações foram feitas em conjunto como na dublagem original ou separadas?
Os projetos de jogos não se gravam em conjunto, cada ator em uma cabine, com um diretor e técnico de áudio junto. Ou seja, eu e Percy não gravamos juntos, inclusive eu ainda não o conheço pessoalmente, quero muito!
Como foi a recepção dos fãs depois da finalização do projeto?
Surreal, amorosa e acolhedora, só tenho gratidão!
Uma coisa muito falada no jogo original é o beijo entre Ellie e Riley. Qual a importância dessa cena para os games, visto que ainda é um meio bastante preconceituoso?
Ellie e Rilley no I, Ellie e Dina no Part II, é muito importante trazer a realidade pros jogos, a comunidade LGBTQIA+ merece cada vez mais protagonismo, o preconceito precisa ser vencido com o amor. Esses beijos tem papel fundamental na mudança de mentalidade de uma geração.
Sobre o segundo game. Houve muita especulação sobre uma sequência. Desde quando você sabia que a Naughty Dog trabalhava nele?
Desde que saiu o Trailer com Through The Valley anos atrás ficou claro que teria uma continuação… eu torcia muito pra continuar fazendo a personagem mas não sou eu que decido nada, só me restava esperar ser chamada, ou não…
Desde quando a dublagem brasileira do jogo estava sendo feita?
Não lembro ao certo, mas creio que da minha parte, fiquei um ano ou mais envolvida com as gravações desse projeto.
Qual a sua opinião sobre o caminho que a narrativa do jogo levou ao apresentar personagens que fogem do estereótipo que muitos gamers esperavam?
Incrível, padrões são grandes prisões e causam muita crise na humanidade, é libertador um jogo trazer isso à tona.
Qual a cena mais marcante para você, tanto no jogo quanto no processo de gravação?
Sem dúvida a cena da morte do Joel… eu fiquei muito mal, me envolvi muito, terminei fraca e chorando muito, fiquei o dia todo estranha, mesmo depois de ir embora do estúdio.
O jogo é um sucesso de venda e crítica, mas isso não impediu que muitos usuários protestassem contra o game. Qual a sua opinião sobre esse protesto/preconceito?
Antes de qualquer opinião, há um fato: todos que se incomodam ao ver personagens de mesmo gênero ou fora do padrão se relacionando, precisam entender que a questão não é a cena, mas o incômodo que sentem… isso que precisa ser curado, de dentro pra fora. Isso é reflexo da intolerância que há no mundo e de tanta violência.
Eu não sofri ataques mas sei que as atrizes originais sim.
E sobre as críticas em relação ao roteiro e como a história de desenrolou… sinto que foi tudo tão surpreendente e fora do padrão que algumas pessoas não absorveram, The Last of Us é muito mais profundo, traz questões humanas e mexe com o nosso íntimo.
Esse jogo é para os fortes.
O SUCO agradece a Luiza pela atenção e ter aceito este convite para mais um Suco Entrevista tão especial! Acompanhe também o trabalho dela com as novidades em seu Instagram e no SITE OFICIAL.
*Foto de capa: Renata Monteiro.